Na emoção das nossas experiências,
Mora a fonte da nossa sensibilidade.
Pois a dor e o prazer são as ciências,
Que moldam a nossa personalidade.
Quanto mais forte for o sentimento,
Que uma vivência nos trás à mente,
Mais ela influenciará o pensamento
E toda ação será apenas recorrente.
O repertório das nossas referências,
E o que, através delas a gente sente,
É um mapa das nossas consciências.
Mas, para que ele não seja ilusório,
É necessário vivê-las intensamente,
Porque um mapa não é o território.
♀
A realidade e a ilusão
Existe uma grande diferença entre o que o mundo da realidade é de fato e o que pensamos que ele é. Quer dizer: o mundo que temos dentro da nossa cabeça nem sempre corresponde ao que existe fora dela.
Isso não significa que nós vivemos em mundos irreais ou falsos, como de início se pode supor quando se coloca uma proposição desse tipo. O mundo real não é uma mera ilusão, como ensinam algumas religiões, e também algumas correntes filosóficas.[1]
O que na verdade existe é uma grande defasagem entre a realidade, tal como ela acontece e a forma como nós a experimentamos em nossos sentidos. E principalmente na incapacidade da nossa linguagem em comunicá-la ao nosso sistema neurológico como informação consistente. Daí sucede os diferentes resultados que cada pessoa apresenta em face das mesmas experiências e das mesmas condições de aprendizado e vivências.
Vejamos um exemplo. Duas pessoas observam a mesma cena. Perguntemos a elas o que viram, ouviram e sentiram. Dificilmente as respostas serão coincidentes. Uma terá visto coisas que a outra não viu. Uma delas terá prestado mais atenção nos sons que a outra. Uma terá percebido melhor as condições ambientes de cheiro, aroma, tato etc. Assim, cada pessoa, em face do mesmo fato, terá um conjunto diferente de informações sobre esse fato. Consequentemente também reagirá de forma diversa.
Todos sabemos que somos diferentes uns dos outros. Só não sabemos o quanto somos diferentes. Uns são mais outros são menos. E essas diferenças são produzidas pelo uso inadequado dos nossos sentidos e pela interpretação equivocada da informação que eles transmitem ao nosso cérebro. Quanto mais eu me aferro à minha visão de mundo, mais eu me afasto das pessoas que estão vendo o mundo de outra forma; quanto mais eu me ligo no meu diálogo interno, menos eu consigo ouvir a voz dos outros, quanto mais eu me afirmo em meus próprios sentimentos, menos eu consigo entender e compartilhar dos sentimentos alheios.
Tente fazer uma experiência prática nesse sentido. Procure ouvir e entender o que os outros estão dizendo sem calar aquela voz interior que já está elaborando uma resposta antes mesmo do outro terminar de expressar o seu pensamento. Tente fazer uma imagem mental da informação que está recebendo sem antes limpar da sua tela mental a imagem que você mesmo já fez daquela informação. Tente sentir um aroma, um tato, um paladar novos, sem tirar da sua mente as informações sobre aromas, tatos e paladares que você já têm registrados nela. Você verá quanta dificuldade existe na recepção de uma informação porque a nossa mente, antes mesmo de recepcioná-la já está está tentando filtrá-la e encaixá-la nos escaninhos da própria sabedoria que nós temos em relação ao assunto que ela se refere. E, no mais das vezes, basta olhar para o rosto da pessoa, e ver as contrações que ela faz, para o movimento dos seus olhos, para a sua postura corporal, para saber como ela está recebendo a nosssa comunicação. Quantas vezes você já ouviu alguém lhe dizer, ou você mesmo dizer para alguém: você não está me ouvindo! Ou então "você não está vendo o que está acontecendo!", ou "você não tem sensibilidade!" etc.
Pois assim é. Cada experiência vivida pelo nosso organismo é uma informação. E ela nos chega na sua totalidade. Mas a nossa mente registra somente uma pequena parte dela. Ela filtra a informação e registra somente a parte que ela julga útil, interessante, verdadeira, de acordo com as nossas crenças, valores, desejos e outros critérios de julgamento, tais como necessidades, temores etc. Essa é a parte da informação que a gente entende, aceita, acredita, aproveita. É assim que a nossa verdade se forma. Sempre uma meia verdade, uma verdade particular, uma verdade feita de informações escolhidas pelos modelos mentais que temos do mundo. Por isso Schopenhauer disse que o mundo era feito de vontade e representação.
Mora a fonte da nossa sensibilidade.
Pois a dor e o prazer são as ciências,
Que moldam a nossa personalidade.
Quanto mais forte for o sentimento,
Que uma vivência nos trás à mente,
Mais ela influenciará o pensamento
E toda ação será apenas recorrente.
O repertório das nossas referências,
E o que, através delas a gente sente,
É um mapa das nossas consciências.
Mas, para que ele não seja ilusório,
É necessário vivê-las intensamente,
Porque um mapa não é o território.
♀
A realidade e a ilusão
Existe uma grande diferença entre o que o mundo da realidade é de fato e o que pensamos que ele é. Quer dizer: o mundo que temos dentro da nossa cabeça nem sempre corresponde ao que existe fora dela.
Isso não significa que nós vivemos em mundos irreais ou falsos, como de início se pode supor quando se coloca uma proposição desse tipo. O mundo real não é uma mera ilusão, como ensinam algumas religiões, e também algumas correntes filosóficas.[1]
O que na verdade existe é uma grande defasagem entre a realidade, tal como ela acontece e a forma como nós a experimentamos em nossos sentidos. E principalmente na incapacidade da nossa linguagem em comunicá-la ao nosso sistema neurológico como informação consistente. Daí sucede os diferentes resultados que cada pessoa apresenta em face das mesmas experiências e das mesmas condições de aprendizado e vivências.
Vejamos um exemplo. Duas pessoas observam a mesma cena. Perguntemos a elas o que viram, ouviram e sentiram. Dificilmente as respostas serão coincidentes. Uma terá visto coisas que a outra não viu. Uma delas terá prestado mais atenção nos sons que a outra. Uma terá percebido melhor as condições ambientes de cheiro, aroma, tato etc. Assim, cada pessoa, em face do mesmo fato, terá um conjunto diferente de informações sobre esse fato. Consequentemente também reagirá de forma diversa.
Todos sabemos que somos diferentes uns dos outros. Só não sabemos o quanto somos diferentes. Uns são mais outros são menos. E essas diferenças são produzidas pelo uso inadequado dos nossos sentidos e pela interpretação equivocada da informação que eles transmitem ao nosso cérebro. Quanto mais eu me aferro à minha visão de mundo, mais eu me afasto das pessoas que estão vendo o mundo de outra forma; quanto mais eu me ligo no meu diálogo interno, menos eu consigo ouvir a voz dos outros, quanto mais eu me afirmo em meus próprios sentimentos, menos eu consigo entender e compartilhar dos sentimentos alheios.
Tente fazer uma experiência prática nesse sentido. Procure ouvir e entender o que os outros estão dizendo sem calar aquela voz interior que já está elaborando uma resposta antes mesmo do outro terminar de expressar o seu pensamento. Tente fazer uma imagem mental da informação que está recebendo sem antes limpar da sua tela mental a imagem que você mesmo já fez daquela informação. Tente sentir um aroma, um tato, um paladar novos, sem tirar da sua mente as informações sobre aromas, tatos e paladares que você já têm registrados nela. Você verá quanta dificuldade existe na recepção de uma informação porque a nossa mente, antes mesmo de recepcioná-la já está está tentando filtrá-la e encaixá-la nos escaninhos da própria sabedoria que nós temos em relação ao assunto que ela se refere. E, no mais das vezes, basta olhar para o rosto da pessoa, e ver as contrações que ela faz, para o movimento dos seus olhos, para a sua postura corporal, para saber como ela está recebendo a nosssa comunicação. Quantas vezes você já ouviu alguém lhe dizer, ou você mesmo dizer para alguém: você não está me ouvindo! Ou então "você não está vendo o que está acontecendo!", ou "você não tem sensibilidade!" etc.
Pois assim é. Cada experiência vivida pelo nosso organismo é uma informação. E ela nos chega na sua totalidade. Mas a nossa mente registra somente uma pequena parte dela. Ela filtra a informação e registra somente a parte que ela julga útil, interessante, verdadeira, de acordo com as nossas crenças, valores, desejos e outros critérios de julgamento, tais como necessidades, temores etc. Essa é a parte da informação que a gente entende, aceita, acredita, aproveita. É assim que a nossa verdade se forma. Sempre uma meia verdade, uma verdade particular, uma verdade feita de informações escolhidas pelos modelos mentais que temos do mundo. Por isso Schopenhauer disse que o mundo era feito de vontade e representação.
[1] Como as doutrinas de origem oriental, que sustentam ser a vida material uma ilusão dos sentidos, ou maya, conceito hindú\budista para aparência, ilusão. Esse conceito também aparece nas doutrinas religiosas e filosóficas do ocidente, particularmente o chamado estoicismo, que prega o desapego aos bens materiais como forma de elevação espiritual, e na própria filosofia de Schopenhauer, que vê o mundo como vontade e representação. Essa ideia também é encontrada na doutrina de Platão, no seu conceito dos “universais”, ou seja, de que o mundo material é uma projeção do mundo espiritual, formatado pelos “arquétipos”. (conceitos formatados no mundo dos deuses e que são transmitidos aos homens para organização do mundo material. Na interpretação viciada desses conceitos estaria a razão dos erros humanos).