Tecidos e acontecidos

rolos de tecido coloridos

24/02/2022

Fibras têxteis: tudo o que você precisa saber sobre o assunto – manual Audaces

Contents

Classificação das fibras em relação à origem

Fibras têxteis de origem natural

Fibras têxteis artificiais

Fibras têxteis de origem sintética

A relação entre as fibras e os fios

Por que é importante conhecer as fibras têxteis?

Como são formados os tecidos e as estruturas têxteis?

Reconhecimento do direito e do avesso nos tecidos

Classificação dos tecidos conforme a qualidade

Pontuação por defeito

Fórmula para Cálculo da Pontuação

Conformidades

Marcação dos defeitos

Limites de pontos

Beneficiamento de tecidos: 10 principais tratamentos para conhecer

1. Alvejamento

2. Branqueamento óptico

3. Ramagem

4. Sanforização

5. Calandragem

6. Chamuscagem ou gaseamento

7. Desengomagem

8. Purga

9. Flanelagem

10. Lixagem

Tente uma experiência e olhe ao seu redor: quantos tecidos você pode reconhecer? Não pense apenas nos tecidos das roupas que você usa, mas também nos estofos da cadeira ou sofá em que você provavelmente está sentado, nas cortinas ou no banco do seu carro.

As fibras têxteis são o elemento fundamental de todo tecido: elas dão origem ao fio que é usado para fazer tecidos que, por sua vez, podem ser utilizados em diversos elementos, desde móveis até uma coleção de roupas inteira!

Mas quantos tipos de fibras têxteis existem? Como podem ser classificados? Que características os distinguem? Se você estiver interessado em descobrir isso e tudo sobre o universo das fibras, dos fios e dos tecidos, acompanhe este manual incrível que preparamos para você:

Classificação das fibras em relação à origem

Em relação à sua origem, as fibras têxteis podem ser de três tipos – naturais, artificiais ou sintéticas:

Fibras têxteis de origem natural

As fibras naturais representam 40% das fibras têxteis utilizadas no mundo e são encontradas na natureza sob a forma de filamentos mais ou menos longos. São chamadas de naturais porque são provenientes de animais e plantas.

Nesse sentido, elas estão divididas em duas categorias:

Fibras de origem animal

São fibras obtidas do bulbo de pelo animal e aquelas obtidas por secreção dos casulos de lepidópteros ou ácaros, como o bicho-da-seda.

A primeira espécie, advinda dos pelos dos animais, inclui fibras como a lã de ovelha, alpaca, vicunha, caxemira e camelo, principais exemplos desse tipo de fibra.

Na segunda espécie estão a seda e o byssus. A seda mais conhecida é aquela produzida pela secreção glandular do bicho-da-seda em seu estado larval, antes de iniciar sua metamorfose em uma crisálida e depois em uma borboleta. As áreas em que a produção de seda atinge sua máxima difusão e qualidade são China, Japão, Índia e Itália.

E quais as principais características destas fibras? Tanto a seda quanto a lã são fibras que são facilmente tingidas, absorvem a transpiração e são maus condutores de calor. Devem ser lavados a uma temperatura baixa, com detergentes neutros ou levemente alcalinos.

Novelos de lã

Fibras de origem vegetal

São fibras obtidas da celulose das plantas e podem ser obtidas de várias partes da planta: das sementes (como algodão e kapok), do caule (linho, cânhamo, juta, rami), das veias foliares (ráfia, sisal) e do fruto (coco).

De todas essas fibras, a mais comumente utilizada é o algodão, feito da penugem que envolve as sementes de uma planta da família Malvaceae.

Normalmente, as fibras da planta têm excelente recuperação térmica, alta condutividade térmica e tingem facilmente. Absorvem bem a transpiração, embora não tão bem quanto a lã.

Fibras de algodão

Fibras têxteis artificiais

As fibras artificiais são produzidas pelo homem a partir de fibras naturais, geralmente celulose, através de simples transformações químicas. Estas transformações são realizadas porque os polímeros na natureza têm uma superfície irregular ou comprimento insuficiente para serem transformados em fios longos.

O tecido mais comum nesta categoria é o rayon, um termo usado para descrever todos os fios produzidos a partir de derivados da celulose. Dependendo do processo químico utilizado, podem ser obtidos diferentes tipos de fios (viscose, cupro, acetato etc.).

Essas fibras, precisamente por serem artificiais, têm várias vantagens: seu diâmetro pode atingir a finura e comprimento desejados, seu brilho e opacidade podem ser controlados, podem ser tingidas a qualquer momento durante o processamento e há um rendimento maior devido à ausência de impurezas.

Fios de rayon em carretéis

Fibras têxteis de origem sintética

As fibras sintéticas são obtidas por meio de processos complexos de síntese utilizando matérias-primas que raramente estão disponíveis na natureza. Também são conhecidos como feitos pelo homem.

As fibras sintéticas representam 55% das fibras produzidas para roupas e móveis e são divididas em “famílias” de acordo com a classificação dos polímeros que as compõem. As principais fibras sintéticas são o nylon, as fibras de poliéster e as fibras acrílicas.

As fibras sintéticas são caracterizadas por um baixo peso específico, que permite alto rendimento do tecido, termoplasticidade, repelência à água, facilidade de lavagem e resistência ao desgaste. Por outro lado, as características negativas são baixa estabilidade térmica, baixa absorção de umidade, baixa respirabilidade e eletrostática.

Além disso, por serem tecidos repelentes à água, são difíceis de tingir e requerem corantes especiais.

As fibras têxteis geralmente incluem materiais de fibra curta que não são fiados, mas sim aderidos juntos para formar uma camada de certa espessura e consistência de tecido, como o feltro.

Linhas de nylon

A relação entre as fibras e os fios

No segmento têxtil, é a partir dos vários processos de fiação das fibras que obtemos os fios – que, por sua vez, geram o tecido. Muitas vezes, ao combinar efeitos, fibras e cores, uma infinidade de tipos de fios podem surgir, oferecendo novas texturas aos tecidos.

Conforme as combinações de fibras, seu comprimento, torções e espessura, são obtidas as variações de qualidade e preço que o segmento têxtil oferece.

Confira, abaixo, as principais características dos fios utilizados no segmento têxtil, conforme a Cartilha de Costurabilidade, Uso e Conservação de Tecidos desenvolvida pela TexBrasil Decor:

O título, que é a numeração do fio, é expresso em unidade TEX. Quanto mais alto o valor mais grosso é o fio;

Suas torções, que são indicadas em torções por metro, para fio. Dependendo da aplicação, necessitamos de fios de maior e menor torção.

Por que é importante conhecer as fibras têxteis?

Um confeccionador tem o dever de conhecer a matéria-prima que será utilizada. Não só o processo de construção do fio como também as fibras têxteis que o compõem devem ser estudadas.

Saber a origem, as características e as indicações de aplicações das fibras têxteis é de suma importância, já que interferem diretamente na qualidade do produto final. As fibras naturais, artificiais ou sintéticas possuem características específicas que devem receber atenção especial principalmente quando o fio produzido com elas for aplicado na indústria do vestuário, nos desfiles de moda e nas coleções dos principais eventos fashion do Brasil e do mundo.

Dos mais variados processos de fiação e mistura de fibras podem sair fios específicos para cada peça do vestuário como, por exemplo, fios com alto nível de transpiração para peças de verão, com propriedades térmicas para proteger do frio ou até hipoalergênicos para trajes de contato direto com a pele, justificando assim a importância de conhecer cada fibra têxtil.

Como são formados os tecidos e as estruturas têxteis?

Os tecidos são estruturas têxteis manufaturadas em forma de lâminas flexíveis. São resultados do entrelaçamento de forma ordenada ou desordenada de fios e fibras que os compõem. Para tal entrelaçamento, o sistema de obtenção deve formar uma estrutura dimensional na qual necessitamos de alguns processos e até mesmo combinações.

Entre o cruzamento de tramas e urdumes, ou até por fusão e processos químicos, os tipos de tecidos surgem e adquirem estruturas visuais e comportamentos físicos como flexibilidade, dobraduras, alongamentos, elasticidades, entre tantos outros fatores agregados ao material têxtil.

Existe uma classificação dos tecidos quanto à sua estrutura, quanto ao resultado dos entrelaçamentos. Essas estruturas podem surgir:

por entrelaçamento dos fios;

por ação adesiva ou fusão de fibras;

por resultados à partir de soluções de fibras têxteis;

e os chamados “especiais” que são soluções mistas.

Para se ter uma ideia da complexidade têxtil, a compreensão dos inúmeros detalhes e materiais, existem diversas classificações genéticas de fibras químicas manufaturadas, sem incluir as naturais, somando no mínimo 25 estruturas básicas de tecidos e variações das mesmas.

Tecido jeans com foco no entrelaçamento das fibras

Reconhecimento do direito e do avesso nos tecidos

Uma curiosidade: você sabia que é imprescindível definir o lado certo do tecido para que a confecção de roupas saia da forma certa, sem erros e desperdícios?

Em alguns casos, o reconhecimento do direito e do avesso de um tecido é bem simples. É o caso dos estampados, por exemplo. Em outros casos é necessário usar o bom senso. No entanto, alguns critérios que podem facilitar no reconhecimento do avesso do tecido:

Enrolamento do tecido: o avesso do tecido normalmente fica para fora no rolo;

Brilho: tecidos sedosos apresentam em seu lado direito um maior brilho;

Ourela: quando o nome do produtor do tecido está na ourela de forma estampada este é o lado direito, quando está na forma bordada ou tecida, esse é o lado direito;

Tato: o lado mais liso é o direito e o mais áspero é o avesso;

Trama: normalmente o urdume é mais visível no lado do avesso;

Rendados: os relevos na renda indicam o lado direito do tecido.

Em função de sua importância para o segmento, é fundamental que todos os profissionais envolvidos no planejamento do processo produtivo da confecção conheçam as principais características dos tecidos, sua classificação e propriedades de caimento e adequação.

Classificação dos tecidos conforme a qualidade

Hoje em dia existem no mercado vários tipos de tecidos, com diferentes especificações técnicas. E na hora de utilizá-los na produção, você sabe quais são os critérios de classificação de tecidos no que diz respeito à qualidade?

A classificação de tecidos é feita conforme a ABNT NBR 13484 – Tecidos planos – que é um método de classificação baseado em inspeção por pontuação de defeitos. Saiba, a seguir, o que precisa levar em conta para fazer essa avaliação:

Pontuação por defeito

A pontuação é o critério-base de classificação de um tecido conforme a qualidade. Com base nela, são definidos os níveis de qualidade dos tecidos. Na tabela a seguir, temos os números de pontuação por defeito.

Fórmula para Cálculo da Pontuação

A pontuação geral é outro critério de avaliação. Ela pode ser medida por meio da fórmula:

PONTOS/100 M² : N X 100/L X C

Em que:

N = Total de pontos encontrados na inspeção do tecido;

100 = Constante;

L = Largura do tecido inspecionado em metros;

C = Comprimento do rolo de tecido inspecionado em metros.

Conformidades

Toda não-conformidade visível no tecido, tanto no sentido da trama quanto no sentido do urdume, será pontuada;

Defeitos que desaparecem após beneficiamento (lavagem industrial) e que se encontram dispersos ao longo do tecido poderão ser enviados sem pontuação, desde que estejam com a identificação “desaparece após lavagem” (exceto para tecidos profissionais);

Se ocorrerem defeitos concentrados em um mesmo metro, esses serão pontuados com 4 pontos (pontuação máxima por metro são 4 pontos) independentemente do número de defeitos;

Falhas contínuas de até 3 metros no sentido do urdume serão aceitas. Nesse caso, cada metro ou fração tem pena de 4 pontos;

1,50 metro inicial e final do rolo de tecido/enxerto não poderá conter defeitos de 3 ou 4 pontos.

Marcação dos defeitos

Defeitos de pontuação 1 e 2 são marcados no tecido, já os defeitos de 3 e 4 pontos são identificados nas ourelas do tecido.;

Os defeitos contínuos, acima de 1 metro até o limite de 3 metros, são identificados no início do defeito e a cada metro até atingir o seu final;

Limites de pontos

Tecidos de Primeira Qualidade

Serão consideradas como Primeira Qualidade as peças de tecidos cujo limite máximo seja:

ÍNDIGOS: 14 pontos por 100 m²

COLOURS: 16 pontos por 100 m²

PROFISSIONAL: 18 pontos por 100 m²

Nota: A metragem especificada nas etiquetas dos rolos poderá conter um desvio de + 1 %.

Tecidos de Segunda Qualidade

Na classificação de tecidos, serão enquadradas como de Segunda Qualidade as peças de tecidos cuja pontuação exceda o limite exigido para primeira qualidade.

Essa classificação abrange tecidos que contenham defeitos como:

Defeitos contínuos com mais de 3 metros, seja de origem da fiação, da tecelagem, do tingimento ou do acabamento, exceto manchas.

Tecidos com manchas acrescidas dos demais defeitos citados serão classificados com Segunda Qualidade.

Diferença de nuance entre o centro e ourela do tecido (centro-ourela), e entre o início e o fim das peças (ponta a ponta).

Largura fora da especificação do produto.

Cor fora do padrão podendo ser distante das nuances enviadas como Primeira Qualidade;

Potencial de stretch fora do especificado para o artigo.

Beneficiamento de tecidos: 10 principais tratamentos para conhecer

O tecido pode passar por diferentes beneficiamentos têxteis depois de terminada a tecelagem. Cada um desses acabamentos a que é submetido tem o objetivo de transformar o aspecto e/ou a estrutura das fibras, modificá-lo quanto a maleabilidade e dureza, retirar impurezas que ficam nas fibras, entre outros.

Confira a lista dos principais tratamentos que podem ser aplicados aos tecidos a fim de modificá-los para a Indústria e confecções:

1. Alvejamento

Esse beneficiamento é realizado com a aplicação de produtos químicos alvejantes – peróxido de hidrogênio, hipoclorito de sódio ou clorito de sódio – que têm o objetivo de clarear as fibras do tecido.

O procedimento é aplicado, geralmente, com fibras naturais que possuem uma cor amarelada e prepara o tecido para os processos seguintes, como o branqueamento óptico, tingimento ou estampagem.

Após finalizado a etapa de clareamento, é preciso que as fibras passem por uma lavagem para retirar os produtos químicos do material.

2. Branqueamento óptico

Alguns tecidos, mesmo após passar pelo processo de alvejamento, tendem a refletir uma coloração amarelada, sendo necessário aplicar o procedimento de branqueamento óptico neles.

Esse beneficiamento consiste no uso de um produto (quente) que vai refletir os raios azulados e violetas, combatendo os da cor amarela e fazendo com que o tecido pareça ainda mais branco.

3. Ramagem

Presos apenas pelas ourelas, os tecidos passam por uma estufa para secagem e/ou termofixação. As faces do material não entram em contato com nenhuma outra superfície durante o processo. Geralmente realizado em fibras sintéticas, este beneficiamento tende a fixar a largura e a gramatura do tecido, bem como estabilizar os fios.

4. Sanforização

Procedimento realizado com a finalidade de provocar o encolhimento mecânico do tecido no sentido do urdume (comprimento). Durante a fabricação do material, os fios são esticados e tensionados e caso não passem por um processo de relaxamento das fibras, tendem a encolher após a lavagem. Esse processo é geralmente aplicado a tecidos de algodão.

5. Calandragem

Nesse procedimento o tecido é espremido em alta pressão e temperatura ao passar entre cilindros em um equipamento. Dessa forma, o material tem sua superfície achatada e dá uma maior reflexão da luz, fornecendo um brilho mais intenso e melhor toque à superfície do pano.

6. Chamuscagem ou gaseamento

Esse processo tem o objetivo de eliminar por queima as fibras que ficam salientes sobre o tecido, deixando a superfície do material uniforme.

Os pequenos filamentos desordenados podem ser eliminados por placas aquecidas ou por chamas. Caso o método não seja feito, podem ocorrer problemas em relação a solidez e regularidade das estampas, por exemplo.

7. Desengomagem

Esse método é aplicado com a finalidade de retirar substâncias engomantes adicionadas aos filamentos durante a etapa de produção do tecido.

Esses elementos precisam ser eliminados das fibras, pois tendem a criar uma camada protetora sobre o tecido e impedem a aplicação adequada dos demais beneficiamentos.

8. Purga

Consiste em um processo de limpeza a úmido aplicado em meio alcalino e tem o objetivo de eliminar as impurezas presentes nas fibras: gorduras, resinas, parafinas, óleos, entre outros.

9. Flanelagem

Neste processo é realizado o repuxo de pequenos filamentos na superfície do tecido, deixando o tecido com um aspecto felpudo.

10. Lixagem

A aplicação desse método tem como objetivo obter uma superfície fibrosa no tecido, porém, ela aparece menor do que no efeito de flanelagem. Para atingir o resultado, são utilizados cilindros envoltos por lixas e a sua movimentação provoca o efeito de “pele de pêssego”

Viu só quantos processos estão envolvidos na classificação, tratamento e destino das fibras têxteis? Aqui no blog Audaces você fica por dentro de tudo sobre a Indústria 4.0, tecnologia para confecções e desenvolvimento.

Agora, que tal descobrir mais sobre a transformação digital e como ela está impactando as confecções no Brasil e no mundo todo? Até a próxima!

Manual Audaces
Enviado por Paulo Miranda em 17/06/2022
Código do texto: T7539339
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