O DIREITO DE ESCOLHER

 

 Fazendo a escolha

A energia que está na origem e sustentação das nossas vidas precisa de dois polos para

se manifestar e garantir a nossa existência. São esses polos que conduzem e geram a atração que nos mantém vinculados a pessoas e bens materiais. Elas determinam o grau de apego, de vinculação e sensibilidade que sentimos em relação ao objeto relacionado. A força atrativa desses polos nos dá a medida do amor e da simpatia, ou do ódio e antipatia que sentimos pelas pessoas e do desejo de posse pelas coisas que o nosso Ego nos sugere como fontes de prazer.

Já percebemos que a experiência de uma relação muito intensa e duradoura de uma pessoa com outra gera uma corrente energética que leva muito tempo para se dissipar. É fácil constatar isso dentro de uma família quando um filho, que vive há muito tempo longe dos pais sente bem menos a morte deles do que aquele que viveu próximo a eles a vida toda.

É a mesma coisa com bens materiais. Quem convive com a abastança a vida inteira sente mais a perda dela do quem nunca a teve, ou então aqueles que conviveram com ela durante pouco tempo e não tiveram oportunidade de viver uma relação muito intensa com o prazer que esse bem proporciona.

Nosso sistema neurológico é alimentado por essa energia polar. E a sua força está na intensidade da relação entre os polos dela. Na Cabalá filosófica ela é referida como Desejo de Receber e Desejo de Compartilhar. Isso significa que recebemos energia da pessoa com quem nos relacionamos (e quanto mais próxima e sensível é a relação, mais intensa é a corrente energética); e também dos bens materiais que desejamos, (pois todas coisas que têm massa e forma são resultado de energia condensada). E quanto maior é o desejo por esses bens, maior é a intensidade da corrente que nos liga a elas.

Isso explica porque muitas pessoas não conseguem resistir a perdas muito sensíveis. Indivíduos que viveram a maior parte da vida ligados à outra pessoa, como é o caso de casais que convivem durante muito tempo, é um claro exemplo disso. Quando uma morre, logo o outro vai atrás. É que a energia gerada durante a relação é tão intensa que o organismo que a

hospeda não consegue sobreviver na ausência do outro polo. E como a idade e as próprias circunstâncias da vida geralmente não concorrem para que ela capture outro polo capaz de sustentar a sua existência, então a sua neurologia renuncia a ela. E ela definha até morrer.

Isso acontece também com pessoas cuja corrente energética é sustentada pela sua relação com bens materiais, carreira profissional, sucesso, etc. A perda do polo que sustenta o prazer dessa relação, às vezes o instiga a procurá-lo no prazer das drogas, do álcool, no sexo, em comportamentos aberrantes que lhe trazem mais dor do que prazer, por que tais prazeres não constituem verdadeiros polos de equilíbrio energético, mas sim modalidades de escape. E um dia, a ausência de um verdadeiro polo para sustentar a corrente vital pode levá-las a acabar com a própria vida.

A doutrina cabalista ensina que a vida é consequência do Desejo de Receber a Energia do Criador. Ela é o polo positivo da corrente energética que dá sustentação à existência da realidade cósmica. A vida hospeda esse Desejo, e por consequência também precisa de outro polo para se manifestar. Essa é a razão da necessidade neurológica que todos temos de nos relacionarmos com outras pessoas e com bens corpóreos ou incorpóreos. Por isso a intuição do filósofo Jean Paul Sartre ao dizer que nós somos produtos de relações e de relações entre relações.

E Cabalá nos diz: nós somos hospedeiros da Energia que vem do Criador. O que fazemos com ela é que determina o rumo das nossas vidas e do legado que deixaremos ao cosmo. O quer dizer: a nossa vida pode ser Energia desperdiçada ou Energia transformada em boas obras. Tudo é uma questão de escolha, e a nós foi dado o livre arbítrio para isso.