Polêmica Noel Rosa x Wilson Batista: A Luta do Século

 

Para mim, o melhor compositor de língua portuguesa chama-se Noel Rosa. Excelente sambista e um dos primeiros boêmios do Rio de Janeiro, teve uma vida breve, partindo aos 26 anos, vítima de tuberculose. Estudou medicina, mas o que gostava mesmo era da noite carioca e das mulatas. Diz-se que, em uma dessas noites, ele se desentendeu com um outro sambista mulato da época, Wilson Batista, que representava tudo o que Noel não era: negro, esbelto e bonito. Wilson conquistou uma mulata por quem Noel estava de olho.

 

Noel, como todo ressentido que é artista, vingou-se da única forma que sabia: criando, compondo. Assim nasceu “Rapaz Folgado”, uma resposta à grande composição de Wilson Batista, “Lenço no Pescoço”, cuja letra dizia:

 

Tamanco arrastando

Lenço no pescoço

Navalha no bolso

Eu passo gingando

Provoco e desafio

Eu tenho orgulho

Em ser tão vadio”

 

Noel respondeu assim:

 

Deixa de arrastar o teu tamanco

Pois tamanco nunca foi sandália

E tira do pescoço o lenço branco

Compra sapato e gravata

Joga fora esta navalha que te atrapalha

 

Com chapéu do lado desse rata

Da polícia quero que escapes

Fazendo um samba-canção

Já te dei papel e lápis

Arranja um amor e um violão

 

Malandro é palavra derrotista

Que só serve pra tirar

Todo o valor do sambista

Proponho ao povo civilizado

Não te chamar de malandro

E sim de rapaz folgado”

 

Wilson rebateu com “Mocinho da Vila”:

 

Você que é mocinho da Vila

Fala muito em violão, barracão e outros fricotes mais

Se não quiser perder o nome

Cuide do seu microfone e deixe

Quem é malandro em paz”

 

A polêmica poderia ter terminado aí, mas Noel respondeu com a belíssima Feitiço da Vila, melhor composição e música dele na minha opinião:

 

Quem nasce lá na Vila

Nem sequer vacila

Ao abraçar o samba

Que faz dançar os galhos

Do arvoredo e faz a lua

Nascer mais cedo…

 

A Vila tem um feitiço sem farofa

Sem vela e sem vintém

Que nos faz bem

Tendo nome de princesa

Transformou o samba

Num feitiço decente

Que prende a gente”

 

Wilson Batista, sem recalque, respondeu criando, como fazem aqueles que sabem compor (e não como os ignorantes que só sabem gritar, como o Alemão da Shopee e o Sir do Paraguai). Sua resposta veio com “É Conversa Fiada”:

 

É conversa fiada dizerem que o samba na Vila tem feitiço

Eu fui ver para crer e não vi nada disso

A Vila é tranquila, porém eu vos digo: cuidado!

Antes de irem dormir, deem duas voltas no cadeado”

 

Despeitado por ter tocado em Vila Isabel, local adorado por Noel, ele criou “Palpite Infeliz”, da mesma forma que Dave Le Dave responde aos ataques de suas inimigas:

 

Quem é você que não sabe o que diz?

Meu Deus do céu, que palpite infeliz!

Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,

Oswaldo Cruz e Matriz

Que sempre souberam muito bem

Que a Vila não quer abafar ninguém,

Só quer mostrar que faz samba também”

 

Depois desse golpe, Wilson sentiu o impacto e resolveu jogar baixo, apelando para o aspecto físico de Noel com ”Frankenstein da Vila”:

 

“Boa impressão nunca se tem

Quando se encontra um certo alguém

Que até parece um Frankenstein

Mas como diz o rifão: por uma cara feia perde-se um bom coração”

 

Mas essa rivalidade musical ensina uma lição valiosa: não se vence um opositor na base do grito, como fazem certas inimigas, mas sim através da criação. Cadê as obras das minhas detratoras para comparar com as minhas? Até para ofender, como mostrou Wilson Batista com Frankenstein da Vila, é preciso talento — algo que falta tanto ao Alemão da Shopee quanto ao Sir do Paraguai, que provavelmente jamais ouviram falar de Noel Rosa e Wilson Batista. Enquanto isso, eu, além de dar uma aula de música, fiz mais um artigo cultural e ainda bati com luva pelica na cara deles.

 

Pra quem quiser escutar as composições aqui está um link pro YouTube: Polêmica Noel Rosa x Wilson Batista

DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo)
Enviado por DAVE LE DAVE II (Sim Ele Mesmo) em 15/03/2025
Reeditado em 15/03/2025
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