GRITOS EVIDENCIADOS E GRITOS ABAFADOS

A história que os livros registram, ainda que sendo a mesma, nunca irá coincidir com a história que o povo conta. Às vezes cantando nas suas vasões de alegria, e outras vezes chorando nas convulsões dos seus sofrimentos. Assim é o jeito desse povão, que brinca cantando, e que canta dançando. A verdade final provavelmente não sairá nem da versão culta dos anais do registro histórico e nem tão pouco da voz popular dos tugúrios, com suas favelas, suas vilas. Ou na zona rural, naquelas solitárias cabanas erguidas nas barrancas ribeirinhas, pelos ermos sertões da hinterlandia brasileira.

Um fato nacional quando narrado pelos livros, quase sempre representa a voz da classe dominante. É, na grande maioria das vezes a expressão do poder. Na versão popular, este mesmo evento histórico, é, ao contrário o clamor dos deserdados, a súplica dos miseráveis, é o lamento dos excluidos, ou simplesmente a expressão submissa dos mais humildes no cenário da encarniçada briga pelos direitos supostamente oferecidos pelo sistema.

A manifestação dos miseráveis, no mercado da cultura formal, só a escutará quem souber ler a entrelinhas da vida ou quem se dispuzer a cavar no verniz das aparências. Fatos e fatos importantíssimos são engolidos pelo vórtice das influências sociais, que são exercidas pelas classes dominantes. Enquanto que, certos acontecimentos triviais e fúteis tambem com a ajuda dessas classes dominantes, acabam ganhando a preferência de todos os meios de comunicação.

A malha numerosa dos excluidos vê seus herois serem transformados em bandidos e é, ao mesmo tempo, obrigada a tragar herois alheios. O astro do radinho de pilha não é o mesmo astro dos telões. Nas vasias solidões da amazônia fala-se uma língua e cultiva-se inúmeras preferências que nada tem a ver com as preferências palacianas. O homem das florestas tem seus herois, mitos e medos, projetos e conceitos.

De um lado o caboclo ainda quase índio, sendo vilipendiado, e do outro o bem nascido oriundo dos clãs dominantes, com seus privilégios garantidos pela tradição e sem o mínimo respeito pelos direitos que supostamente seus semelhantes receberam do sistema.

Elopere
Enviado por Elopere em 13/09/2008
Reeditado em 16/10/2010
Código do texto: T1176258
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