O mamulengo, e o relógio - a melancolia bizonha do fim de mandato de Lula.
O mamulengo e o relógio - a melancolia bizonha do fim de mandato de Lula.
"Vai ser a primeira eleição, desde que voltou (sic) as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula. E, para que esse vazio seja preenchido, eu mudei de nome e vou colocar Dilma lá na cédula. E aí as pessoas vão votar. Por isso, companheira, eu quero que Deus te abençoe e te dê força, cabeça fria, e saiba que você tem um companheiro para a hora que precisar." Esta fala é de Lula, o presidente da república que está concluindo o seu segundo mandato consecutivo, durante a convenção do Partido dos Trabalhadores PT*, que referendou a candidatura de Dilma Russeff à Presidência da República.
Como se vê, Lula fez questão de lembrar aos presentes e ao país, que Dilma não é uma candidata autônoma. Pelo contrário, não passa de um mamulengo pelo qual ele pretende estender o seu mandato.
Com efeito, Lula não perde uma ocasião para, a pretexto de pedir votos para sua candidata, depois de ressaltar suas quialidades, "informar" ao leitor que ela não passa de um pau mandado, colocando na mente do eleitor, uma suspeita ou dúvida justificada sobre o produto que o presidente de honra do PT quer vender.
O eleitor médio, já afirmei aqui, é um bicho tímido (cujo imaginação e desejos as pesquisas eleitorais não conseguem enxergar) e orgulhoso do voto - e compreende perfeitamente sua importância e valor....
Pois, é - já que a aventura da estúpida política externa (cujo ápice foi o apoio incondicional ao governo de pária do presidente Mahmud Ahmadinejad, do Irã), traçada para guindá-lo a um cargo importante na ONU naufragou em mares do oriente próximo, Lula imagina que pode levar a Sra. Russeff à vitória e, depois, fazer-se seu ventríloquo, por mais quatro anos, para que ele possa seguir na sua loquaz e folgada fantasia de grande homem e influente político...
Mas, com estes arroubos, o atual presidente da república, que passou oito anos de mandato saltando de um palanque para outro, apresentando discursos cheios de velhas novidades e projetos revolucionários que não duravam mais que uma semana (isto é, o tempo de proganda em torno dele - exemplo: biodiesel - isto é, etanol), nos quais transpareciam sua recusa em assumir-se governante e, portanto, "situação", aqui e lá fora, indica a sua dificuldade de afastar-se do poder e dos delírios e vantagens que ele proporciona. E nesse sentido, parece cada vez mais ridículo.
De fato, de todas as cachaças conhecidas, a vodka do poder é a mais inebriante, especialmente naqueles casos em que o exercício do poder administrativo goza das franquias de uma imprensa majoritariamente "a favor" e, em que a oposição não tem coragem, disposição ou força bastante para contrastar o governante de plantão.
Como disse Cazuza, o tempo não para (na mesma letra, ele também fez referência a "um museu de grandes novidades", falando do de forma algo lamentosa sobre as teses socialistas, depois da queda do muro de Berlim).
Enquanto escrevo, confiro o marcador: faltam apenas 200 (duzentos) dias, 11 (onze) horas e 8 (oito) minutos para acabar o mandato do atual presidente da República. Parafraseando a "velha da casa da ponte", penso: que refrigério!
Depois disso, só mesmo a eleição de um mamulengo para viabilizar seu projeto de sobrevida política - pois, no caso da eleição de um oposicionista, não faltará munição para erodir sua figura e seu governo, com um simples acesso ao sistema "SIAFI", onde estão os dados relativos à execução orçamentária e financeira do governo federal e, a imprensa "a favor", como se sabe, a despeito dos clubinhos petistas da redações, terá novas "prioridades". E se este opositor for Serra - o candidato mais às esquerdas desta eleição presidencial, a coisa vai ser difícil, pois ele não é do tipo que leva desaforo e basófias para casa.
Se Lula diz que Dilma não é Russeff, então, talvez seja o caso dela assumir isso logo, numa boa, até porque, nas vezes em que tentou demonstrar autonomia, só falou besteira, como foram os exemplos do que disse em relação a Trancredo Neves e a tentativa de forçar o voto "Dilmásia”, em Minas Gerais e, a comparação do aborto com dor de dente.
Pra ficar mais adequada a quem diz ser o seu ventríloquo, pode cortar o cabelo mais curto e, pintar de branco, além de colocar uma barba postiça da mesma cor, e relaxar na postura em público. Para pegar o sotaque, pode se inspirar nos vídeos do falecido Bussunda e do Chaolin, imitando o presidente da república.
Mas, para aprender a dizer tolices "discursando e andando" com ar professoral pelo palco como se estivesse numa carroceria de caminhão na porta de uma fábrica, vai ter de prestar atenção no chefe - ou ventríloquo, como queiram...
* O PT, está bem claro na coligação feita para estas eleições, é aquele partido político que se diz moralista e de "esquerda", e que, para cumprir o seu papel revolucionário em favor dos trabalhadores, se alia com gente dita de "direita", iguais à família Sarney, Collor de Mello, Renan Calheiros, Romero Jucá, Gedell Vieira, Paulo Maluf, Anthony Garotinho e outras figuras do mesmo naipe, cujas histórias e carreiras políticas estão pontuadas por práticas patrimonialistas, imorais, ilegais e, cavalarmente lesivas aos cofres públicos e às instituições políticas do país.
E isso aí - e não aquilo que dizem ser.