EXIGÊNCIAS ÉTICAS
Quando se inicia mais uma campanha política vale a pena perguntar por alguns caminhos e princípios que deveriam nortear qualquer atividade política. É o tempo em que os candidatos, com discursos sofísticos, procuram convencer os cidadãos a se tornarem seus eleitores.
Em toda campanha política está em jogo a conquista do poder. E onde o poder deve ser conquistado ou preservado frequentemente ressurge Maquiavel, para quem o “fim justifica os meios”. E o “fim”, o objetivo, que está em jogo é o poder. Por isto, maquiavelicamente deve-se estar disposto a cometer pecado para não perder as eleições, pois, em política, “perder é feio”. Também Voltaire é relembrado, quando aconselhava: “menti, menti, que alguma coisa fica”. É claro, que o povo, que não se previne criticamente frente aos maquiavélicos e voltaireanos, será ludibriado por candidatos indignos de sua vocação política. Em toda competição há ganhadores e perdedores. E na democracia, certamente, não é feio perder com honra. Feio, abominável e execrável é ganhar as eleições com fraude, corrupção e mentira. Deixar-se comprar ou ludibriar por falsas promessas não é isto renunciar à dignidade humana?
Após estes considerandos, é bom se perguntar pelo nível ético de mais esta campanha eleitoral de nossa democracia. Em princípio, comícios e demais propagandas eleitorais são ótima oportunidade para a conscientização popular. O próprio fato de termos campanha política e eleições deve ser visto como positivo, pois demonstra que não estamos sob regime de força. E entre tantos candidatos sempre há aqueles que realmente se engajam pelo ideal do bem do povo. Não é justo qualificar a todos os políticos de aproveitadores e corruptos. Mas entre tantos candidatos há também aqueles que apostam na imbecilidade do povo. Prometem mundos e fundos, apresentando-se como salvadores da pátria. Durante a campanha são capazes de se sujarem na lama, de se comoverem com a miséria, de visitarem o ambiente sub-humano das favelas e palafitas. Alguns, de adeptos da repressão e da tortura, se transformam em defensores dos direitos humanos. Outros, ainda, se apresentam como “pais dos pobres”, quando ainda são herdeiros de fortunas reunidas com o sangue do trabalho escravo, de antigamente e de hoje.
É ocasião de perguntar a muitos dos atuais candidatos, que já partilharam o poder em outras gestões, por que no rico Brasil ainda existe tanta miséria? Quanto lutaram pela justiça social, contra a corrupção e as desigualdades?
Em cada eleição corremos novamente o risco de escolhermos os nossos próprios opressores e nos sujeitarmos voluntariamente à servidão. A história de todas as eleições nos ensina que muitos candidatos não conseguem afirmar-se com programas políticos próprios, por isto a única forma de se fazerem notar é criticando os outros candidatos. Não se afirmam pelo que são, mas pelo que julgam que os outros não foram. Para estes, naturalmente, é feio perder.
Dentro de justas exigências éticas, é de esperar que a campanha política dos próximos meses seja conduzida por pessoas honestas e dignas, sem as costumeiras baixarias. Claro, não queremos eleger moralistas, nem “santos”, contudo, numa política humanizadora, não pode predominar a lei da selva, onde um subjuga o outro pela humilhação. O desejo a alimentar é que sejam eleitos os melhores para o bem comum de todos os brasileiros. E que o objetivo primeiro dos eleitos seja zelar pela dignidade humana de todos os cidadãos, daqueles que lhes deram o voto e de todos que participaram do ritual eletivo democrático. Assim, junto com seus políticos, o povo se sentirá bem em sua pátria.
Inácio Strieder é Professor de Filosofia - Recife-PE.