Quem decifra o eleitor? De eleição presidencial, referendo e pesquisas eleitorais.

Quem decifra o eleitor? De eleição presidencial, referendo e pesquisas eleitorais.

Dias atrás, alguns diretores de institutos de pesquisa vieram a público, para declarar os supostos erros de Serra em sua campanha e, anunciar a possibilidade de Dilma vencer as eleições, talvez no primeiro turno. Ibope e Datafolha ficaram fora dessa "declaração de inteção de pesquisa eleitoral" - algo tão inédito quanto tosco.

Veio em seguida a divulgação de uma pesquisa da Sensus (cujo diretor fazia parte da turma de que fale acima), demonstrando um empate técnico entre Dilma e Serra. Mas, havia um problema: a entidade que supostamente encomendou a pesquisa, não existia. E quem foi atrás dos dados tabulados, não os encontrou.

Agora veio uma pesquisa da Datafolha. Deu Serra liderando a intenção de votos para Presidente da República e, demonstrando, uma vez mais que, se Ciro Gomes estiver fora do páreo, o tucano pode vencer já no primeiro turno.

E motivos não faltam, como pretendo demonstrar.

Já disse isso num artigo anterior, mas gostaria de relembrar: a maioria dos eleitores não são filiados ao PSDB ou ao PT.

O mesmo eleitor que votou em FHC em duas eleições seguidas, votou em Lula, depois, por duas vezes. E, agora, vai escolher com autonomia em quem votar novamente, para Presidente da República.

Muita gente gostaria de estabelecer uma espécie de tira-teima do eleitor sobre os governos de FHC e Lula. Outros, entretanto, prefeririam colocar um cabresto no eleitor para que ele fosse obrigado a consultar a Lula sobre em que votar, na eleição.

Vão esperando! Eleitor, também já disse aqui, é um ser conciente do seu valor do seu voto e, de sua participação nas eleições. Ele sabe que sabe que, na hora de votar, o negócio é com ele. Mas, depois do voto, ele não tem dúvidas de que é o candidato eleito, e não ele, quem está vinculado à obrigação assumida com o voto recebido.

Eleitor, além do mais, é um ser difícil de decifrar.

Intenção de voto não quer dizer exatamente voto. O eleitor pensa e sente. Talvez não saiba expressar isso claramente, mas ele é um ser de seu tempo. Seu voto é resultado do que percebe, pensa e, enfim, projeta, em termos de desejo.

Pelo que se vê das pesquisas, o eleitor não está nem aí com essa com esse negócio de referendar ou não o governo de Lula. A prova, muito simples, é o percentual de votos apontados para Ciro Gomes, que é da base eleitoral do atual governo.

Vale repetir: o eleitor não é petista, nem tucano, mas sabe muito bem da importância do seu voto - e, dele para a o nosso sistema de governo. Por isso mesmo, não abre mão do seu direito de escolher livre e democraticamente o seu Presidente da República.

Um dia, ele achou que o "cara" era FHC. Depois disso, entendeu que deveria eleger Lula - e elegeu. E agora vai eleger seu sucessor, de acordo com o Brasil que ele enxerga, sente e, sei lá, deseja, agora.

Daí, que os candidatos terão de estar de acordo com este sentimento difícil de apurar - mas presente na mente do eleitor médio, que é, evidentemete, aquele cujo voto decide todas as eleições.

Como é que o eleitor se sente em relação ao Brasil (num sentido amplo), agora? Como é que ele se vê inserido dentro de tal realidade? Como é que ele imagina o país, projetando-o para o futuro? E o que ele espera disso, em termos coletivos e pessoais?

Se eu não estiver enganado, essa inferência do eleitor em relação à realidade influencia tanto quanto os resultados obtidos pelos governos, do memor município até a União.

(E de escândalos, nem falo, porque se fosse o caso o eleitor nem votaria - todavia, não é o que se vê a cada eleição. A despeito da multiplicação dos escândalos, das baixarias e da demonstração da pequenês de boa parte dos políticos, os eleitores comparecem às urnas. Se não apostam muito no caráter ou nas intenções e objetivos dos políticos, depositam nas urnas sua fé inabalável no futuro do país.)

O que foi feito em determinado mandato ou administração pode ter sido importante - ou não. Mas, não significa que congelou a visão, as vontades ou as expectativas do eleitor.

Muitos políticos ainda não entenderam, mas o eleitor tem por conceito que eficiência e honestidade no governo éo mínimo que ele espera. Agora, se o Administrador Público vai além, talvez ganhe pontos junto a ele. Mas, disto não resulta exatamente vinculação de voto, porque outros fatores estão envolvidos - inclusive, capacidade de comunicação, carisma...

O candidato que não se afinar com o sentimento, o imaginário e desejo dos eleitores, nem reconhecer nele o voto autônomo, terá sua candidatura fadada ao... fracasso!

A pesquisa eleitoral serve apenas como ferramenta de inferência e não, de indução de voto.

Muita gente já dormiu eleito, confiando em pesquisa eleitoral, e acordou derrotado. Dois Exemplos: FHC disputando a prefeitura de São Paulo contra Jânio Quadros e, Iris Rezende, disputando o governo do Estado de Goiás contra o então desconhecido Marconi Perillo.

A impressionante popularidade de Lula tem há ver, em primeiro lugar como bem disso FHC numa entrevista ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, com o seu carisma e com o fato de ter herdado um ambiente favorável do governo que o precedeu, em termos de controle das contas públicas, modernização do estado e saneamento do mercado financeiro, etc, o qual teve a sabedoria para preservar, a despeio da pressão e crítics de seu partido. A Questão é, se esta popularidade pode resultar em transferência de votos.

Nas eleições municipais, ficou demonstrado que não. Todavia, na eleição presidencial, a coisa é diferente. Eu creio na transferência de votos, numa situação assim. Mas, tenho a impressão que o percentual de transferência de votos para Dilma é este que está aí - menos de 30% por cento dos votos, conforme indicam as pesquisas.

Lula já fez de tudo para promover Dilma Russeff, colocando toda a máquina de propaganda e favores do Estado para promovê-la, mas não conseguiu fazê-la disparar na frente das pesquisas, como era de se esperar. E problema não é dele, mas da escolha que fez...

Por que Lula escolheu Dilma Russeff para ser sua candidata à sucessão? Ora, pelo simple fato de que não tem dentro do PT algum político de peso que não esteja metido em algum rolo ou, queimado junto à opinião pública. Só isso.

A Dilma Russeff falta tudo o que sobra em Lula - carisma, simpatia bonachona, malandragem e, especialmente jogo de cintura. Junto aum eleitorado mais esclarecido, se tiver sua vida esquadrinhada, pode passar como fraude - tal é o caso do mestrado e doutorado, que anuncia no currículo, mas não tem.

Basta acompanhar Dilma nas performances em que se apresentou sozinha, para verificar seu tipo arrogante, mandão e impaciente - isto cada um dos eleitores veem em seu olhar, seus gestos e postura.

E, se o eleitor não aceita cabresto, também tem alguma dificuldade com tipos antipáticos. Ou estou enganado, leitor?

José Serra tem um vitorioso currículum para mostrar - e há ali até cerejas mais populares, do tipo seguro desemprego e genéricos. em termos de competência administrativa e peito para enfrentar adversidades, tem o governo de São Paulo como vitrine. Além disso, seu nome ficou na memória do eleitor, pois já disputou a eleição presidencial com Lula. Não é pouco.

Um perrengue que José Serra enfrentou na eleição presidencial de 2002, consistente na cristianização de sua candidatura pelo PSDB além das fronteiras paulistas, ao que parece, não ocorrerá agora, pois os tucanos aos poucos vão percebendo a mancada de não enfrentar com dignidade e coragem a disputa do poder com o PT, um partido de natureza hegemônica, que não admite a alternância e composição do poder em torno de metas e projetos.

Sim, José Serra foi cristianizado. Da mesma forma que Alckmin. Explicações? Me parecem difíceis. Mas, ao menos em Goiás, pude conferir isso de perto, indagando a gnte do staff de campanha dos tucanos sobre o apoio e a invocação da candidatura dele em palanque, quando apenas respondiam - "Ah, isso aí é pra deixar quieto!". Sim, eu ouvi isso diversas vezes, em duas campanhas presidenciais diferentes, aqui em Goiás, de gente "de denro" da campanha que o negócio era deixar rolar o voto para o candidato a presidente concorrente!

Numa campanha política pode acontecer de tudo: tudo dar certo, até as coisas mais fortuítas ou inesperadas ou, tudo dar errado - até o que deveria dar certo.

Para Serra, tudo parece dar certo e, acontecer na hora prevista. três exemplos:

- choveu uma barbaridade em São Paulo e, a imprensa paulista e brasileira tentou debitar a conta do fato a ele e, não, a São Pedro. O que ocorreu depois? A chuva se estendeu a outros Estados e, então todos viram o que é o efeito e a tragédia da chuva excessiva.

- O movimento sindical dos professores de São Paulo, ligados à CUT (braço sindical do PT) tentou promover um movimento para queimar o ex-govenador paulista, de forma a enfraquecer o seu potencial, no lançamento da candidatura. Serra não baixou a crista e a opinião pública ficou ao seu lado.

- A imprensa e o PT tentaram apartar Aécio Neves, exgovernador de Minas Gerais - também pré-candidato à presidência da república pelo PSDB e, jogar o eleitor mineiro contra a candidatura do ex-governador paulista. Fechando o processo, Dilma foi a Minas Gerais e falou em voto infiel para o eleitor mineiro - algo assim: "voto local para os tucanos e voto à presidente para mim...". A resposta foi fulminante. Aécio foi à festa de lançamento da candidatura de Serra, emprestou-lhe apoio e chamou o PT às falas...

E quanto a Dilma, tudo parece dar errado. Senão, vejamos:

- Lula a batizou de "Rainha do PAC" e o PAC empacou em 11% de execução efetiva.

- Dilma garantiu que não haveria apagão de energia elétrica e ocorreu logo em seguida o pior apagão da história do país.

- A candidata de Lula foi a Minas Gerais falar em infidelidade de voto e, só conseguiu despertar a ira do eleitor mineiro e os brios do PSDB local.

- Russeff tentou atacar Serra referindo-se à sua suposta falta de coragem para enfrentar a ditadura militar (Serra era "cabra marcado para morrer" no Brasil e, quando fugiu para o Chile, pediram que o prendessem e eliminassem por lá - destino do qual escapou por sorte) e, viu seus próprios colegas de partido e campanha criticá-la, pois muitos de seus companheiros de armas se exilaram, também.

Mas, volto ao ponto de partida: o que decide a eleição não é somente o pontencial e o carisma do candidato, a condução correta de uma campanha política, os recursos colocacos em movimento, a eficiência da atuação da militância ou, a contagem do voto ideológico.

Quem decide a eleição é o eleitor médio - como eu e você, hipotético leitor, a partir de inferencias, desejos, projeções e vontade.

Vai levar a presidência da república o candidato que estiver no "tempo" do eleitor, por assim dizer.

O resto, é rosnado de militancia política agressiva e ignorante, que gasta o tempo de sua vida acariciando o próprio ego e acalentando seus projetos adolescentes e autoritários de poder, dedicando-se ao lançamento diário de vituperias proto-políticas, nas áreas de comentários das noticias, na Internet!