Quem bebe café vive mais tempo
ANDREA CUNHA FREITAS
10/07/2017 - 22:13
10/07/2017 - 22:13
Os benefícios foram encontrados entre consumidores de café e de descafeinado. Ou seja, o mérito não será da cafeína. Falta agora descobrir os compostos que dão ao café um comprovado efeito protector da saúde.
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Se é daquelas pessoas que juram que não é capaz de funcionar sem café temos boas notícias para si. Esta segunda-feira foram publicados dois estudos sobre os benefícios do café e, em traços gerais, a conclusão é que quem bebe à volta de três cafés por dia vive mais tempo. Um dos trabalhos estudou a associação entre o café e a mortalidade em mais de 521 mil pessoas de dez países europeus (Portugal não está incluído), a outra investigação quis confirmar se as vantagens associadas ao consumo de café existem para todas as populações, sobretudo as “não-brancas” (japoneses americanos, afro-americanos, latinos e havaianos) que são menos estudadas.
Não é a primeira vez que se publica um estudo sobre café. Longe disso. Tal como o chocolate ou o vinho (que também contam com legiões imensas de fãs), os efeitos do café têm sido alvo de várias investigações nos últimos anos. Dizem as estimativas que todos os dias se bebem mais de dois mil milhões de chávenas de café (nas suas mais diferentes formas) em todo o mundo. Números de lado, sabemos que o café é um elemento importante na nossa dieta e que, por isso, importa estudá-lo. Apesar de ser difícil isolar os seus benefícios numa dieta e estilo de vida que inclui multiplas influências, já foram divulgados vários estudos que provaram que o consumo desta bebida pode ter um efeito protector em relação a algumas patologias, desde a diabetes do tipo II a doenças cardiovasculares, Alzheimer, Parkinson e até alguns tipos de cancro. Mas, atenção, estamos ainda na fase do “pode” ter um efeito benéfico.
Não é a primeira vez que se publica um estudo sobre café. Longe disso. Tal como o chocolate ou o vinho (que também contam com legiões imensas de fãs), os efeitos do café têm sido alvo de várias investigações nos últimos anos. Dizem as estimativas que todos os dias se bebem mais de dois mil milhões de chávenas de café (nas suas mais diferentes formas) em todo o mundo. Números de lado, sabemos que o café é um elemento importante na nossa dieta e que, por isso, importa estudá-lo. Apesar de ser difícil isolar os seus benefícios numa dieta e estilo de vida que inclui multiplas influências, já foram divulgados vários estudos que provaram que o consumo desta bebida pode ter um efeito protector em relação a algumas patologias, desde a diabetes do tipo II a doenças cardiovasculares, Alzheimer, Parkinson e até alguns tipos de cancro. Mas, atenção, estamos ainda na fase do “pode” ter um efeito benéfico.
Desta vez, meteu-se quase tudo no mesmo saco e tentou-se uma fotografia global que quis mostrar se o consumo de café está associado à mortalidade. Está. E parece ser o melhor dos casamentos contribuindo para um menor risco de morte por todas as causas. Essa é a principal conclusão de um estudo internacional, publicado na Annals of Internal Medicine e financiado pela Comissão Europeia e pela Agência Internacional para a Investigação de Cancro, que apresenta o resultado de uma análise à saúde de 521.330 pessoas de dez países europeus (Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Suécia e Reino Unido). É o maior estudo feito até à data sobre este tema. Os participantes fazem parte de um grande projecto europeu conhecido pela sigla EPIC (European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition) que acompanha (ao longo dos últimos 16 anos, em média) homens e mulheres de vários países, servindo para a análise e monitorização de diversos indicadores de saúde.
“Percebemos que um elevado consumo de café está associado a um menor risco de morte por qualquer causa e especificamente por doenças circulatórias e digestivas”, refere Marc Gunter, principal autor do estudo e investigador na Agência Internacional para a Investigação do Cancro, num comunicado do Imperial College de Londres.
“Percebemos que um elevado consumo de café está associado a um menor risco de morte por qualquer causa e especificamente por doenças circulatórias e digestivas”, refere Marc Gunter, principal autor do estudo e investigador na Agência Internacional para a Investigação do Cancro, num comunicado do Imperial College de Londres.
Surpreendentemente, o efeito protector também foi encontrado entre os consumidores de descafeinado. Porém, avisam os investigadores, a separação entre consumidores de cada uma das versões não é fácil de fazer, porque não foi possível excluir a hipótese de as pessoas que declararam beber descafeinado terem consumido café noutros períodos da sua vida. Além disso, há outros produtos que têm cafeína, como chá ou refrigerantes.
Os autores admitem ainda que o facto de os hábitos de consumo de café terem sido avaliados uma única vez é uma limitação do estudo, mas notam que a associação do consumo de café a uma vida mais longa foi constatada em todos os países. O trabalho também teve em conta as diferentes formas que o café assume na Europa, desde o expresso italiano ao cappuccino no Reino Unido, e outros hábitos dos participantes, tais como fumar.
Com a análise a biomarcadores metabólicos a um grupo mais pequeno de 14 mil pessoas foi possível ainda perceber que os consumidores de café terão um fígado mais saudável e um melhor controlo dos níveis de glucose (açúcar). “Estes resultados, juntamente com os dados de outros estudos realizados nos EUA e no Japão, dão-nos uma maior confiança para afirmar que o café pode ter efeitos benéficos na saúde”, conclui Marc Gunter.
Sim, pode ter. “Tendo em conta as limitações da investigação, ainda não estamos na fase de recomendar às pessoas para beber mais ou menos café. Dito isto, os nossos resultados sugerem que um consumo moderado – até cerca de três chávenas por dia – não prejudica a sua saúde e que incorporar o café na sua dieta pode ser benéfico para a saúde”.
A droga ideal
Mas o que é que falta saber para afirmar que o café é benéfico? Falta esclarecer como é que isto acontece. Qual é o composto que o café tem que consegue alcançar este efeito protector no nosso organismo e como funciona esse mecanismo.
Portugal não está respresentado neste vasto estudo, mas há várias equipas de investigação no país que já fizeram descobertas relacionadas com o café. Por exemplo, Luísa Lopes, investigadora do Insituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, examinou a relação do café com a doença de Parkinson e demonstrou que a cafeína conseguia interferir na agregação tóxica de uma proteína que está muito associada aos doentes de Parkinson, que é a alfa-sinucleína. Ou seja, tinha um efeito protector numa doença neurodegenerativa.
Para a cientista, os resultados do estudo publicado esta segunda-feira são entusiasmantes, mas não são surpreendentes. “Não me surpreende, porque já tínhamos algumas pistas de que o café era protector em várias doenças associadas ao envelhecimento da população e doenças crónicas: diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas”, explica, deixando também a grande questão no ar: “Ainda não sabemos é porquê”. No entanto, a associação com a longevidade e o número de pessoas estudadas fazem deste estudo "um ponto de partida muito interessante para tentar saber mais”.
Falta agora “dissecar” os resultados estudando pequenos grupos, comparar grupos de pessoas que bebem café com pessoas que não bebem café, identificar os compostos e mecanismos que são responsáveis por este benefício. “O que provavelmente se segue são estudos muito mais focados, em modelos animais e estudos humanos com grupos mais pequenos, para conseguir dissecar estas conclusões, dar os compostos a cada grupo e ver o que acontece”, prevê a investigadora.
Mas, tal como já referimos, a edição da Annals of Internal Medicine tem dois estudos sobre café. Num outro artigo, os investigadores da Universidade de Califórnia do Sul (nos EUA) tentaram perceber como o consumo desta bebida afectava a saúde em diferentes populações. O estudo (Multiethinc Cohort)acompanhou mais de 185 mil pessoas durante uma média de 16 anos. Neste grupo encontravam-se afro-americanos, nativos americanos, havaianos, japoneses americanos, latinos e brancos. Mais uma vez, os investigadores confirmaram que o consumo de café estava associado a um menor risco de morte por doença cardíaca, cancro, AVC (Acidente Vascular Cerebral), diabetes e doenças respiratórias e do fígado, mas, desta vez, também nas populações não-brancas que são menos estudadas.
E, concluíram, quanto mais, melhor. Até um certo ponto, claro. “As pessoas que consomem uma chávena por dia têm menos 12% de probabilidade de morrer mais cedo quando as comparamos com as que não bebem café. A associação é ainda mais forte para os que bebem duas a três chávenas por dia, que têm uma redução na ordem dos 18%”, refere um comunicado sobre este estudo que também não encontrou diferenças entre os consumidores de café e descafeinado.
O segredo do café pode até não ser a cafeína mas outros dos seus muitos e variados compostos, desde antioxidantes a vitaminas. E podemos não saber por que faz bem, mas sabemos por que sabe tão bem e é fácil perceber o fenómeno à escala mundial. Luísa Lopes admite que também é fã de café - “nunca mais de dois por dia” - e explica o seu sucesso. “É natural, é uma das bebidas psicoactivas mais populares no mundo. Tem a vantagem enorme de ter poucos efeitos secundários (eventualmente, cefaleias em caso de privação) e pode ser consumida durante muitos anos sem que o efeito se perca com o tempo e sem que o consumidor sinta a necessidade de aumentar a dose. É digestivo. É diurético. Depois tem aquele efeito de alerta que é muito rápido e é o seu principal trunfo. É quase a droga ou fármaco ideal para aumentar o desempenho cognitivo. E, ainda por cima, é barato”. Hoje, juntando estes velhos argumentos às boas notícias, o seu café vai saber ainda melhor.
Os autores admitem ainda que o facto de os hábitos de consumo de café terem sido avaliados uma única vez é uma limitação do estudo, mas notam que a associação do consumo de café a uma vida mais longa foi constatada em todos os países. O trabalho também teve em conta as diferentes formas que o café assume na Europa, desde o expresso italiano ao cappuccino no Reino Unido, e outros hábitos dos participantes, tais como fumar.
Com a análise a biomarcadores metabólicos a um grupo mais pequeno de 14 mil pessoas foi possível ainda perceber que os consumidores de café terão um fígado mais saudável e um melhor controlo dos níveis de glucose (açúcar). “Estes resultados, juntamente com os dados de outros estudos realizados nos EUA e no Japão, dão-nos uma maior confiança para afirmar que o café pode ter efeitos benéficos na saúde”, conclui Marc Gunter.
Sim, pode ter. “Tendo em conta as limitações da investigação, ainda não estamos na fase de recomendar às pessoas para beber mais ou menos café. Dito isto, os nossos resultados sugerem que um consumo moderado – até cerca de três chávenas por dia – não prejudica a sua saúde e que incorporar o café na sua dieta pode ser benéfico para a saúde”.
A droga ideal
Mas o que é que falta saber para afirmar que o café é benéfico? Falta esclarecer como é que isto acontece. Qual é o composto que o café tem que consegue alcançar este efeito protector no nosso organismo e como funciona esse mecanismo.
Portugal não está respresentado neste vasto estudo, mas há várias equipas de investigação no país que já fizeram descobertas relacionadas com o café. Por exemplo, Luísa Lopes, investigadora do Insituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, examinou a relação do café com a doença de Parkinson e demonstrou que a cafeína conseguia interferir na agregação tóxica de uma proteína que está muito associada aos doentes de Parkinson, que é a alfa-sinucleína. Ou seja, tinha um efeito protector numa doença neurodegenerativa.
Para a cientista, os resultados do estudo publicado esta segunda-feira são entusiasmantes, mas não são surpreendentes. “Não me surpreende, porque já tínhamos algumas pistas de que o café era protector em várias doenças associadas ao envelhecimento da população e doenças crónicas: diabetes, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas”, explica, deixando também a grande questão no ar: “Ainda não sabemos é porquê”. No entanto, a associação com a longevidade e o número de pessoas estudadas fazem deste estudo "um ponto de partida muito interessante para tentar saber mais”.
Falta agora “dissecar” os resultados estudando pequenos grupos, comparar grupos de pessoas que bebem café com pessoas que não bebem café, identificar os compostos e mecanismos que são responsáveis por este benefício. “O que provavelmente se segue são estudos muito mais focados, em modelos animais e estudos humanos com grupos mais pequenos, para conseguir dissecar estas conclusões, dar os compostos a cada grupo e ver o que acontece”, prevê a investigadora.
Mas, tal como já referimos, a edição da Annals of Internal Medicine tem dois estudos sobre café. Num outro artigo, os investigadores da Universidade de Califórnia do Sul (nos EUA) tentaram perceber como o consumo desta bebida afectava a saúde em diferentes populações. O estudo (Multiethinc Cohort)acompanhou mais de 185 mil pessoas durante uma média de 16 anos. Neste grupo encontravam-se afro-americanos, nativos americanos, havaianos, japoneses americanos, latinos e brancos. Mais uma vez, os investigadores confirmaram que o consumo de café estava associado a um menor risco de morte por doença cardíaca, cancro, AVC (Acidente Vascular Cerebral), diabetes e doenças respiratórias e do fígado, mas, desta vez, também nas populações não-brancas que são menos estudadas.
E, concluíram, quanto mais, melhor. Até um certo ponto, claro. “As pessoas que consomem uma chávena por dia têm menos 12% de probabilidade de morrer mais cedo quando as comparamos com as que não bebem café. A associação é ainda mais forte para os que bebem duas a três chávenas por dia, que têm uma redução na ordem dos 18%”, refere um comunicado sobre este estudo que também não encontrou diferenças entre os consumidores de café e descafeinado.
O segredo do café pode até não ser a cafeína mas outros dos seus muitos e variados compostos, desde antioxidantes a vitaminas. E podemos não saber por que faz bem, mas sabemos por que sabe tão bem e é fácil perceber o fenómeno à escala mundial. Luísa Lopes admite que também é fã de café - “nunca mais de dois por dia” - e explica o seu sucesso. “É natural, é uma das bebidas psicoactivas mais populares no mundo. Tem a vantagem enorme de ter poucos efeitos secundários (eventualmente, cefaleias em caso de privação) e pode ser consumida durante muitos anos sem que o efeito se perca com o tempo e sem que o consumidor sinta a necessidade de aumentar a dose. É digestivo. É diurético. Depois tem aquele efeito de alerta que é muito rápido e é o seu principal trunfo. É quase a droga ou fármaco ideal para aumentar o desempenho cognitivo. E, ainda por cima, é barato”. Hoje, juntando estes velhos argumentos às boas notícias, o seu café vai saber ainda melhor.