PNL- “BOLHAS” OU QUADRADOS MENTAIS

 

A educação moderna, e principalmente as mídias sociais são as principais responsáveis pelo “enquadramento” que a nossa consciência vem sofrendo. Hoje, muito mais do que em qualquer outra época da história, quando a interação era menos virtual e mais pessoal. Esse “enquadramento” nos leva, geralmente, para dentro de um quadrado mental, ou no dizer da linguagem moderna, para dentro de uma “bolha”, onde qualquer capacidade de reflexão e análise fora dos limites impostos por esse espaço acaba sendo interditado. Daí, a capacidade inata que o cérebro humano tem de hospedar múltiplas inteligências também é reduzido por ideologias (filosóficas, religiosas, políticas etc), que bloqueiam qualquer raciocínio que possa nos conduzir à informações que estão fora dessa “bolha”.

Como dizia o linguista Alfred Korzibsky, o “mapa não é o território”. Isso porque o “mapa” que nós fazemos da realidade, ou seja, o conteúdo da nossa “bolha psíquica”, é apenas uma pequena parte da realidade em que nós realmente vivemos. E quem vive dentro dela acaba sendo restrito a um território tão diminuto de informações e conhecimento que o impede de analisar todas as possibilidades que o universo da vida contém.

Destarte, desenha-se, dentro da nossa mente, um mapa mental de crenças e valores estereotipados que bloqueia a entrada das informações contraditórias que não se coadunam com as que se hospedam nesse mapa. Repete-se, no estado mental do indivíduo que vive dentro desse “quadrado”, o mesmo fenômeno que alimenta o radicalismo, o racismo, a intolerância e o ódio por tudo aquilo que “não se parece conosco.”

Assim, as pessoas que se encerram dentro dessas “bolhas” só percebem e conhecem um mundo restrito de conhecimentos, porque só deixam entrar em suas mentes aquilo que cabe no seu “mapa de mundo”. Entretanto, os nossos sentidos (visão, audição, olfato, paladar – todo o conjunto das nossas sinestesias-), continuam a nos trazer informações do território inteiro e não apenas do “mapa” que nós fizemos dele. E é quando essas informações desmentem “as verdades” que o nosso mapa mental hospedou no “quadrado” que ele desenhou em nossa mente que começam os nossos tropeços e o sofrimento que eles nos trazem, não conseguimos aceitá-los como expressão da realidade. Quando isso acontece é comum nos sentirmos traídos, descrentes da vida e do mundo, desesperançados e incapazes de buscar outros caminhos.

Um exemplo muito comum é o da pessoa que se deixa influenciar pelo ideal ou filosofia de vida de outras pessoas, ou por narrativas que só cabem no conteúdo da sua “bolha” mental. Elas só sabem interpretar o que ouvem, vêm ou lêem na linguagem da sua “bolha”. Tais pessoas podem ser chamadas  de “alfabetizados funcionais”, porque só sabem reconhecer letras e palavras, mas não conseguem analisar os significados delas dentro de contextos mais complexos que os admitidos pelo seu mapa mental. Quando são solicitadas a opinar em alguma questão que exige uma análise mais profunda, elas se restringem a citar ‘dados soltos’, isolados, factoides muitas vezes, que elas registraram em seus cérebros, e que são as únicas respostas que têm para serem aliciadas no momento em que são requisitadas. Se a realidade as desmente elas ficam perdidas como se tivessem sido abandonadas num país estrangeiro sem recursos, sem amigos e sem saber uma palavra da língua falada nesse país.

Pessoas que estão limitadas a um mapa mental em forma de “quadrado” ou "bolha”, têm muita dificuldade em sair desse espaço conceitual para admitir que o mundo é bem maior (e a realidade mais profunda) do que elas pensam que é. E que a verdade é mais difusa e ampla do que qualquer ideia que possamos fazer dela. Isso porque o mundo é feito de relações e de relações entre relações. Assim como oxigênio e hidrogênio formam uma molécula de água e a água incuba a vida, que por sua vez gera uma multiplicidade de outras relações que vão se superpondo umas às outras, projetando uma rede infinita de relações cujo limite é impossível prever,  a verdade é uma constante de integração que não se esgota em uma única fórmula. 

 

Sair da nossa “bolha” mental é muito difícil, mas pode ser feito. A primeira providência nesse sentido é admitir que além do “mapa” que traçamos do mundo, pode haver um vasto território que não conhecemos. E a partir dessa infusão de humildade, desenvolver um desejo de explorar esse território com o espírito de uma criança e a consciência de um adulto. Criança para ter a curiosidade de tudo experimentar sem julgar a priori, e adulto para, a partir da experiência, formar um julgamento isento dos nossos preconceitos anteriores. Ou seja, julgar pelo que sentimos, ouvimos e vimos e não pelo que “queremos sentir, ouvir e ver”. É a partir daí que as pessoas começam a transformar a inteligência potencial que todos temos em pragmatismo, que na sua essência, nada mais é do que um julgamento pelos resultados (bons ou ruins), que cada escolha nos proporciona.

Porque a única verdade que ainda não encontrou meios de ser contestada é a verdade do resultado. E esse só pode ser julgado pelo que a gente vê, ouve, e sente a respeito, sem as omissões, as distorções e os cancelamentos que uma mente presa no "quadrado" normalmente executa.