Pense neles, mas não chore por eles!

As eleições deste ano para a escolha do substituto de Lula pode começar de fato com a figura que foi depurada de seu partido (PSB) como se não tivesse valor algum, Ciro Gomes, o “primeiro coringa”. O paulista que as pessoas imaginam ser cearense tem hoje 53 anos e é bacharel em Direito pela UFCE; Ciro foi casado com a Senadora Patrícia Saboya e atualmente está casado com a atriz Patrícia Pilar. Foi dirigente estudantil numa chapa de direita na década de 70 e ingressou ainda muito jovem no PDS, antigo partido aliado do Governo Militar. Foi deputado pela legenda de direita e até então não era tão conhecido, nem mesmo em seu Estado por adoção.

Na década de 80, vendo que a mudança sopraria forte na política brasileira, mudou de lado e ingressou no partido contrário, o PMDB; com a morte de Tancredo e a reviravolta política o visionário Ciro Gomes ingressou anos mais tarde no PSDB, partido de FHC; foi com os Tucanos que Ciro se elegeu Prefeito de Fortaleza. Na primeira eleição direta pós-ditadura Ciro apoiou Covas em primeiro turno e Lula no segundo; tornou-se Governador do Ceará e Ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco.

Mais uma vez tendo aguçado o senso de visão futurista, prevendo um conflito entre seu partido e a oposição, resolveu sair do PSDB para ingressar no PPS, que reeditou a legenda do extinto Partido Comunista do Brasil. Foi candidato a Presidência da República e obteve perto de oito milhões de votos, sendo o terceiro mais votado na primeira eleição de FHC. Durante a segunda eleição de FHC ele foi mais uma vez candidato e desta vez ampliou a margem para pouco mais de 10 milhões de votos, mas amargou um quarto lugar.

Saiu do PPS para o PSB devido a discórdias internas e durante os sete anos que se manteve na legenda se elegeu Deputado Federal e foi mais uma vez Ministro de Estado, desta vez do Governo Lula. Salvou o PSB da degola por causa da Cláusula de Barreira, após ser o Deputado Federal mais votado do Brasil. Viu seu irmão ser eleito Governador do Ceará e quando tudo parecia bem, teve que defender Lula abertamente depois do escândalo do mensalão.

Ciro Gomes construiu uma carreira nos últimos anos focando diretamente a Presidência da República e acreditou tanto que isso seria possível que as únicas duas barreiras em seus planos seriam Lula e seu próprio partido; ele cria piamente que Lula jamais faria nada contrário ao seu nome, primeiro porque ele sempre o bajulou e depois, porque seu nome era o mais forte para a primeira campanha, não sendo possível apenas para salvar seu partido; trocando em miúdos, Ciro tinha o queijo e a faca!

Ninguém imaginava apenas que ele fosse degustar de um queijo podre e uma faca cega; sem tempo hábil para trocar de partido o PSB se vendeu ao Planalto para apoiar Dilma e impediu que Ciro concorresse; Lula por sua vez, apoiou Dilma, porque além de controlado por ela e a turma do PT, não confia em Ciro. A amizade de Lula com Ciro Gomes somente foi tenra e feliz enquanto ele, o Lula, precisou do apoio de Gomes, e vice versa!

Agora Ciro Gomes, injustiçado duplamente, pode ser o fiel da balança na briga entre Dilma Rousseff e José Serra; e no meio desta farinha de bolo murcho ainda pode ter outro personagem, uma também ex ministra de Lula, Marina Silva, que ao contrário de Ciro, concorrerá ao cargo mais alto do Brasil.

Se observarmos as pérolas que Ciro Gomes metralhou Lula somente neste ano, teremos uma única certeza, que estas eleições poderão pegar fogo em vários rabos e faltarão bombeiros para poder apagar tanta chama! "Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz"; "Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos"; “Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não agüenta. Serra tem mais chances de conseguir". Palavras de Ciro Gomes a imprensa brasileira!

Na outra ponta dos desafetos recentes da traição de Lula está a “companheira” Marina Silva, o “às de copas”; acreana de 52 anos é ambientalista e pedagoga. Teve infância sofrida, não muito diferente da maioria de seu povo; chegou a fase adulta como analfabeta e foi por alguns anos empregada doméstica. Das poucas oportunidades que a vida lhe deu, ela aproveitou a primeira e mais importante, que foi se educar, ao contrário de seu “mui amigo Lula”; ingressou na Universidade Federal do Acre após passar pelo antigo MOBRAL (programa de alfabetização acelerada do Governo Militar para adultos). Formou-se em história e ainda cedo ficou conhecendo a pirataria da política brasileira através de um braço do PT.

Professora, líder sindical e amiga de Chico Mendes, Marina Silva ajudou a fundar a CUT e se candidatou ao Congresso em 1985, mas não conseguiu eleger-se. Em 88 foi vereadora em Rio Branco, sendo a única de esquerda e combateu as mordomias do Legislativo, quando ainda o PT crescia por esta vereda, caso contrário de hoje! Ganhou muitos inimigos, mas o povão sofrido também soube apoiar os ideais da líder sindical. Elegeu-se deputada estadual e em seguida Senadora da República. Em 2003 aceitou convite de Lula para exercer a pasta do Meio Ambiente e antes mesmo de esquentar a cadeira, Marina teve os primeiros conflitos com Dilma Rousseff devido aos interesses econômicos de Dilma na pasta das Minas e Energias.

Sem poder, nem voz, nem voto dentro do Planalto, marina foi atropelada pela turma do “bate carteira” do Partido dos Trabalhadores e seu final de carreira como Ministra ocorreu em 2008, quando voltou a ocupar uma vaga no Senado. Em retribuição a amizade e ao companheirismo de tantos anos de Marina, Lula mandou ver em mais uma de suas pérolas: “O importante é que tenha alguém isento para tocar este plano. A Marina não é isenta, o Stephanes não é isento. Por isso será o Mangabeira Unger.” Lula se referia a quem tocaria o Plano Amazônia Sustentável, o PAS, que tanto ela havia “brigado” para que saísse do papel!

Lula havia dado uma patada na cara de mais uma pessoa séria e importante que havia lhe apoiado em todas as horas ruins de seus dois Governos; mais uma vez as pessoas sérias foram trocadas pelo interesse político de sustentação no Congresso e Marina não era importante neste processo. No Brasil, ser serena, sensata, séria e incorruptível, não cola nos planos do Partido dos Trabalhadores, muito menos nos planos de Governo de Dilma Rousseff.

Nos palanques da vida, Marina evita falar sobre o desafeto com Dilma; fala pouco dos feitos de Lula e deixa um vazio enorme na hora de citar José Serra numa provável aliança de segundo turno das eleições. Seu partido, o Verde, sempre teve tudo a ver com o PT, mas depois da saída de Fernando Gabeira, também por dissabores com Lula, a coisa tá mais para tucano do que para trabalhadores.

O “segundo coringa” também vem do Nordeste e está em silêncio há alguns anos; trata-se de Heloisa Helena, professora, enfermeira e política profissional com 47 anos hoje; uma das fundadoras do Psol e também ex-aliada de Lula. Esteve ativamente nos movimentos políticos do PT nas Alagoas na década de 90 fazendo oposição ferrenha a Fernando Collor de Mello. Depois de lutas internas contra decisões de seu ex-partido, foi expulsa e passou a atacar tudo e todos que não fossem do Psol, inclusive o ex-amigo, e “mui amigo”, Lula.

Foi candidata a Presidência da República no último pleito obtendo 6% da votação final e ficando a frente de partidos tradicionais como o PDT. Têm aliados barulhentos no Congresso e como assecla principal Luciana Genro, filha de Tasso, que é amigo de Lula e candidato ao Governo do Rio Grande do Sul. Muito embora os líderes de seu partido apóiem a permanência de Cesare Batisti, o italiano terrorista, no Brasil, ela consegue fazer muito barulho no cenário nacional e poderá ajudar a decidir a próxima eleição se Serra tiver tecnicamente empatado com Dilma. Atualmente é Vereadora em exercício por Maceió e candidata ao Senado por Alagoas, forma mais concreta de voltar ao Poder nacional sem riscos. No Senado, tem vaga garantida por oito anos de pode voltar a esbravejar na imprensa para angariar seguidores.

O “ás de espadas” atende pelo nome de Dilma Rousseff; mineira de nascimento e cidadã do mundo; tem 63 anos e é economista. Nascida de família rica, muito jovem foi simpatizante da luta armada; foi acusada de ter matado pessoas com as próprias mãos e de ter assaltado residências e bancos; foi presa por quase dois anos e segundo ela, foi torturada pelos militares brasileiros. Ajudou a fundar o PDT de Brizola e em 2001 filiou-se ao PT.

Foi Ministra de Estado em duas pastas do Governo Lula; primeiro foi das Minas e Energias e depois se instalou ao lado de Lula na Casa Civil, de onde só se ausentou por conta dos impedimentos legais para poder se candidatar a Presidência da República.

Dilma é uma espécie de cão de guarda de Lula; fez o papel de xerife do Planalto e ajudou a costurar os melhores acordos e a esconder os piores escândalos. Ninguém sabe ao certo se é fiel a Lula ou se o manipula, mas de uma coisa todos sabem, o Presidente se pela de medo dela e a respeita até embaixo d’água.

É a candidata a Presidente pelo PT com o apoio irrestrito, ou quase isso, do PMDB, o “ás de paus” que indicou seu vice (Michel Temer). Michel Temer não possui expressão alguma no cenário nacional, inerente ao cargo que ocupará caso eleito, mas seu partido é um dos grandes movimentadores de políticos em todo Brasil. O PMDB tem de tudo, de indiciados pela justiça a gente de valor (raro) e isso, num país como o Brasil, possui um enorme valor!

Esperando o fogo esquentar a água para cozinhar o galo está o “ás de ouro”, que atende pelo nome de José Serra; paulistano, economista de 68 anos, filho de imigrante italiano semi-analfabeto; teve infância dura e sofrida. Teve uma vida na juventude como a maioria dos brasileiros, sem oportunidade de crescimento. Buscou na Escola politécnica uma chance de ganhar dinheiro com o curso de engenharia. Fez teatro e foi militante estudantil na década de 60. Esteve ao lado de Getúlio Vargas, João Goulart e Tenório Cavalcante, o homem da capa preta.

Após o Golpe de 64 sofreu sérias intervenções e foi caçado pelos militares; refugiou-se na Embaixada da Bolívia; exilou-se na Bolívia e França; voltou ao Brasil clandestinamente e foi preso. Mais uma vez exilou-se e desta vez no Chile, onde fez amizade com FHC e casou-se com a bailarina Sylvia Allende; foi professor para economistas em um organismo da ONU; ajudou no Chile a refugiar inocentes de outro golpe militar, o de Pinochet; mais uma vez preso, exilou-se na Embaixada da Itália, quando recebeu salvo conduto e foi morar nos EUA onde fez seu segundo mestrado e um doutorado na Universidade de Cornell.

Em 1977 retornou ao Brasil sendo um dos poucos a retornar antes da Lei da Anistia; em 1983 finalmente conseguiu o primeiro cargo político quando foi Secretário de Estado de Franco Montoro. Eleito mesmo só para a Constituinte de 88 e em seguida reeleito. Depois foi Senador por São Paulo. Foi Ministro do Planejamento e da Saúde em dois Governos. Prefeito e Governador de São Paulo e candidato derrotado em uma eleição presidencial.

José Serra é do PSDB, mesmo partido de Fernando Henrique Cardoso e outras águias da política nacional; irá encarar agora em 2010 uma dura batalha contra a máquina Lula e a “ás de espadas”. O Governo não medirá esforços para derrotá-lo e esta tarefa será na base do “custe o que custar”, morra quem morrer, mas o páreo é duro!

O povo acostumou-se a fanfarrice de Lula, que, aliás, traduz-se muito pela cara de muitos brasileiros e o estilo de José Serra é outro totalmente diferente. Se o pleito for para o segundo turno e ele, Serra for disputar com Dilma a vaga do Planalto, pode ser que tenha por aliados Ciro Gomes e Marina Silva, caso nada ocorra de anormal até lá; já a vereadora Heloisa Helena, se permanecer com o mesmo discurso anterior, liberará imediatamente a liderança do partido para apoiar quem quiser, mas ela própria está mais interessada na sua vaga do Senado do que em outra coisa.

Outros nomes independentes surgirão na disputa da cadeira de Lula, mas dificilmente outro nome encostará-se a estes três presidenciáveis; um deles será o próximo Presidente do Brasil para os próximos quatro anos; resta-nos saber se será um economista, uma ambientalista ou Dilma Rousseff.

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 17/06/2010
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