Com os olhos no Altíssimo
A igreja-matriz de Pitangui, dedicada à padroeira da cidade, a Senhora do Pilar é centenária. Seu processo de ereção levou sete anos para se completar, justamente no mesmo terreno em que existiu sua antecessora, queimada e copiosamente pranteada no grande incêndio de 1914. Os registros fotográficos daquela época, a que tive acesso, são limitados e não traduzem o esplendor e riqueza artística, ornamental e conceitual que se atribuía àquele templo. Sem contar os arquivos que se perderam irremediavelmente.
O novo prédio em estilo neo-romano, digo com pouca convicção arquitetural, não deixa de ser imponente, sobretudo pelo avantajado porte. Até pouco mais de meio-século inspirava mais os fiéis e até mesmo os incréus. Até andorinhas esvoaçantes de seu teto, que hoje não passam de lembrança, davam-lhe ar de mais aconchego, sem contar os altares laterais que foram removidos, com a renovação dos anos sessenta.
Mas vamos ao adro...que já sujeito a algumas reformas conserva umas lajotas circulares que se impõem mais cuidado no caminhar, sobretudo para os saltos agulha de hoje em dia, mantêm um charme austero e singelo, mas indelével.
A balaustrada é que perdeu o seu. A meu ver e a meu não ver. Tento explicar: apoiadas sobre elas, muitas moças casadoiras ficavam a apreciar o movimento que se fazia logo abaixo, mormente nos fins de semana, quando o footing era moda, inocentemente ignorando o golpe que a televisão lhe daria, prendendo todo mundo em casa nas melhores horas da noitinha...
Mas enquanto os televisores eram ainda raros e não mais do que símbolos de status econômico-social, a mentalidade de um vigário conservador e a cabeça de um prefeito ultra-sintonizado com sua linha doutrinária, uniram-se e tamparam com argamassa os vãos dos balaústres, e naturalmente, o ânimo da rapaziada, e porquê não dizer, também de gente mais erada, deixando de contar com as revelações do Altíssimo, deu uma serenada, e foram cobiçar suas miradas em bandas mais arejadas...