APRENDENDO COM A PNL
   
     A aprendizagem é um processo que nossa mente monta em quatro estágios de diferentes níveis de sensibilidade.  O primeiro é o estágio da incompetência inconsciente, o segundo é o da incompetência consciente, o terceiro é o da competência consciente e o quarto é o estágio da competência inconsciente.
    No primeiro estágio, da incompetência inconsciente, a pessoa não sabe que não sabe, na segunda sabe que não sabe, na terceira sabe, mas ainda tem dúvidas e no quarto, ela realmente acredita naquilo que aprendeu e seus músculos, nervos e todos os seus sistemas motores executam o que cérebro manda sem dúvida nem enganos.
     Todos nós nascemos com um cérebro no estágio da incompetência inconsciente. Como dizia o filósofo John Locke, nós somos, ao nascer, uma “tábula rasa”, ou seja, uma lousa em branco na qual tudo pode ser escrito. Não sabemos absolutamente nada e não sabemos que não sabemos.    
     Esse é o estágio é da ignorância completa. Mas á medida que vamos interagindo com o mundo, nosso cérebro vai tomando conhecimento dele. Assim, passamos a saber que as coisas existem e que elas têm serventia e significado, mas ainda não sabemos o que são e para que servem. Esse é o estágio da ignorância sabida, ou seja, a da consciência inconsciente, quando nós sabemos, mas não entendemos.
    Mas logo nós começamos a experimentar e ter vivências. Primeiro a gente faz as coisas meio sem pensar, meio sem entender porque faz. Depois começa a pensar em como faz e porque faz. Estuda, questiona, duvida, experimenta, testa. Essa é a fase da competência consciente. Sabemos, mas ainda não incorporamos o conhecimento ao nosso acervo neurológico, como comportamento automatizado, ou crença verdadeira.
 
     De modo geral, todas as nossas aprendizagens práticas e as crenças que adquirimos seguem essa trilha dentro do nosso sistema neurológico. Podemos pensar, por exemplo, no processo de aprendizagem que nós seguimos para aprender a dirigir um carro. Temos que incorporar ao nosso comportamento uma fase de cada vez. Quando nos sentamos ao volante pela primeira vez não sabíamos absolutamente nada sobre o assunto; á medida em que íamos nos familiarizando com o carro, percebemos que não bastava entrar nele, ligar, pegar na direção e sair dirigindo. Havia uma série de comportamentos que precisávamos adquirir para poder pilotar aquela máquina com eficiência. E depois de adquirir esses comportamentos, percebemos que precisávamos treinar a habilidade de dirigir automaticamente, sem precisar pensar nas coisas que tínhamos que fazer para poder conduzir o carro por todos os lugares. Então aprendemos a parar automaticamente nos sinais vermelhos, a não parar no meio da rua, a passar marchas automaticamente, a “ver” placas e sinais de trânsito sem precisar concentrar nossa atenção nelas, etc.
     Imagine se você tivesse que pensar em cada movimento que faz para dirigir um carro. (Agora eu tenho que faze isso, agora eu tenho que fazer aquilo..) A cada mudança de marcha, a cada pisada no acelerador, a cada brecada, a cada vez que tivesse que parar num semáforo, ultrapassar outro carro, desviar-se de um obstáculo. Que loucura seria isso, não é? Você acabaria se tornando um “serial killer “do trânsito.
     Nós só aprendemos de verdade uma coisa quando somos capazes de fazê-la automaticamente. Da mesma forma, nós só acreditamos de fato em uma coisa quando nos sentimos seguros de que ela é verdadeira. Se precisarmos pensar para fazer, então ainda não aprendemos a fazê-la bem. Da mesma forma, quando há dúvida então ainda não acreditamos de verdade.
     Quando coloquei a minha filha para aprender matemática pelo método kumon, fiquei decepcionado, pois me pareceu, á primeira vista, que o método, na verdade, consistia em “vencer o aluno pelo cansaço”. Levei um tempo enorme para descobrir que aquelas operações repetitivas e cansativas, na verdade, era uma forma de envolver o inconsciente do aluno na operação, pois quando se trata de objetos ideais, como a matemática, a geometria, as leis da física, o inconsciente os apreende melhor que o consciente. A manipulação de símbolos, números e objetos ideais é mais competente quando ela é feita em nível de inconsciente. Por isso é que é tão difícil ensinar matemática. Aprender não é. Basta deixar o inconsciente se envolver com o conteúdo.
     Um dos problemas para se aprender coisas novas, ou melhorar as performances em relação ao que já se sabe, é exatamente a fase da competência consciente. Muitas vezes, a “sabedoria” que pensamos ter sobre uma determinada habilidade, nos impede que vejamos formas mais eficientes de fazê-las. Por isso, dizem os zen-budistas, para se aprender realmente alguma coisa nova, é preciso esvaziar nossa mente dos seus conteúdos anteriores, referentes ao assunto do aprendizado. Quer dizer, temos que abandonar nossos “pré-conceitos”, para poder pensar nos novos. Isso exige um portentoso exercício de abstração.[1]
      Não existe uma única pessoa no mundo que não tenha adquirido na vida, pelo menos uma habilidade. Todos nós somos bons em alguma coisa, e a maioria de nós é muito bom em alguma coisa. E seja qual for essa habilidade podemos estar certo que o mundo precisa dela porque senão a natureza não a teria criado. Nós só precisamos pesquisar e descobrir qual é. Depois aperfeiçoá-la o suficiente para que ela se transforme numa capacidade. A aquisição de capacidades, portanto, implica num continuo aperfeiçoamento de habilidades. O perito é aquele que se comporta como perito. O sábio é aquele que age como sábio. Não é o que pensa que é, ou que pensa que sabe.  
     Capacidade é saber fazer sem precisar ficar pensando em como fazer.  Quem assim age, de fato aprendeu.

     
 
 
 
[1] Um dos mais famosos exemplos da técnica zen de ensino é a conhecida história do aluno que foi estudar com um prestigiado mestre zen. O mestre convidou o aluno para tomar chá, e enquanto o servia, pediu ao aluno que falasse sobre o que ele entendia ser o zen. O aluno, tentando impressionar o mestre, deitou a falar sobre tudo o que pensava saber sobre o assunto. Enquanto ele falava o mestre enchia a sua xícara. Ao perceber que o chá estava derramando, ele falou para o mestre: - mestre, o chá está derramando. A xícara já está cheia. – Exatamente – disse o mestre. Como você pensa em adquirir novos ensinamentos se a sua mente já está transbordando com o que você pensa que sabe?