As entrelinhas de um artigo escrito por uma pessoa que nunca passou por nem um tipo de privação, fome ou necessidade.
Realmente.
Em um país em que desde sua “fundação” as pessoas nunca tiveram qualquer tipo de oportunidade, o Bolsa Família é um divisor de águas. Divisor este que nos prejudicou e prejudica.
Não, não vamos considerar os milhões de pessoas que saíram da miséria, isso é irrelevante.
Ter três refeições por dia não é assim o máximo, eu sempre tive e para mim é bem normal, bem trivial, como... como... Como arroz e feijão, trivialíssimo.
Por que esses simplórios se encantam assim com uma coisa tão banal como essa?
Nós que trabalhamos arduamente sabemos como é duro ganhar nosso “panem nostrum cotidianum”, bem sabemos.
Nossa parte do bolo, que agora cresce sem precedentes, é que está sendo dividida com essa gentalha.
Estão com fome? São miseráveis? Problema deles, eles que trabalhem, que façam como eu que trabalho e pago meus impostos.
O governo que os qualifique para o trabalho, pois esse negócio de fome não é coisa urgente não. Isso é coisa que dá para esperar. Afinal já estão passando fome a tanto tempo, não é?
Mais algumas poucas gerações de privação não os matará. Eles são uns preguiçosos! Isso é que esse povinho é, uns preguiçosos! Usam o Bolsa Família para comprar pinga!
O Brasil está crescendo bastante, logo eles terão a parte deles é só ter paciência. O errado é ter que dividir o que é nosso com esse tipo de gente.
Temos que ganhar a vida com trabalho, papai sempre dizia isso.
Eles não têm qualificação para o trabalho? Ora, acredito que daqui uns trinta anos o ensino fundamental no Brasil será outro.
Então essa gente terá sua oportunidade. Eles não podem esperar um pouco não?
Esse povinho pode muito bem esperar, pode sim.
Esses impostos crescentes, esse barbudo sem dedo, quem ele pensa que é?
Nem inglês sabe falar, não tem faculdade, é um burro mesmo, um burro!
O que me importa se milhões de pessoas saíram de miséria? O que importa? O que me importa se essas pessoas hoje têm o que comer? Qual é a virtude de um país que de devedor passa a credor?
Eu é que bem sei o quanto trabalho para bancar esse monte de vagabundos!
Comida na mesa nunca me faltou, graças a Deus.
Graças a Deus e a papai que sempre deu um duro danado para nos sustentar, bem diferentemente desses preguiçosos que recebem esse tal Bolsa Família.
Bolsa Família, cotas para negros na universidade, ProUni, Fome Zero...
Tudo isso para mim não significa nada. Sempre consegui as melhores vagas nas melhores universidades. Sempre por mérito.
É certo que nunca me faltou comida na mesa e também nunca precisei trabalhar quando criança ou adolescente. Também freqüentei boas escolas particulares; papai acreditava numa educação de qualidade e também podia pagar por isso.
E vovô também era um homem estruturado, veio da Europa e construiu fortuna aqui, é claro, com muito trabalho.
Na verdade, eu penso assim:
Se a pessoa não tem aptidão para o trabalho, se não consegue se adaptar ao mundo tal qual ele é, então que pereça. Não é assim que é na natureza? Os mais fortes sobrevivem e os fracos são extintos?
Assim deve ser entre nós também, os mais fracos, os que não têm qualificação para o trabalho, que pereçam, que desapareçam.
O que não pode continuar é nós que trabalhamos ficarmos bancando esse Bolsa Família para que as pessoas saiam da miséria, isso é que não pode.
Se são miseráveis, então que trabalhem, que façam como eu! Que catem papelão na rua, latinha de alumínio, que se virem, o problema não é meu.