O espetáculo do pré-sal

Seria muito feliz e promissor, se não fosse trágico, destrutivo e incoerente - vejam que estou falando, nada mais nada menos, da incrível descoberta subterrânea de um enorme depósito de petróleo, perto das costas brasileiras, que está enaltecendo o ufanismo do povo tupiniquim para além da racionalidade. A mobilização nacional em torno desse mega-acontecimento já criou problemas com os governos de diversos estados brasileiros, que estão querendo garantir o seu devido quinhão no rendimento da exploração do petróleo, porque a sua origem encontra-se em mares dos seus territórios. Por outro lado, o pré-sal está servindo de espetáculo eleiçoeiro do Governo Federal, com declarações demagógicas, tais como: “Através do desenvolvimento do pré-sal, o povo brasileiro mais pobre passará a ter mais educação e assistência” – acho desnecessário fazer comentários - essa afirmação é um acinte à nossa inteligência.

O que se sabe é que ainda não se sabe a real quantidade do “ouro negro” que se encontra por lá, além da incerteza com relação à forma de constituição do depósito, se é contínua ou sedimentada, ou seja, sem intercomunicações nos poços, o que dificultaria sobremaneira a sua exploração. Para se ter uma ideia do tamanho do “pepino”, precisamos saber que, até hoje, os poços de petróleo explorados chegaram no máximo a uma profundidade pouco mais de 2000 metros, sendo que, no pré-sal, essa perfuração deverá chegar a 7000 metros, tendo que enfrentar uma grande camada de sal concentrado, portanto altamente corrosiva, dificultando brutalmente o processo contínuo de extração; o grande problema seria quanto ao uso do material a ser usado, que suportasse a pressão mecânica do novo processo e, ao mesmo tempo, que fosse imune à corrosão, por causa da exposição permanente à camada subterrânea de sal.

Quanto ao investimento a ser aplicado nessa empreitada seria, desde os estudos de viabilidade monetária e empresarial, até a formação de trabalhadores de alto nível técnico, passando pela necessidade da aquisição de meios materiais para perfuração, manutenção, extração, transportes, suporte técnico e segurança. Por outro lado, se mantivermos tudo isso nas mãos da Petrobras, iremos criar um perigoso “elefante branco”, pela concentração de um poder oligárquico muito desproporcional, com relação ao restante do parque industrial brasileiro. O tamanho do investimento, que só poderá começar a auferir algum retorno, após no mínimo uma década inteira, é tão brutal que, somente com a injeção de muito capital externo a empreitada poderá se tornar viável, o que irá implicar em fortes intervenções estrangeiras em todo o mercado petrolífero brasileiro. Este País está tão despreparado, que o próprio Presidente da República declarou que a viabilidade do povo brasileiro mais pobre vir a receber melhor educação e assistência encontra-se na esperança dos lucros a serem auferidos pelo programa do pré-sal. Ora, se o governo não tem hoje o cacife suficiente para empregar numa educação decente e assistencial ao povo, como poderá desembolsar bilhões em um investimento de retorno ainda remoto e incerto? Ainda tem mais: como fica o investimento da enganação do PAC e das improdutivas Copa do Mundo e Olimpíadas? _Das duas, uma, ou eu sou ignorante em políticas econômicas e sociais, ou alguém está mentindo e fazendo espetáculos pirotécnicos, porque “a conta não está fechando”.

Vamos então falar sério: todo esse espetáculo do pré-sal está fadado a um fracasso estrondoso, em um futuro não muito longe, porque não vai demorar muito o imprescindível combate frontal contra o petróleo e suas mazelas, pela necessidade premente de se manter uma possível habitabilidade no Planeta, frente o aquecimento global, portanto estamos prestes a entrar numa canoa furada, assim como foi o caso do pró-álcool. Nós estamos nos esquecendo de que, em futuro bem próximo, a riqueza maior do mundo será a água, e o Brasil não está dando a mínima atenção para a sua preservação, aventurando-se até a desviar leito de rio, criminosamente! Será que é de conhecimento público que não teremos chance de sobrevivência, no momento em que tivermos para beber somente gasolina e etanol?

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 26/12/2009
Reeditado em 15/10/2011
Código do texto: T1997050