Pensamento suicida.
( Relato verídico de uma pessoa com pensamentos suicida ).
" O suicídio é uma idéia latente dentro de mim, me corroendo a alma e o coração, um desejo que queima, que arde, as vezes vem forte, muito forte, muito mais forte do que eu. Eu tento despistá-lo, mas não consigo, às vezes eu o desejo, ele corre de mim, às vezes é ele que me deseja, eu me escondo dele. Minha vida é essa inconstância.
O suicídio me deseja a tanto tempo, que já perdi as contas, houve momentos da minha vida que quase cedi aos seus encantos insanos, um momento de desespero, de angústia, de dor, nas mãos uma corda, grossa corda. Lá estava o meu pescoço, desejando a corda, cortejando a morte, mas nesse dia ela fugiu de mim, a morte não me quis, ela parece não me querer; ou sou eu que nunca quis a morte, agora estou confuso.
O suicídio me atormenta em dias de silêncio, profundo silêncio, penso nele de muitas maneiras; existem várias maneiras de se pensar nele, eu sei que tem maneiras diferentes de pensar nele, ele mesmo me disse, ele mesmo me mostra. Não é só a corda, não é só a bala de um revólver, não é só se jogar de uma ponte, não é só pular de um prédio, não é só se jogar debaixo de uma carreta, não é só se ferir com uma faca, não é, não é isso, é muito mais.
O suicídio veio cantando sua fúnebre canção, os braços estavam abertos, um largo sorriso no rosto, lá estava ele, em um pequeno frasco desconcertado, clamando pelo meu nome, querendo a doçura de meus lábios, eu sem ter o que fazer, sem ter como me defender; eu que relutei, dentro de mim era uma confusão só, parte de mim queria aquilo, parte de mim não queria; ah...que terrível contradição.
O suicídio é como uma sombra que me persegue, me espreita por onde quer que eu vá, sempre silencioso, sempre sombrio, frio como as noites mais geladas, purificar a alma com seus gemidos misteriosos, na calada da noite ele se esconde, atrás do véu de mistérios ele se oculta, em noites sem luar onde não há um mínimo de luz, sem compreensão do perigo, eu não me importo, não me incomodo.
O suicídio beijou-me outro dia, seus lábios tinham gosto de morte, suave gosto, suave veneno a correr por minhas veias, a inundar meu coração, cegando os meus olhos, eu já não vejo as cores no mundo, aos poucos tudo é preto e branco, os aromas e perfumes, aos poucos tornam-se em cheiro de cemitério, todo o meu universo aos poucos se dilui, perde a força vital da vida, e a vida transforma - se em morte.
O suicídio é uma idéia um tanto quanto egocêntrica, talvez algum psicológico diga que meus laços com a sociedade ao meu redor são tênues demais, talvez sim, talvez seja isso mesmo, uma vez que a sociedade também ajudou na minha destruição, de dentro para fora aliás, minha relação com meus semelhantes é uma impossibilidade grandiosa, eu os suporto os tolero, mas no fundo, não me adapto.
O suicídio é o meu café da manhã, de todos os dias, eu coloco o suicídio na fatia do pão, junto com o café, na sobremesa, na hora do almoço, ele adoça meu suco, e amarga o meu coração, o seu reflexo está na faca que uso para cortar os alimentos, na faca usada para cortar o pão, em qualquer vil metal cortante, eu sempre vejo o meu reflexo, eu sempre o vejo em um caixão de madeira, estendido eternamente diante de mim.
O suicídio é uma arte, uma pintura na tela negra do pensamento, com cores sombrias, cores medrosas, cores covardes, uma tela sem sentido para quem contempla, mas para o artista que a pintou, ela é perfeitamente compreensível. Ele também é artista, sempre pintando o caminho das almas condenadas ao esquecimento, almas carregadas de cores de tristeza, cores mortas, a arte da morte é bela.
O suicídio é silencioso como Van Gogh, intenso como Picasso, seu pincel é uma foice afiada no pescoço, pronto para usar a tinta vermelha do meu sangue, tinta maravilhosamente bela. A tela é uma caixa de madeira, exposta nas profundezas da terra, sete palmos de profundidade; por cima uma cama de grama, cobrindo o descanso eterno, de uma alma falida, vencida, perdida no esquecimento.
O suicídio é a noite escura sem estrelas, sem luar, noite cheia de quimeras do passado, cheia de gritos e arrepios, cheia de coisas estranhas que não compreendo, ele porém, é um ótimo observador, fica de longe espreitando, estudando os meus passos, medindo as minhas ações, e quando vê uma brecha, um momento de descuido, ele ataca com ferocidade, causando feridas enormes, férias que não se cura.
O suicídio é um emaranhado de idéias pequenas, todas devidamente trançadas, de um modo tão perfeito, que aquelas tênues idéias isoladas, agora é uma corda forte, amarrada a meu pescoço, essa corda de morte, é mais forte do que eu, superei minhas forças, as minhas vontades, e quando por fim ela der o aperto final, será o fim, mas ela parece brincar , desafiar, é um gato brincando com suas presas."
O suicídio é tão desejado por tantas mentes fracas, é tão almejado pelos corações levianos, mas que é pouco executado, nem todos os que dizem ser suicidas em potencial conseguem concretizar o ato de tirar a própria vida, por medo talvez, medo do que poderá encontrar do outro lado, afinal, morrer é apenas mudar de lado, não existe apenas este lado, não é só essa vida, poucos sabem disso, mas o suicida tem destino certo do outro lado.
O suicídio é apenas uma passagem para o inferno, digo a verdade é não minto, eu não sou um suicida, mas tentei escrever como se fosse um, a mente de um suicida é complexa, cheia de altos e baixos, de momentos de extremo desespero e raros momentos de calmaria. O suicídio é algo real em nossa sociedade, pessoas se matam por nada, e por nada descobrem uma eternidade de sofrimento. O é o caminho mais fácil para o inferno.