ROUBADOS DE NÓS MESMOS
Em cada dia, com uma exata percepção, há uma nova oportunidade para podermos aperfeiçoar nossa capacidade humana de sermos melhores. Neste momento, neste agora, no lugar em que estamos há um instante supremo e totalmente singular. Esta hora, irrefutavelmente, nunca mais se repetirá! Este segundo, inegavelmente, sobrevirá novamente em nossa existência! Sob esse prisma, refletimos o quanto devotamos de valor ao tempo, ao implacável tempo que nos ronda! É muito provável que se soubéssemos que a vida seria ceifada amanhã, às dezesseis horas, iríamos perpetrar o que realmente é significativo a nós! Ou não, se pressentíssemos que iríamos perder o nosso sopro vital, faríamos tudo ao leo. Enveredaríamo-nos somente nos lazeres, nos prazeres efêmeros e no que traz deleite? De qualquer forma, é possível dizer que vivemos bem, com qualidade, com o devido zelo e cuidado com o corpo, com a saúde e com a mente? Nesse limiar, o filósofo turco, Heráclito nos alerta sobre a unicidade do presente “um homem não pode entrar no mesmo rio duas vezes, porque sempre este é renovado, por isso nunca se entra no mesmo rio”.
Nesse processo de melhor aproveitamento das horas, podemos afirmar que não devotamos às pessoas que amamos o devido valor por estarem comungando conosco a trajetória vital. É possível dizer que em muitas vezes não somos persistentes, mesmo em nossos anseios, em nossas ações e não definimos nem o que queremos para a nossa vivência. O ator, diretor e escritor britânico, Charles Chaplin, afirmou certa vez que “persistência é o caminho do êxito”. Há um vácuo sobre o que é realmente caro a nós, pois, de quando em vez, estamos como uma folha sendo carregada ao vento, sem rumo. Quando algo nos está atrapalhando, tendemos a desistir desse caminho, por que encaramos as adversidades meramente como obstáculos, quando poderíamos compreender certos acontecimentos como oportunidades para remodelar nosso estado mental e modificarmos nossa visão de mundo em busca de um novo prisma.
Outro aspecto que nos chama a atenção se dá quando, por exemplo, estamos entre parentes e amigos e por estarmos tão envolvidos com a pequenez de nossas vidas, não nos preocupamos com os lances alheios, com as dificuldades daqueles que estão ao nosso lado. Com esse pensamento, nos alerta o escritor e político britânico, Benjamin Disraeli que “a vida é muito curta para ser pequena”. Nesse particular somos, varias vezes, taxados de egoístas e individualistas, por estarmos tão envolvidos com nosso estado de conforto. Então não nos movemos para simpatizarmos com as peculiaridades dos nossos! Se concebêssemos que quanto mais ajudamos as pessoas, mais nos tornamos melhores e ganhamos pontos no tesouro do céu, do universo e da eternidade, com certeza viveríamos com excelência, com empatia, com alegria e distribuiríamos sorrisos, benesses e boas ações! Contudo, de maneira néscia, somos cegamente levados a crer que o tempo não se esvai; que a ampulheta do tempo é implacável e que os infortúnios estão na porta do vizinho e não na nossa; que não adoeceremos nem sentiremos a dor. Ainda não percebemos que somos seres mortais e apenas o homem é totalmente capaz de entender isso.
É hora de refletir, de arrazoar e em entender que o cosmos é muito maior do que a nossa narina pode alcançar. Lamentavelmente a criatura humana é extremamente imediatista e, por vezes, se procrastina; deixa tudo, quase sempre para última hora, para o último segundo. Parte da ideia que sempre haverá tempo, que ordinariamente haverá um “jeitinho” de fazer, mesmo que o prazo esteja no fim. Um dos mais célebres advogados e escritores romanos, Sêneca, nos alerta: “apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”. Tudo isso até o dia em que cairemos na real, por entendermos que podíamos fazer muito mais, poderíamos ser muito mais, prestar mais atenção às pessoas; ajudarmos mais aos outros com nossas opiniões, com nosso exemplo de vida, com nossa ação propriamente dita. A vida e o findar dela estão plenamente em uma linha tênue. Há que se cultivar este sopro vital para que ele floresça todos os dias; há que sermos mais atentos para que não sejamos atropelados, invadidos, surrupiados pelo tempo, furtados e derrubados pela morte e para que não sejamos roubados de nós mesmos!