A QUÍMICA DO AMOR E DA FIDELIDADE
Quando se fala sobre amor e fidelidade, várias idéias têm sido apresentadas ao longo dos tempos. Artigos em revistas e jornais, livros, documentários fazem abordagens apresentando aspectos diferentes. Desde o pensamento romântico até às posições realistas, poetas, filósofos, psicólogos, neurocientistas, religiosos têm expressado opiniões. Entre as várias explicações destaco aquela que tem sido fornecida pela neurociência, considerando, neste caso, os aspectos químicos que estão associados ao amor e à fidelidade.
Além das descobertas das endorfinas como parte integrante das reações químicas provocadas pela atração entre duas pessoas, outra substância foi descoberta e tem sido objeto de pesquisas e conclusões. Trata-se da oxitocina. É uma substância produzida pelo hipotálamo, que coordena as interações entre hormônios e neurônios. Depois de armazenada na glândula pituitária, ao ser liberada perifericamente está associada á maternidade, participando diretamente no parto e na estimulação do leite das mamas. Quando é liberada centralmente fica associada a outros processos do organismo e principalmente na interação social afetiva e libido na experiência de atração amorosa. Liberada desta maneira passou a ser conhecida como hormônio do amor. Participando da relação sexual diretamente, é responsável pelo aumento do interesse, libido, lubrificação feminina, frequência de ereções e intensificação do orgasmo (http://www.estimulacaoneurologica.com.br/Noticias.aspx?cod=26).
Recentemente foi publicado outro estudo sobre esse hormônio associando-o à fidelidade conjugal. Uma neurocientista mencionou um estudo feito comparativamente entre dois tipos de ratos. O tipo chamado arganaz-do-campo tem um estilo de vida em que os casais são féis um ao outro, cuidando responsavelmente da prole. Tem o estilo conhecido como “casaram e foram felizes para sempre”. O outro tipo conhecido com arganaz-montanhês tem estilo de vida promíscuo, sem dar valor ao ninho e à prole. Os estudos de natureza hormonal constatou no primeiro tipo a presença dos hormônios oxitocina nas fêmeas e vasopressina nos machos durante o ato sexual. No segundo tipo, porque os receptores para os hormônios não são sensíveis para recepção, não existe afetividade ao parceiro e sim promiscuidade. Em outras palavras, embora sejam espécies próximas, são diferentes em função da captação desses hormônios no cérebro. O arganaz-do-campo não só tem o ato sexual como também a partir da experiência estabelece um vínculo definitivo. O arganaz-montanhês uma vez submetido à injeção no cérebro para forçar a captação dos hormônios tornou-se monógamo. Concluiu-se que na experiência com os ratos, toda a diferença comportamental estava relacionada à captação e presença desses hormônios no cérebro (HOUZEL, Suzana Herculano. Cuide-se! Sexo é cola – para alguns. Artigo publicado na Revista Mente e Cérebro, ano XX, n° 254, março de 2014, pg. 17).
Aplicando o resultado dos estudos aos seres humanos uma vez que também produzem esse hormônio e já foram constatados seus efeitos sobre a sexualidade, afetividade e sociabilidade, levanta-se a hipótese que a monogamia ou a promiscuidade estaria também relacionadas aos hormônios. Na hipótese, para que houvesse fidelidade, além de outros determinantes, pois os seres humanos são muito mais complexos do que ratos, a produção, recepção e presença desses hormônios fariam diferença. Partindo do pressuposto de que não existam anomalias funcionais no cérebro, uma pergunta imediatamente segue-se à essa hipótese: Como aumentar a produção de oxitocina?
A resposta é antiga é está associada ao romantismo que sempre foi divulgado como necessário não apenas a um ato sexual prazeroso, mas principalmente à fidelidade conjugal. A resposta científica sobre como aumentar a oxitocina é esta: “Oxitocina é aumentada através do contato físico, abraços, massagem, atividade física, contato sexual, e atividades como canto e leitura. Os níveis de oxitocina são diminuídos pelo isolamento ou solidão, ansiedade, depressão, estresse crônico, e as deficiências nos hormônios sexuais. Os níveis de oxitocina diminuem com a idade, pois as células que produzem a oxitocina se tornam menos sensíveis a estímulos” (http://www.estimulacaoneurologica.com.br/Noticias.aspx?cod=26).
A maneira como o parceiro se relaciona é fundamental não apenas em termos de educação civilizada e preparo para o ato sexual, mas principalmente para que o ato sexual seja associado à afetividade. Numa análise mais profunda, concluímos que a fidelidade, entre outros determinantes, está no prazer de ser amado, apreciado, elogiado, valorizado, respeitado, admirado, abraçado, afagado, tocado. Sem essas atitudes, o casal terá o ato sexual, mas apenas este não será suficiente para a fidelidade. A busca pela afetividade será feita em outra pessoa, mesmo que seja incluído o ato sexual. Se também não for encontrada a afetividade, o ato sexual será mais uma vez praticado e nessa busca a pessoa acaba caindo num círculo vicioso de promiscuidade.
Se por outras determinantes como ética, moralidade, espiritualidade houver a decisão de aceitar com fidelidade a vida a dois mesmo sem afetividade, o sexo se tornará sem graça e a realização afetiva não se consumará, deixando a pessoa frustrada nesta área da vida, mesmo que tenha compensações em outras áreas.