A METÁFORA DO ESPELHO
 
     Num lugar muito distante do interior, morava um casal que jamais vira um espelho na vida. Um dia, um parente que vivia na cidade foi visitá-los, e vendo que os coitados nunca tinham visto suas próprias imagens, resolveu presenteá-los com um belo espelho. Para fazer-lhes uma surpresa, pendurou-o atrás da porta de um guarda-roupa que havia no quarto deles. Quando o marido abriu o guarda-roupa e viu sua imagem ali refletida, chamou imediatamente a mulher e ameaçou matá-la, dizendo que ela estava ocultando um amante dentro do armário. A mulher, por sua vez, quando viu sua imagem no espelho, começou a ofender o marido dizendo que era ele que estava ocultando uma mulher dentro do guarda-roupa. Para resolver a questão chamaram o pároco do lugar, o qual também jamais vira um espelho na vida. O pároco, ao ver sua imagem refletida no cristal, sentenciou, sabiamente: “ O que há dentro desse guarda-roupa não é homem nem mulher, mas sim, um homem vestido de mulher”.


          Todo comportamento reflete um processo neurológico interno e sua manifestação exterior carrega informações precisas sobre o desenvolvimento desses processos. Isso quer dizer que nenhuma atitude é desvinculada de um contexto e de uma finalidade. Como iremos responder a um determinado estímulo é uma função da interpretação que faremos dele no contexto em que vivemos e de acordo com as finalidades a que se destina.
     Assim, pessoas que tiveram experiências com traições conjugais no seio da família, tendem a crescer desconfiando de tudo e de todos. São homens, ou mulheres que ficam atentos a todo telefonema que o parceiro recebe, na expectativa de surpreendê-los falando com um hipotético (a) amante. Na vida profissional estarão sempre desconfiando dos sócios e companheiros de trabalho, sempre esperando uma "puxada de tapete" ou qualquer outro tipo de traição. Por outro lado, pessoas que ouviram, durante boa parte da vida, palavras duras, ásperas, ofensivas, proferidas contra ele ou contra alguém do seu relacionamento, tenderá a interpretar qualquer comentário menos claro a seu respeito como ofensa, ou como tentativa de desqualificação.

      Da mesma forma, aromas, imagens e sabores despertarão comportamentos associados a uma determinada interpretação desses estímulos. Há pessoas que dizem que comer manga com leite faz mal mesmo sem nunca ter provado essa combinação. Provavelmente foi uma informação recebida de alguém.  E quantas pessoas não temem a visão de um gato preto passando na sua frente?            
     A interpretação que fazemos dos acontecimentos é uma representação interna que fazemos dele. Ela decorre da forma como comunicamos esse acontecimento á nossa mente. Alguém nos diz alguma coisa e nós dizemos a nós mesmos que o individuo está querendo dizer isto ou aquilo. Alguém faz alguma coisa e nós dizemos a nós mesmos que o individuo está fazendo isso e aquilo. A representação mental que fazemos do comportamento alheio e dos acontecimentos é, pois, uma função da decodificação que fazemos da mensagem recebida.  Assim, o que chega á nossa mente é sempre uma meta-mensagem, ou seja, uma interpretação do fato ocorrido e nunca uma imagem limpa e descontaminada do fato.
       
     Como nunca sabemos como as coisas são na verdade, o que resta é sempre o que imaginamos que seja. Quer dizer, a verdade, para nós é a imagem que fazemos do acontecimento. Assim, se você é do tipo que não arreda pé do seu ponto de vista e arrisca-se a perder tudo só para provar que está certo, lembre-se que o mundo é sempre um espelho da sua mente. Ele só reflete o que você quer ver nele.