PNL- DISTORSÃO, GENERALIZAÇÃO E CANCELAMENTO

Os filtros da percepção
                                                                
     O modelo de mundo que temos em nossas mentes é um retrato individualizado do mundo real, desenhado segundo uma ótica personalíssima, que jamais se repete de pessoa para pessoa. Dois indivíduos, mesmo que nasçam e sejam criados pela mesma família, compartilhem as mesmas experiências, vivam no mesmo ambiente, leiam os mesmos livros, frequentem a mesma escola, tenham os mesmos amigos e professores, etc., poderão não desenvolver semelhantes modelos de mundo e, consequentemente, não oferecerão, a um dado estimulo, a mesma qualidade de resposta.
      Isso ocorre por que o processo segundo o qual a mente filtra as informações que recebe e as remonta como “programa de comportamento”, é que determina a forma pela qual emitimos a resposta.
     A PNL identifica três filtros pelos quais a nossa percepção do mundo é processada: generalização, distorção e cancelamento. Esses filtros têm como função lapidar a realidade objetiva e conformá-la aos modelos de mundo que temos em mente.
      Esse processamento tanto pode concorrer para limitar a nossa capacidade de agir quanto para aumentar a eficácia das nossas respostas. Como esses padrões nos são induzidos pela linguagem neurológica que usamos para decodificar a informação e remontá-la em nossas mentes, é importante saber como esse processo acontece e como pode ser trabalhado, para que as experiências que vivenciamos não se tornem fatores de limitação da nossa capacidade de resposta, ao invés de um recurso que pode ampliar a sua quantidade e melhorar a sua qualidade.
 
 
  • Generalização
 
     Através do filtro da generalização nós tomamos a parte pelo todo. A partir do resultado de uma experiência em particular, nossa mente assume que toda experiência semelhante poderá apresentar o mesmo resultado. E com base nessa conclusão classifica a informação num grupo já conhecido e emite a resposta que aprendeu a dar nesses casos. A generalização é essencial para nos adaptarmos ao mundo em que vivemos. Se colocarmos a mão no fogo e conseguirmos como resultado uma bela queimadura, sabemos que resultado semelhante poderá ocorrer toda vez que essa experiência se repetir. Nesse caso, generalizar é um filtro útil, que nos ajuda a evitar respostas equivocadas e perigosas.
    Todavia, é preciso levar em conta que todos os objetos que emitem calor não são necessariamente perigosos e provocam queimaduras. Generalizar essa informação pode nos levar a evitar, para sempre, uma aproximação do calor. Isso pode instalar um “programa” de ação limitante que diminuiria a nossa capacidade de resposta toda vez o que o elemento calor estiver envolvido. Esse é o programa contido na famosa expressão popular: “gato escaldado tem medo de água quente.” Mas nós não somos gatos e podemos analisar, com inteligência, o que devemos temer. Nosso processo de generalização pode ter um controle inteligente que nos permita formatar “programas” que não sejam meramente reativos e nos afastem de experiências enriquecedoras pelo simples medo de uma dor que ela poderá eventualmente trazer.
     Todas as generalizações são verdadeiras para quem as faz e podem ser falsas para alguém mais, porque as crenças e os valores das pessoas são diferentes. Depois, o contexto e as condições em que a experiência ocorre também exercem um importante papel nesse processo. . No tempo da ditadura militar, por exemplo, não era conveniente expressar sentimentos a respeito dos nossos governantes. Fazê-los podia representar a diferença entre prisão e liberdade e, à vezes, até entre a vida e a morte. Assim, ficar calado, naqueles tempos, era uma boa regra. Aprendi isso depois de levar alguns safanões e passar algumas horas em uma cela na antiga delegacia do DOPS, ouvindo ameaças veladas e suportando brincadeiras de mau gosto de alguns sujeitos que encontravam prazer em aterrorizar as pessoas. E tudo que eu fizera foi participar de algum protesto contra alguma coisa que eu nem me lembro mais o que era. Mas hoje, uma regra dessas não tem mais utilidade. Na verdade, chega a ser nociva, pois pode nos levar à indiferença para com os rumo pelos quais o nosso país está sendo levado.  E nós sabemos o quão perigoso pode ser esse alheamento. Essa regra prejudicou o desenvolvimento de muita liderança emergente e mutilou sensibilidades que nunca mais se recuperaram. Em consequência, temos hoje esse baixo nível de cidadania e participação dos bons cidadãos na vida pública. 
 
 
  • Cancelamento
 
      Pelo filtro do cancelamento, a nossa mente escolhe quais os elementos da experiência que  merecem mais a nossa atenção. Assim, esse filtro acaba fazendo uma seleção, segundo a qual nós escolhemos o quê, na informação, é importante registrar.
     Um exemplo de como funciona esse mecanismo pode ser verificado quando estamos num salão repleto de pessoas. Ouvimos e falamos com algumas delas e prestamos mais atenção em umas do que em outras. Nesse caso, não é que não as escutamos; simplesmente cancelamos o que dizem ou o que fazem, evitando que a mente se ocupe de coisas que não nos interessa naquele momento.
     O filtro do cancelamento é muito útil para ajudar a mente a ficar focada no objeto que lhe interessa em determinada ocasião. Mas, da mesma forma que não existem generalizações boas ou más, mas sim, úteis ou nocivas segundo o contexto e a necessidade, também é preciso ter cuidado com o que cancelamos através desse mecanismo. Você nunca foi cobrado por alguma coisa em que deveria ter prestado mais atenção e não prestou? Já não teve prejuízo por causa dessa falta de atenção, ou dito de outra forma, por ter elegido equivocadamente a informação a cancelar?
     Muitas vezes ocorre de cancelarmos informações úteis, que podem nos fazer muita falta para um resultado bom, no final das coisas. Isso já aconteceu comigo muitas vezes. Quanto aborrecimento e prejuízos financeiros eu poderia ter evitado se não tivesse cancelado determinadas informações? Ah! Se eu tivesse ouvido mais os meus pais, se eu soubesse naquele tempo o que sei agora, se eu não tivesse sido tão descuidado, se... Enfim, você não diz para si mesmo coisas como essas algumas vezes? Claro que diz. Você é tão humano quanto eu e sua mente também tem esse mecanismo de cancelamento trabalhando o dia inteiro. 
 
 
  • Distorção
 
      O filtro da distorção é aquele que nos permite fazer mudanças na nossa base sensorial. Recepcionamos a informação na totalidade, mas só levamos para a nossa “base de dados” aquelas que estão de acordo com o modelo de mundo que temos em mente. “Estou vendo que essa pessoa não presta, mas é dela que eu gosto...” Sei que isso não deu certo com outras pessoas, mas comigo será diferente...” .  Meu pai fumou a vida inteira e não teve câncer, por isso eu também fumo...”.   
    Como ocorre com os dois filtros anteriores, a distorção pode ser útil ou nociva. É útil quando nos ajuda a criar, a planejar, a prever os resultados de uma experiência. É nociva quando nos afasta da realidade e nos leva a formatar um modelo de mundo baseado em falsas premissas, ou a tomar fantasias por realidades objetivas, empobrecendo o nosso mapa de mundo ou criando zonas de decisão muito perigosas.
     Um exemplo de distorção nociva é a pessoa que foi enganada uma vez por alguém e agora recebe como “insincera” toda manifestação de interesse que alguém lhe dirige. E com base nessa análise distorcida acaba formatando um “programa” terrivelmente limitante que a tornará eternamente desconfiada de tudo e de todos.
     Distorcer é ajustar, aplainar, conformar uma informação aos moldes que já temos em nossa mente. Isso pode nos ajudar a eliminar o que é inútil ou nocivo na informação. Mas também pode mutilá-la em seus elementos mais importantes, deformando-a e modificando-a em sua estrutura. Isso pode ser perigoso, pois nos priva de elementos fundamentais para a formatação de um mapa de mundo mais preciso.