Noções breves da Psicanálise

AUTOR: LUCIANO SILVA DE MEDEIROS

PROFESSOR DE SOCIOLOGIA

IFRJ

Autor: LUCIANO SILVA DE MEDEIROS

PROFESSOR DE SOCIOLOGIA IFRJ

1. Sigmund Freud nasceu numa família de origem judaica. O pai de Freud era comerciante de tecidos e a mãe era do lar. Freud viveu, junto com seu pai, um ataque antissemita, em Viena, na Áustria (cidade que ele nunca se afastou, mantendo com o local uma relação ambígua: de amor e ódio), ainda na tenra infância. O Império austro-húngaro tinha um apreço pelo “despotismo esclarecido”, que foi muito valorizado no Iluminismo, o que daria prestígio às carreiras e “habitus” intelectuais. Sendo assim, cortes e monarcas com vastos conhecimentos, já que a enciclopédia era o único compêndio que procurava reunir todo conhecimento, do “a” até o “z”, era uma moda.

2. Como bem salientou o professor de filosofia brasileiro, L. Pondé (youtuber atualmente), Freud era um judeu (com ancestrais, portanto, no Médio Oriente e não na Europa vitoriana, naquele momento), casou-se na tradição da sua família, mas tinha traços estoicos e ateístas. O estoicismo é uma doutrina de desapego, ao contrário do hedonismo (que cultua a busca dos prazeres sensoriais com a melhor forma de conduta moral de viver). Foi muito influenciado pelas leituras de Schopenhauer e Nietzsche, duros críticos da moral judaico-cristã e, de certa maneira, admiradores do budismo orientalista (agnóstico).

3. o budismo não trabalha com a ideia de um deus absoluto. Adota uma visão de que nunca conseguiremos atingir a verdade. De que o nirvana é um estado de silêncio absoluto da mente, por meio da meditação. Uma visão de mundo que não se angustia com a dúvida. Aceita o carma ou o caminho singular que cada pessoa vive.

4. Freud era filho do segundo casamento do seu pai, que já era velho quando o teve. Seu pai já tinha filhos e todos eram velhos, sendo Freud o caçula. Os irmãos pareciam pais de Freud. Viviam numa casa precária, no subúrbio de viena, em guetos judeus (duramente perseguidos na invasão nazista). Nela, talvez Freud tenha presenciado relações sexuais dos seus pais, de madrugada. Isso pode ter criado uma confusão dos papéis sociais dentro da instituição social, família, na formação do psique do pai da psicanálise. Além disso, Freud não construiu, em cima do pai, na infância, a ideia de um “super homem”, já que o pai não revidou violentamente o ataque antijudeu (bateram no chapéu dele e, ele, não fez nada); Freud, numa visão vulgar, achava o pai “um banana”. Isso pode ter fortalecido o seu ego, mas instaurado um sentimento de culpa (que a sociedade introjeta por meio de regras religiosas, como honra ao pai, nos 10 mandamentos judeus, dados a Moisés por Javé). Por exemplo, nos mandamentos religiosos (“honrar pai e mãe”) há um imperativo que não leva em consideração o caráter dos pais. A culpa é uma necessidade de manutenção da religião, segundo Nietzsche;

5. Era um médico de uma família sem gente de prestígio. Foi o primeiro a ser doutor na família de um medíocre comerciante de tecidos de origem semita que não reagiu contra uma hostilidade em relação a sua raça, em Viena (é bom lembrar que Hitler era austríaco, e não alemão). Isso trazia muito orgulho para o pai, comerciante, mas no seu inconsciente, Freud o “desprezava” (foi quando ele descobriu os sintomas neuróticos de transferência que um paciente que tinha o pai como um “estuprador da mãe”, tendo ele, Freud, desmaiado no enterro do pai, por um mecanismo de defesa involuntária do ego, que mais adiante ele confirmaria). Aliás que ele teve a mesma reação ao brigar com Carl Gustav Jung, seu discípulo e depois, como Aristóteles abandonou Platão, Jung o abandonou, por causa da teoria da sexualidade infantil, pois Jung não era judeu e tinha um respeito muito grande pelos pais, suíços, pois sua família toda era de pastores protestantes com sólida formação em teologia;

6. Freud foi o pai da psiquiatria contemporânea, no fim do século XIX até o ano da sua morte: 1939, já contando, suas teorias, com várias sociedades de psicanálise pelo mundo, com autores discordando ou reafirmando conceitos freudianos. Pois antes dele, a psiquiatria de Pinel utilizava-se do “argumento de autoridade de ciência” (sem passar por uma análise lógica e do discurso). Uma psiquiatria violenta e invasiva, com terapias de camisa de força, choque no crânio, imersão em gelo, lobotomia – dando, segundo Foucault, a esta pseudociência, um perfil de controle do corpo, procurando a disciplina (não a cura).

7. A psicanálise seria um método de cura pela fala, que substituiria a hipnose praticada, principalmente, pelos Dr. Charcot e Dr. Breuer. Lacan, psiquiatra freudiano da segunda metade do século xx, chegou a afirmar da importância das palavras na estrutura do psique, que não conseguiriam dar conta de todo universo mental (daí a função “surrealista” dos sonhos); para Lacan, o desejo é desejar que o objeto desejado deseje aquilo que nós desejamos, o que, como toda certeza, produziria a “tensão entrópica neurótica” (a falta de compensação da fala). O desejo é falta permanente. Daí a angústia de nunca abandonar o homem na sua existência. Seria uma das grandes sacadas do budismo e a busca do não desejo. Até mesmo a filosofia de Platão afirma que amar é não se apegar. É deixar as coisas seguirem seu caminho. Tudo é um ciclo, como bem disse Salomão, em Eclesiastes. Talvez o maior dilema dos consultórios psicanalíticos seja a relação pais e filhos, justamente pelo excesso de apego - originário da primeira infância. Não compreender o caminho natural de todas as coisas. A contingência dos corpos, que aquilo que nos apegamos tem vida própria. Comporta-se contra nossas expectativas e está sujeito a morte: corrosão da matéria na trajetória do tempo.

8. Segundo Freud, a psique (“alma”, nome que a religião dava à consciência humana dos acontecimentos que o cercam no movimento do real) é um aparelho igual ao digestivo, linfático. O psiquismo tem uma anatomia, que na teoria freudiana, de certa maneira, toca no conceito de representação kantiano, pois a representação acontece quando não sabemos que algo existe, mas não o filmamos e fotografamos. Há também uma fisiologia que é o que chamamos por psicossomático; e, por fim, uma patologia, já que medos liberam adrenalina que podem conduzir, por exemplo, em direção ao um infarto ou a um avc, mostrando que as emoções se conectam com sistemas parassimpáticos. Não é algo físico, o que é mais fascinante nesta teoria.

9. O gerenciamento psíquico pode ser obtido por pessoas com alta inteligência emocional ou mesmo na terapia. As ilusões e a falta de conexão com a realidade, acirram ainda mais as tensões do psiquismo. Quando as ilusões não ocorrem, o psique produz energia. Seria como sentir vontade de beber água e alguém fecha a torneira, sem a nossa permissão (a realidade). A realidade não gira em torno dos nossos desejos. Porém, na primeira infância, alguns pais e mães realizam as pulsões egocêntricas dos filhos, iludindo-os e os condicionando a projetarem na sociedade o comportamento dos pais. Isto ou gera raiva ou depressão. O real é composto de diferentes indivíduos, com psique, buscando também a satisfação de suas pulsões nos outros homens. Logo, o real é caótico. É um campo de conflitos de ordem discursiva, de palavras, de diálogos, onde tudo é subentendido. Nada é completo. Nem mesmo as relações de afeto, que, assim como o leite materno, satisfazem por algumas horas, pedindo-o mais.

10. Hoje, por meio da neurociência, já foi confirmado que o nervo ótico capta, o nervo auditivo menos e o olfato um pouco mais, um repertório de imagens, sons e cheiros, que, num primeiro momento, não fazem sentido algum e vão para o cerebelo, que está intimamente ligado a uma das glândulas mais importantes do corpo humano (a pituitária). Carl Gustav Jung, aluno e depois crítico de Freud, afirma que há uma tendência à entropia na psique. A psique se desorganiza facilmente, levando a perda de conexão com a realidade. A realidade mais concreta é ambivalente; ou temos ou não temos o output dos nossos desejos nas coisas desejadas. Mas Jung, no seu processo de individuação, vê duas personalidades: a social (a máscara, a função social de Durkheim) e a interna (uma galáxia de imagens, símbolos e sons ancestrais que oscilam, ao acaso, no self). A interna pode viver a entropia e canalizá-la para expressões artísticas, a meditação ou religiões. Já Lacan observa que a linguagem estruturante não contempla a falta, que é o desejo, que o psique sabe, mas não nomeia. O que realmente se quer não tem nome: o desejo sem nome. A pessoa não sabe o que quer, querendo, ao mesmo tempo, sem poder expressar. Para Freud, em “Além do princípio do prazer”, já quase no fim de sua vida, afirma que a psique almeja o não ser (“o sono da pedra”). Isso acontece por inflação de frustrações do desejo. Freud fez eutanásia, ao passar dos 80 anos, por não suportar as dores de um câncer no palato duro (céu da boca) - devido a sua compulsão (desejo irracional) por charutos.

11. A consciência humana é antropologicamente uma descoberta recente – que é a tomada de consciência, enquanto indivíduo, o que pode ser uma ilusão, do ponto de vista de Platão ou Kant. Os animais possuem vontade e esta vontade não está subordinada ao remorso ou culpa (animais não sentem culpa; dessa maneira, a culpa é um produto da cultura; do reino da cultura, que os antropólogos afirmam que se contrapõe à natureza). Os domésticos, como os cães, podem ser condicionados por castigos físicos (comportamentos considerados ruins pelo homem) ou premiados (comportamentos considerados bons pelo homem) - o que a psicologia behaviorista já apontou ser possível fazer com seres humanos também. Daí as experiências de adestramento da psicologia behaviorista (de base positivista) – com a experiência da salivação em cães, com sinos e choques, feitas por Pavlov. Quando o assunto é ser humano, podemos estudar assuntos como arquitetura e urbanismo criando “estados de espírito”, numa pessoa ou grupo.

12. Os estímulos do ambiente secretam novos hormônios e impulsos elétricos, fazendo que se realize o ânimo (o núcleo da vida; que é o movimento dos seres vivos para conseguirem prazer).

13. Eles, os desejos do psiquismo, são manifestados, psicossomaticamente (ligação das emoções com os órgãos do organismo) nas lágrimas oculares (choramos quando o nível de excitação neuro emocional está alto em “voltagem” - muitas vezes como forma de persuasão do outro, para que ele realize nosso desejo), suor do tecido dermatológico (pessoas que soam as palmas das mãos por medo involuntário de falarem ao público), urina e fezes do sistema excretor (pessoas diante de um avião em queda, já conscientes que não terão uma mínima chance de viverem – já que o medo também se comunica com o raciocínio);

14. Dessa maneira, fica comprovado os fenômenos psicossomáticos. As emoções são estímulos involuntários do meio ambiente, que podem ser guardados desde as necessidades mais elementares da fisiologia ou mesmo dos valores de admissão em grupos sociais (bens ou títulos para ser aceito num grupo; o chamado “instinto de rebanho” de Nietzsche). As emoções são tempestades elétricas neuronais que podem ser positivas (prazer) ou negativas (a dor). Podem levar uma pessoa a fazer uma dada atitude, que depois se arrependa, por causa do superego ou da rejeição das demais pessoas. existem pessoas mais sensíveis e menos sensíveis a aceitação social;

15. Cada sistema nervoso, de cada indivíduo, com uma personalidade (herdada dos pais e moldada pelo país, língua, escola, círculo de amigos). Personalidade, conjunto de reações singulares de um ser, o qual reage de uma maneira, diante de um estímulo dado pelo meio ambiente, seja ele natural ou social. Alguns indivíduos conseguem ter atitudes mais inteligentes diante desses estímulos - do ponto de vista da persona. Pulsões estimuladas do meio ambiente, que garanta aos seus organismos maior longevidade (pois a produção de adrenalina é tóxica) frases famosas como “entrou num ouvido e saiu no outro”. Também há “fingiu que não viu”, “que se dane” etc – que fazem parte do campo linguístico, numa linha lacaniana, que define a consciência e toda psique no mundo da palavra e da ausência da palavra diante do desejo;

16. Num meio cultural, Freud foi um desses indivíduos que mudaram a consciência humana. Temos com ele Sócrates, Platão, Aristóteles, Darwin, Marx, Maquiavel, Jung e tantos outros nomes ilustres;

17. Psique tem 3 dimensões que se relacionam de maneira hierárquica verticalizada. o Id é quem faz a vontade, o desejo, com base na ligação da psique com o sistema de hormônio do corpo humano. Na adolescência isso deixa de ser latente, daí a tendência à leviandade, a preguiça, a irresponsabilidade e ao hedonismo – pois aqui ocorre o pico da produção de hormônios. Os adolescentes possuem aparência adulta. Mas o comportamento adolescente é por impulso e influenciado pela aceitação do primeiro grupo de socialização, fora do grupo familiar. Por isso que é difícil impor “não” aos adolescentes, especialmente os criados sem recalques familiares, que terminam ou sendo rígidos demais consigo ou imitando grupos sociopáticos;

Id (animal) = é um “programa” base que Carl Gustav Jung acrescentou, ao que ele chamou de “inconsciente coletivo”, com a sombra (mania de perseguição, que as religiões chamam por “tentador ou obsessor” - os quais induzem ao crime), o ânimo (o polo masculino - “macho alfa controlador das fêmeas ou o patriarca”- que em religiões como o candomblé aparecem como “Zé Pilintra”) e o anima (o polo feminino – da genitora da prole, amamentadora e que “finge” obedecer o patriarca – que no candomblé é a “Maria Padilha”; uma forma de “Pomba Gira”). Pode ser até o nível de hormônio programado no genoma de cada pessoa, a ser dissolvido na corrente sanguínea, de acordo com a idade (ignoramos que a natureza introduz em nós um software chamado “genoma”). Isto porque cada pessoa tem no seu código genético todo programa da sua vida interna (menopausa, câncer etc). Isto é totalmente independente do lugar e da classe em que uma pessoa nasceu, pois é genético.

18. Freud desconhecia isso. Mas a psicofarmacologia atual não vê mais assim e evoluiu com medicações que permitem aos ser humano ter uma vida “normal”. Todo ser humano precisa comer, beber, excretar, e outras necessidades que são culturalmente moldadas (se sentir amado por si e pelo grupo, que, de outro ponto de vista, dá origem a sociologia ou ciências que vão estudar a cultura). O id é organizado por uma energia emocional que tem origem na forma como o organismo secreta hormônios, diante de estímulos do meio ambiente natural e social. Energia esta acumulada com (dor, angústia) ou dissipada (prazer, alívio). Psique tem uma porção irracional (uma ação de reflexo sem a mediação do cálculo das consequências em relação a preservação do indivíduo), pois os estímulos ambientais são caóticos (eu não tenho a menor ideia do que ocorrerá no meu dia; pode ser que o ambiente que eu vivo já seja habitualmente conhecido por mim – daí eu ter uma dose de previsibilidade do comportamento de outras pessoas que possam causar reações em mim). Logo, há até a possibilidade de prever a reação de uma pessoa com sintomas de agorafobia, diante de multidões (ou doenças emocionais).

19. Evacuar, urinar, medo, erotismo. A lei que rege a psique é a libido, ou excitar e dissipar, que M. Klein chamou de posição depressiva e esquizoparanóide. Na infância são formadas as primeiras experiências emocionais que edificam a personalidade (personalidade é a forma como eu respondo internamente aos estímulos externos ou caóticos, que o meio ambiente natural ou cultural submete-se - dando uma impressão digital a cada ser).

20. Superego (socialização ou introjeção de tabus, de máscaras sociais, de rituais e cultos cívicos ou religiosos); viver em sociedade ou num meio cultural no qual as pessoas interpretam “máscaras” sociais. Criam-se valores e padrões de moralidades, especialmente atribuídos ao “sobrenatural”. Frustração dos pais (a mãe que teve filha sem planejamento, a tendência é controlar a filha na adolescência = é um sistema de recalque). Sistema imunológico. Você me culpa. Moral. Artificial. Ele é lei. Ela é mãe. Ele segura o músculo da uretra por meio de mecanismos pouco desenvolvidos nos demais animais. Caso seja excessivo, ele adoece a pessoa (dor de cabeça, insônia, agressividade, masoquismo) represamento dos impulsos do id (ou não dar vazão para uma ordem hormonal, sendo a mais complexa: a ejaculação ou orgasmo, que gera outro ser humano, num ato de flerte que envolve uma série de teias culturais. O primeiro impulso do Id é evacuar sem ser no banheiro, até 2 ou 4 anos, como os filhotes dos mamíferos fazem. A mãe ou responsável (agente de socialização/sublimação/recalque) ensina a criança a controlar a musculatura do intestino (nem uma animal faz isso como o ser humano, sendo que boa parte das psicossomatizações são intestinais; a própria homossexualidade é um desvio da libido para uma zona erógena intestinal, pois o canal retal não faz parte do sistema de reprodução humana, mas de limpeza das impurezas do metabolismo). Porém, o canal retal é zona 21.Erógena e dá possibilidade orgásmica ao sistema genital (felação).Civilização ou cultura são dois quase sinônimos de superego. O Homem procura desviar seus instintos irracionais para atenderem fins sociais, pelos valores dominantes de cada época histórica. Escola, família, igreja, empresa, polícia, judiciário. Manicômio. Foucault, na segunda metade do século XX, foi um filósofo que procurou mostrar que a psiquiatria não era uma ciência, mas uma nova forma de higiene social, que substitui o castigo físico pelo castigo psicológico, tornando-se um depósito do lumpemproletariado. Os derrotados/indesejados pelo sistema, os que não conseguiram se adaptar, do ponto de vista darwinista, eram depositados nos abrigos públicos.

22. Ego = consciência parcial dos conflitos entre o superego e o id que produzem angústia, euforia e outras sensações psíquicas – muito personalizadas. Algumas de caráter transitório e outras de caráter permanente (ciclo de pensamentos obsessivos). O ego é o que pensamos de nós quando há tensões entre as pulsões do id e os recalques ou virtudes do superego que desenvolvemos. Há os chamados “estados de espírito”. O conceito que temos de nós mesmos é cíclico: ou positivo ou negativo. Ele é formado pelos pais até a adolescência. Por isso os adolescentes são confusos. Eles não possuem experiências que consolidam para si suas autoimagens. Mesmo pelo fato da nossa aparência física ir mudando, o que repercute na imagem que fazemos de nós e o quanto somos ainda desejados sexualmente por outras pessoas. Ou muda o estado de amor. Colocamos o amor nos filhos, netos, sobrinhos etc.

23. Os pais, inconscientemente, projetam nos filhos neuroses, frustrações – as feridas emocionais que sofreram e as visões de mundo que colecionaram (que na adolescência entra em conflito de gerações, já que os filhos veem o mundo com outros valores; os valores do seu tempo com as tecnologias a ele conectadas). Freud dizia que boa parte dos distúrbios mentais nasceu na relação familiar, por fatos que realmente aconteceram ou fruto da imaginação patológica dos familiares, pressões de valores de época ou recalques geracionais. O ato de ser civilizado tem um preço: ansiedade e angústia de não poder externar sentimentos de ódio contra pessoas de status superior etc. O ego precisa ser estimulado, pois muitos assim o formam durante a infância. Quem faz isso é a mãe; nos dias atuais, os meios de comunicação. Narciso é uma tendência do ego. Excessivo amor próprio. A necessidade de aceitação por parte do grupo e de obter prestígio é um impulso do ego. Antes de Freud, a psiquiatria era misturada com religião e misticismo. Os médicos da área de outros órgãos não tinham respeito pelos psiquiatras. Sua atuação não curava ninguém, na visão das demais áreas médicas.

24. Psiquiatra dopa cada vez mais, o que ocorre com o desenvolvimento da psicofarmacologia. Interna quando uma pessoa entra em surto psicótico, colocando em risco a si ou pessoas à sua volta (o seu paciente). Um surto por falta de droga. Amarram e aplicam um sonífero. São as chamadas camisas de força químicas, cada dia mais usadas, dados os ambientes tóxicos de trabalho estimulados pela concorrência capitalista. O enigma.

25. No Complexo de Édipo até os 15 anos, o menino tem o pai como modelo. Mas ele vai descobrindo falhas no pai, durante a adolescência. Começa uma rivalidade pelo controle das fêmeas (mãe e irmãs). É a hora do menino traçar o plano de sair de casa, fazer uma família exogâmica. Transferir a mãe para uma namorada. No caso da menina: transferir o pai para um namorado, quando acirra a rivalidade com a mãe. O ser humano está condenado a repetir os padrões de relações observados na primeira infância, caso não faça uma reflexão sobre estes. O superego distorce as emoções vindas do id e tenta classificá-las conforme o repertório de moralidade que o indivíduo adquiriu na sua educação.

26. Neurótico é compulsivo (ele faz, sabe que faz e não pára – alcoólatra, drogado, ciumento). O homem excessivamente ciumento bate em mulher; ele tende a construir fantasia de traição, que podem vir de instintos primitivos não resolvidos ou debatidos na educação.

27. Freud criou um método chamado terapia. 1 a 2 sessões de 1h ou até 2 horas, na qual o paciente conta pro analista sonhos, infância. Os acontecimentos formadores da personalidade ocorrem na infância e são entendidos na adolescência. Muitas das interpretações podem ser fantasiadas pela pessoa ou por quem está em volta. Podem causar um complexo (somas de desejos reprimidos que se sublimam em fantasias para não angustiar a psique). Eu reprovo o comportamento de uma pessoa que eu idolatrava. decepção. neurose; eu me sinto culpado por ter vergonha do meu pai ser alcoólatra. eu começo a roer unha, até sangrar. eu tenho insônia. sono leve. pesadelo.

28. Os comportamentos neuróticos. Porém, alguns começam a prejudicar emprego e família. Neurótico (caso menos grave que a psicose; passivo de tratamento na psicoterapia ou “talking cure”) vai ter problema, por exemplo, no casamento – pois o casamento é uma relação padronizada, previsto em leis (o código civil). O superego, introjetado, é feito por papeis, dentre os quais, boa parte tratados no direito civil ou penal, pois o Estado “corrige” condutas antissociais. Os neuróticos tendem a distorcer os acontecimentos, em nome de fantasias infantis, por causa do masoquismo (prazer pelo sofrimento pessoal) e sadismo (prazer por observar o sofrimento do outro). Podem ser sexualmente pervertidos, quando não ocorre os casos nos quais infringem as leis, de forma impulsiva (sem controle de si). Ele pode ser homossexual (que já foi “cid” de psiquiatria e, graças aos direitos civis: não é mais uma “psicose”). Terá problema também no ambiente de trabalho, nos quais a hierarquia pode suscitar lembranças recalcadas de autoridades dos pais ou mesmo sadomasoquismo de parentes próximos.

LUCIANO DI MEDHEYROS
Enviado por LUCIANO DI MEDHEYROS em 27/03/2023
Reeditado em 25/01/2024
Código do texto: T7749918
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