Uma pessoa não é otimista simplesmente porque nasce com essa característica. Nem é generosa, afetuosa, confiante, paciente, tolerante, porque esses sejam traços inerentes à sua personalidade. Se as pessoas são como são, elas aprenderam a ser assim. E o que alguém foi capaz de aprender, todo mundo pode, para o bem ou para o mal. Mas se acreditarmos que as pessoas eficientes são assim porque têm dons especiais, então jamais nos motivaremos para aprender a ser como elas. Essa, realmente, não é uma boa crença.
Aprendemos a ser otimistas ou pessimistas da mesma  forma que aprendemos uma profissão. Isso quer dizer que existe um processo de aprendizagem por trás de uma personalidade otimista ou pessimista. Nós escolhemos ser uma coisa ou outra, da mesma forma como escolhemos uma carreira, um parceiro para formar uma família, um sócio para os negócios, uma escola para nossos filhos, etc. Essa é mais uma das escolhas que fazemos na vida e como muitas delas, geralmente a fazemos inconscientemente.   
    Como temos livre arbítrio, podemos escolher o que nos convém. Olhar o lado ruim de uma experiência e ficar se orientando pelos influxos dos maus resultados obtidos com ela, certamente não é uma atitude que fará com que uma pessoa se torne otimista. Da mesma forma, pautar nossa conduta pelos prejuízos que uma pessoa generosa teve em razão da sua generosidade também não ajudará ninguém a adquirir essa qualidade. Carinho, amor, confiança, paciência, tolerância, etc. são características de personalidade que não se adquirem tratando as pessoas com desconfiança, brutalidade, agressividade, intolerância e desprezo.
      Nossos atributos de personalidade constituem o conjunto que chamamos de caráter. São informações codificadas que correspondem à noção neurológica que temos do significado que associamos ao referido comportamento. Nós as chamamos de crenças, valores, critérios de julgamento, pontos de vista, etc. 

De uma forma geral, os povos anglo-saxões associam ao comportamento denominado “pontualidade” uma noção de respeito para com os compromissos assumidos. Comparecer pontualmente aos encontros marcados, para eles, equivale a respeitar o tempo das pessoas neles envolvidas. E respeitar o tempo das pessoas é o mesmo que respeitá-las.
    Há pessoas que associam ao cumprimento da palavra dada uma noção de responsabilidade ainda maior que aquela que atribuem aos contratos formais. Confiar e ser confiável para os outros lhes parece mais importante que qualquer garantia formal que alguém possa oferecer. Outras há, entretanto, que parecem não estimar muito essas características. Consideram-nas meras formalidades que podem ser descumpridas sem maiores conseqüências.   
    Nossos comportamentos têm uma dupla face. Externamente eles se manifestam em nossa fisiologia e nos nossos atos cotidianos. São as coisas que fazemos, como dormir, comer, sorrir, fazer amor, jogar futebol, tomar uma cerveja, falar, cantar, agredir, acariciar, arrumar a casa, correr, etc. Internamente, eles se manifestam nos sentimentos que temos em relação às coisas. São emoções e pensamentos que constituem um processo neurológico interior, desenvolvido segundo padrões desconhecidos da nossa consciência.
       A maioria dos nossos processos internos, embora inconscientes, reflete exteriormente. Nem sempre sabemos por que estamos aborrecidos, temerosos, confiantes ou curiosos. Todavia, algo ocorreu, dentro de nós, para que nós nos sentíssemos assim.

Concluir que a vida vale a pena ser vivida, ou que é um fardo pesado que precisa ser arriado, também é resultado de encadeamentos semelhantes.
Assim, da mesma forma que aprendemos a fazer tais encadeamentos mentais, é possível também ter controle sobre o processo que gera os  nossos estados internos. Destarte, uma pessoa pode aprender a ser alegre ou triste, agitada ou tranqüila, confiante ou insegura, corajosa ou medrosa, etc., pois cada um desses estados são traços de personalidade, adquiridos através de um aprendizado, muitas vezes inconsciente, mas, em suas características básicas, semelhante a qualquer processo pedagógico.
Os melhores modeladores que conhecemos são as crianças. Observar como elas duplicam o comportamento dos adultos é uma verdadeira aula de como se aprende a aprender. Rir para um bebê e ver como ele, espontaneamente, retribui o sorriso; pular e sapatear diante de um grupo de crianças pequenas e ver como elas acompanham os movimentos automaticamente; ensaiar um coro que elas repetem sem dificuldade, tudo isso prova que temos uma tendência inata para aprender qualquer coisa, desde que queiramos e tenhamos disposição para isso. Depois que ficamos adultos e desenvolvemos uma série de filtros mentais é que substituímos essa maravilhosa capacidade de modelagem por outra forma de aprendizado que, muitas vezes, não compensa a perda.
Personalidade, portanto, não é destino, não é herança, nem qualidade inata, presente no gabarito biológico de uma pessoa, sem que ela possa exercer qualquer controle sobre esses atributos. É aprendizado, e como tal, pode ser adquirido, modificado, transmitido.
(continua)