A Justiça das Cavernas...
Evidente que cada país tem sua lei e seus costumes e, em razão do direito internacional e da soberania desses países, nenhum estrangeiro pode interferir nos assuntos internos de uma Nação, a não ser pelos meios diplomáticos e ou pelas vias indiretas, através da repercussão da política internacional, no sentido de que algum caso polêmico que se restrinja aos assuntos internos de um Governo transborde para o campo da perplexidade em face da peculiaridade do caso e isso se transforme em notícia fluente no mundo inteiro. Esse fenômeno alcançou patamares altíssimos no mundo globalizado e especialmente pelo surgimento do mundo virtual que, através da internet, faz as notícias circularem como um raio.
Assim, o mundo se escancara no que diz respeito à evolução dos costumes da civilização como um todo, demonstrando que alguns países ainda vivem a época da 'pedra lascada', porque não conseguiram evoluir no que diz respeito aos direitos humanos, conservando Governos ditadores e leis absurdas que protegem o varão e denigrem e escravizam a mulher, a tal ponto destas serem alvo de regimes estapafúrdios como é o caso dos recentes casamentos de 'marmanjos' com crianças (meninas) de 10 a 12 anos de idade ocorridos da Índia.
Presenciamos recentemente o fiasco da equipe da Coréia do Norte na última Copa do Mundo. O fiasco a que me refiro não está vinculado à performance dos seus jogadores, até porque dita seleção não tinha as mínimas condições de enfrentar selecionados com jogadores de renome internacional. O vexame ficou por conta do regime ditatorial implementado pela dinastia Kim Jong-il, que dirige o país a 'ferro e fogo'. No primeiro jogo da Coréia do Norte, a redes televisivas mostraram uma torcida fria e imprópria para a condição de torcedor. Essa frieza de comportamento levou a imprensa a pesquisar tais torcedores, constatando-se que era atores chineses contratados pelo Governo ditatorial na tentativa de demonstrar para o mundo que o país permitiu a saída de seu povo para prestigiar a Copa do Mundo. O episódio desdobrou-se na última semana e a própria Fifa investiga possíveis retaliações ao elenco coreano, em face da derrota humilhante para Portugal (7 X 0). O Governo liberou a transmissão desse jogo e o povo viu o desastre; daí a reação do governo norte coreano.
Agora os holofotes se acendem no mundo dos absurdos para mostrar ao Globo uma nefasta condenação. A iraniana Sakineh foi condenada à morte, por apedrejamento, porque teria cometido adultério. Fosse prevalecer essa regra no Brasil, os chamados "chifres" aplicados na relação monogâmica, estariam banidos das fofocas sociais, pois duvido que alguma mulher carente fosse buscar relações extraconjugais. O que para nós é apenas um conflito conjugal para eles é um crime que leva à morte. Entretanto, o curioso é que a condenação não se restringe só o fato de ter havido adultério. Ocorre que dita mulher - conforme as notícias extra oficiais - está envolvida na morte do seu marido. Esta semana a rede televisiva do Irã abriu precedentes para permitir que tal mulher se manifestasse ao vivo em um canal estatal. Entretanto, todos dizem que se trata de uma forma coercitiva de confissão para que o Governo não fique tão exposto no mundo global. Entretanto, o que nos causa perplexidade é a exposição de um fato secundário como principal. Ou melhor, o governo iraniano demonstra, à toda evidência, que o crime mais grave é o adultério e não a morte do marido (crime secundário). E o pior: Será que os maridos que cometem adultério também são submetidos ao mesmo tipo de condenação? Não sei responder, porque nunca ouvi a notícia de condenação de um homem iraniano por adultério.
A par de tais acontecimentos, nós brasileiros temos de admitir que nossas questões sociais, políticas e estruturais são coisas irrelevantes quando a cotejamos com situações externas que mostram a selvageria incontida daqueles que fazem frente ao destino de uma Nação. Pelo menos aqui temos liberdade de expressão, muita embora às vezes ainda nos sentimos um pouco tolhidos para dizer a verdade. Mas, mesmo assim, ainda podemos escolher nosso destino e viver a vida que imaginamos ou que planejamos; coisas que aos olhos de muitos irmãos estrangeiros são sonhos que ainda ficam dentro da imaginação