Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH: uma abordagem neuropsicopedagógica

O Transtorno do déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é caracterizado por problemas relacionados com falta de atenção, hiperatividade e impulsividade. Esses problemas são promovidos de um desenvolvimento não adequado e que causam dificuldades no dia-a-dia.

O TDAH é um transtorno biopsicossocial, isto é, parece haver fortes fatores genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que contribuem para a intensidade dos problemas experimentados. Foi comprovado que o TDAH atinge 3% a 5% da população durante toda a vida.

A presente pesquisa tem como objetivo principal investigar a atuação do neuropsicopedagogo ao lidar com a aprendizagem nas crianças portadoras do TDAH. Para alcançar tal propósito, elencamos os seguintes objetivos específicos: Caracterizar o perfil comportamental das crianças com TDAH; identificar as dificuldades enfrentadas dessas crianças com esse transtorno; investigar as estratégias utilizadas pelo neuropsicopedagogo ao lidar com crianças com TDAH; refletir sobre o embasamento teórico-metodológico da Neuropsicopedagogia frente aos transtornos de aprendizagem enfrentados por essa clientela.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico por ser um artigo de revisão de literatura. O desenvolvimento da pesquisa foi realizado com seguintes autores: Scandar (2009), DuPaul e Stoner(2007); Teixeira(2013); Schuwartzman(2008), Olivier(2008), dentre outros.

Os resultados encontrados na pesquisa constataram que é de suma importância o papel do neuropsicopedagogo ao lidar com os portadores do TDAH, pois os mesmos enfrentam grandes dificuldades como a desatenção, impulsividade e hiperatividade, baixa autoestima, dificuldades de relacionamentos com seus pares, dentre outros aspectos.

Palavras-chave: TDAH. Aprendizagem. Transtornos. Crianças. Neuropsicopedagogia.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, encontramos muitas crianças que sofrem com a dificuldade de aprendizagem, como também com problemas comportamentais que vem acumulando-se ao longo de sua trajetória escolar. Com base nisso, constatamos que um dos transtornos mais conhecidos tanto no ambiente escolar como nos consultórios trata-se do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ( TDAH ).

Há muitos anos foram reconhecidas crianças que não conseguem se concentrar em determinadas ou nenhuma atividade por períodos longos de tempo, e algumas delas, além de serem facilmente distraídas, podem se movimentar demais, o que fez com que fossem chamadas de hiperativas.

Nesse sentido, a justificativa da presente pesquisa deve-se às inquietações vividas durante o exercício da profissão docente, como também na atuação psicopedagógica e, atualmente, como futura profissional de Neuropsicopedagogia. Durante essa formação, muitas dúvidas surgiram quanto ao papel e as estratégicas neuropsicopedagógicas que pudessem minimizar os obstáculos enfrentados pelas crianças com TDAH, assim como resgatar o prazer de aprender a aprender das mesmas, pois presenciamos, repetidas vezes, o sofrimento e a angústia do aprendente e de sua família.

Vale lembrar que o TDAH é um transtorno neurobiológico e biopsicossocial e como tal há presença de fortes fatores de genéticos, biológicos, sociais e vivenciais que contribuem para a intensidade dos problemas experimentados. Foi comprovado que o TDAH atinge 3% a 5% da população durante toda a vida. Segundo Teixeira ( 2013, p. 63), o TDAH é “ uma síndrome clínica caracterizada basicamente pela tríade - desatenção, hiperatividade e impulsividade - mas não há necessidade de que os três sintomas estejam presentes simultaneamente”. De acordo com a posição atual da pesquisa científica, é uma perturbação neurobiológica transmitida em grande parte, geneticamente. É importante destacar que:

as crianças com TDAH não apresentam lesões significativas, atraso no desenvolvimento e/ou dificuldades psicológicas emocionais que possam justificar e explicar melhor estes problemas. Por outro lado, e contrariamente a uma opinião difundida ainda entre profissionais, as crianças com TDAH não são nem mais e nem menos inteligentes que as outras crianças ( SCANDAR, 2009, p.14).

Na realidade, determinar qual o nível de atividade normal de uma criança é um assunto polêmico. A maioria dos pais tem uma certa expectativa em relação ao comportamento de seus filhos e normalmente, esta expectativa inclui um certo grau de agitação, bagunça e desobediência, características que são aceitas como indicativos de saúde e vivacidade infantil.

Porém, algumas vezes podemos estar diante de um quadro de Hiperatividade Infantil, que foge das simples questão de comportamento. Não se trata de crianças que têm energias demais, como dizem alguns psicólogos, elas têm um transtorno conhecido pela medicina. O TDAH quando não tratado pode ser responsável por enorme frustação dos pais. Um das angústias experimentadas por eles é que os pacientes diagnosticados com TDAH são frequentemente rotulados de “problemáticos”, “desmotivados”, “avoados”, “malcriados”, “indisciplinados”, “irresponsáveis”, ou até mesmo, “poucos inteligentes”.

Ao longo da pesquisa desenvolvida foram apontados que são diversos indícios das causas do TDAH, ou seja, não existe até momento uma causa específica para o problema. Alguns genes têm sido descobertos e descritos como possíveis causadores do transtorno. Lesões neurológicas mínimas (impossíveis de serem vistas em exames) que ocorreriam na gestação ou nas primeiras semanas de vida, também são levadas por possíveis causas. Alterações das substâncias químicas cerebrais (neurotransmissores) também estão sendo sugeridas como causadoras dos sintomas.

Supõe-se que todos esses fatores formem uma predisposição básica (orgânica) do indivíduo para desenvolver o problema, que pode vir a se manifestar quando uma pessoa sofre ação de eventos psicológicos estressantes, como uma perturbação no equilíbrio ou outros fatores geradores de ansiedade. Além disso, as exigências da sociedade por uma rotina de comportamento e desempenho podem interferir no diagnóstico.

Diante desse quadro, o presente estudo buscou investigar a atuação do neuropsicopedagogo ao lidar com a aprendizagem das crianças portadoras do TDAH. Para alcançar tal propósito, elencamos os seguintes objetivos específicos: Caracterizar o perfil comportamental das crianças com TDAH; identificar as dificuldades enfrentadas dessas crianças com esse transtorno; refletir sobre o embasamento teórico-metodológico da Neuropsicopedagogia frente aos transtornos de aprendizagem enfrentados por essa clientela.

A referida pesquisa teve como questão norteadora: Como atua o neuropsicopedagogo com as dificuldades e desafios enfrentados pelas crianças com TDAH?. Neste aspecto, vale lembrar que o trabalho foi direcionado pelas seguintes perguntas: qual perfil comportamental das crianças com TDAH?; quais as dificuldades enfrentadas dessas crianças com esse transtorno?; qual o embasamento teórico-metodológico do profissional de Neuropsicopedagogia diante desse transtorno.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico por ser um artigo de revisão de literatura. O desenvolvimento da pesquisa foi realizado com seguintes autores: Scandar (2009), DuPaul e Stoner (2007); Teixeira (2013); Relvas (2012), Beauclair ( 2014), dentre outros.

2 METODOLOGIA

Este artigo tem como propósito relatar a importância e a contribuição da atuação do neuropsicopedagogo ao lidar com os portadores de TDAH. Para tanto, o presente trabalho teve como método utilizado, a pesquisa bibliográfica de cunho exploratório. É válido pontuar que a pesquisa qualitativa, “preocupa-se com a compreensão, a interpretação do fenômeno considerando os significados que os outros dão as suas práticas, o que impõe ao pesquisador uma abordagem hermenêutica (GONÇALVES 2003, p.69)”.

Para realizar determinada metodologia, foram utilizadas fontes bibliográficas, sendo que a maior vantagem dessa pesquisa é a oportunidade do investigador cobrir uma gama de fenômeno mais acessível ao pesquisador. Neste estudo foram utilizados textos, periódicos disponíveis em bibliotecas, livros de diversos autores da área em questão, dando certa relevância à literatura produzida nos últimos cincos anos.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Alunos com TDAH apresentam alto risco de dificuldades crônicas de conquista acadêmica, desenvolvimento de comportamento antissocial e problemas de relacionamento com colegas, pais e professores. Tradicionalmente, este transtorno tem sido identificado e tratado por profissionais que atuam em clínicas ( neuropediatras, psicólogos clínicos, psicopedagogos ou neuropsicopedagogos, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos, psicomotricistas, musicoterapeuta, arteterapeutas) com tratamento ambulatorial.

Não se trata de uma perturbação rara, mas sim uma das mais comuns na infância entre 30 a 50% dos atendimentos clínicos. O TDAH é o transtorno mais estudado nos últimos 20 anos no campo da psiquiatria infantil. Segundo Scandar ( 2009, p.15) relata que:

nos meninos, o TDAH ocorre mais 3 vezes mais do que nas meninas. Pode-se afirmar, por exemplo, dependendo do número de crianças numa sala de aula e da composição do sexo, que entre 1 e 2 crianças terão as características básicas do TDAH.

As características principais ( desatenção, impulsividade e hiperatividade) do TDAH podem apresentar diversas dificuldades para as crianças em contexto escolar. Essas crianças muitas vezes têm problemas para manter a atenção em tarefas que exigem concentração, a finalização de trabalho independente que devem ser executados na carteira, é um tanto inconstante. Cabe mencionar que o TDAH é um transtorno que tem as seguintes características que perturbam o bom desenvolvimento de uma prática pedagógica eficaz pois:

as crianças com TDAH com frequência perturbam as atividades em sala de aula e, portanto, atrapalham a aprendizagem dos colegas. Os problemas em sala de aula relacionados à hiperatividade inclui sair da cadeira sem permissão, brincar com objetos inapropriados ( por exemplo, materiais na carteira que não estão relacionado à tarefa em mãos), batucar com os textos, bater com os pés ritmicamente e se remexer na cadeira ( DUPAUL E STONER, 2007, P. 65).

Cabe destacar que no ambiente escolar, a criança ou adolescente portador do transtorno TDAH apresentam dificuldades de socialização, pois os mesmos não colaboram em atividades de grupo, tendo um comportamento extremamente difícil e delicado, resultando na carência de amigos. Quanto ao aspecto de prejuízos acadêmicos, vale pontuar que é uma disfunção atencional e executiva, bem como alteração do controle emocional e dos processos motivacionais.

Diante de várias dificuldades, os três correlatos mais frequentes do TDAH são o fraco desempenho acadêmico, altas taxas de desobediência e agressividade e perturbações nos relacionamentos com os colegas. É válido pontuar que a etiologia do TDAH ainda não é bem definida, mas as pesquisas apontam que esse transtorno tem origem de base genética, pois segundo Cosenza e Guerra ( 2011, p.136) afirmam que “ muitos genes, que interagem entre si, contribuem para o fenótipo neurológico”.

Um das causas que interferem no desencadeamento para o desenvolvimento do TDAH, deve-se a exposição de nicotina durante a gravidez ou à contaminação por substâncias tóxicas como o chumbo, o baixo peso no nascimento são indicadores da presença do TDAH.

Quanto à composição dos neurotransmissores na constituição do cérebro de quem é portador do TDAH, afirma-se que a dopamina e noradrenalina apresentam-se com alterações e déficit na comunicação dos neurônios, principalmente nos circuitos cerebrais e nas sinapses no lobo frontal do cérebro e demais áreas do cérebro.

O tratamento do TDAH envolve uma equipe inter e multidisciplinar com vários profissionais, podendo ter intervenções psicofarmacológicas dependendo de cada caso, sendo necessário ter intervenções psicossociais, tais como a família, a escola e o portador. Mediante as dificuldades escolares, o paciente poderá ter procedimentos psicopedagógicos e neuropsicopedagógicos, além de outras intervenções terapêuticas.

Quanto a importância das Neurociências em relação à investigação do desempenho do portador do TDAH, os estudos dos testes neuropsicológicos apontam que “ distúrbios na motivação e na executiva, particularmente na inibição de respostas, vigilância, memória operacional e planejamento, mas o quadro é variável ( COSENZA E GUERRA, 2011, p.136)”.

A Neurociência nos dias atuais está sendo a ciência do futuro porque é a grande responsável pelas descobertas do funcionamento do sistema nervoso, em especial, do cérebro. Com o intuito de comprovar sua importância para compreensão do autoconhecimento do homem, é válido destacar que:

Neurociência é e será uma grande aliada para identificar cada indivíduo, como único e também para descobrir a regularidade, o desenvolvimento de cada um. Já que cada indivíduo é único e também cada um tem o seu próprio ritmo e tempo. A Neurociência auxilia na compreensão do que é comum a todos os cérebros, dando respostas confiáveis a importantes questões sobre a aprendizagem humana ( RELVAS, 2012, p. 201).

O neuropsicopedagogo ao lidar com os portadores do TDAH teve ter o domínio do estudo da Neurociência para realizar intervenções pautadas em uma aprendizagem significativa e atual. Sendo assim, o neuropsicopedagogo deve utilizar-se de uma aprendizagem com estratégias facilitadoras que estimulem as sinapses e consolidem o conhecimento do neuroaprendiz de forma significativa e emocional. Entender a Neuropsicopedagogia é uma atividade complexa porque baseia-se em:

pesquisas e estudos neurocientíficos que enfatizam as complexas relações entre a aprendizagem e o cérebro, suas dinâmicas e possibilidades de entendimento – e, com isso, ressignificar nossas compreensões sobre práticas e condutas referentes ao ato humano de aprender e ensinar ( BEAUCLAIR, 2014, p. 23).

É de extrema importância saber que a Neuropsicopedagogia, tida como uma área do conhecimento transdisciplinar, é “ um novo campo de especialização profissional, de pesquisa, ação e intervenção, baseado nos avanços das Neurociências e suas aplicabilidades nos campos da Educação e Psicopedagogia ( BEAUCLAIR, 2014, p.23)".

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a realização da referida pesquisa, constatamos que a Neuropsicopedagogia tem uma grande contribuição para modificar os padrões do ensinar e aprender porque se trata de uma nova área do conhecimento que leva em consideração o funcionamento do cérebro humano que em contato com o objeto de aprendizagem e o meio que se encontra inserido, o portador de TDAH será entendido em seu aparato neurobiológico.

O número de casos diagnosticados vem aumentado significativamente. É importante entender que o TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas e que essas crianças não são simplesmente inquietas e desatentas, existem déficits reais de origem neurológica que precisam ser entendidos e identificados de forma a propiciar à criança um tratamento adequado.

Com base nisso, para superar ou amenizar as dificuldades e os desafios enfrentados pelas crianças, adolescentes e adultos que sofrem com os sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade, o neuropsicopedagogo deve utilizar de estratégias que tenha como foco a apreensão da atenção, que segundo Flor e Carvalho ( 2012, p. 238), a atenção representa como “ o estudo da memória passa a ser uma categoria biológica imprescindível, reconhecendo que a memória se torna consciente através da atenção que em sua essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns aspectos ou algumas partes da realidade”.

Flor e Carvalho ( 2012, p. 225) relatam que o neuropsicopedagogo ao estar de posse do conhecimento da Neurociência significa que este profissional terá que assumir que ao trabalhar terá que “ reger uma orquestra afinadíssima na qual a melodia sai perfeita porque o maestro sabe o quão precisamente estão afinados seus instrumentos e quanto se podem tirar deles melodias harmoniosas e suaves”.

REFERÊNCIAS

BEAUCLAIR, J. Neuropsicopedagogia: inserções no presente, utopias e desejos futuros. Rio de Janeiro: Essence All, 2014.

CONSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociências e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

DUPAUL, G. J.: STONER, G. TDAH nas escolas: estratégias de avaliação e intervenção. São Paulo: M. Books, 2007.

FLOR, D.; CARVALHO, T. A . P.de. Neurociências para educador: coletânea de subsídios para “alfabetização neurocientífica”. São Paulo: Baraúna, 2011.

GÓMEZ, A. M. S.;TÉRAN, N. E. Dificuldades de aprendizagem: detecção e estratégias de ajuda. São Paulo: Grupo Cultural, 2010.

GONÇALVES, E. P. Iniciação à pesquisa científica. Campinas: Alínea, 2003.

RELVAS, M. P. Que cérebro é esse que chegou à escola: as bases neurocientíficas da aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK, 2012.

SCANDAR, R.O. Inquietos, distraídos, diferentes?: Orientações e conselhos para pais, educadores e professores de crianças com déficit de atenção e hiperatividade. Buenos Aires: Ediba, 2009.

TEIXEIRA, G. Manual dos transtornos escolares: entendendo os problemas de crianças e adolescentes na escola. Rio de Janeiro: BestSeller, 2013.

* Lucília Santos – Formação Internacional em Professional e Self Coaching, Leader Coach, Analista Comportamental e Analista em 360º pelo IBC. Graduada em Pedagogia e em Psicopedagogia aplicada à Educação. Especialista: Neuropsicologia, Psicopedagogia Clínica, Institucional e Hospitalar, MBA em Gestão de Recursos Humanos e em Neuropsicopedagogia Clínica. Professora na Educação Básica e Ensino Superior. Atua como coach, professora, palestrante e escritora.

Lucília Santos
Enviado por Lucília Santos em 03/11/2016
Reeditado em 04/07/2018
Código do texto: T5812321
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