Resenha: Always centered at night - Moby

Moby é um crítico contundente do que ele chama de cultura baseada em algoritmos. A criação de músicas estaria atrelada ao desejo de fazer sucesso nas redes sociais e à vontade de obter lucro ao vendê-las para alguma empresa. O músico ainda sugeriu que um disco “único, idiossincrático e pessoal” não é o tipo de produção musical que o mainstream quer. Uma declaração dele à Mixmag, em 2022, expressa esse raciocínio e esclarece seu novo álbum “Always centered at night”, lançado nesta sexta-feira (14): “O que eu tenho a dizer aos artistas com quem quero trabalhar é: ‘elas [as músicas e as letras] podem ser obscuras, elas podem ser o que você quiser’. […] Prefiro fazer e lançar músicas que sejam especiais para dez pessoas, do que onipresente para milhões”.

Podemos afirmar, portanto, que nesse novo disco, que contém 13 faixas, há um espírito “underground”, digamos assim, ou até mesmo experimental. A canção “on air”, que abre o disco, é uma boa evidência a favor dessa tese. O vocalista é Josiah Wise, conhecido como serpentwithfeet, um músico reconhecidamente como experimental. O seu vocal combina com o tom da faixa, que demonstra um aspecto melancólico, apesar de o eu lírico não ter perdido totalmente a pessoa significativa e ainda manter, de certa forma, o otimismo.

Em “dark days”, a segunda faixa, o vocal dominante de Lady Blackbird lembra a tonalidade comumente escutada em músicas gospel. É divino ouvi-la cantar o paradoxal verso “If you stay you’re gonna go”. “Where is your pride?” é uma combinação de poesia com música eletrônica. Os belos e questionadores versos são declamados pelo falecido “Poeta da Justiça Social” (palavras do NYT) Benjamin Zephanian, em colaboração póstuma.

“Precious mind” oferece uma transição do real ao mundo onírico em que o vocal de India Carney a transforma numa versão afável de Caronte, que em vez de nos levar ao mundo dos mortos, nos leva para ver o mesmo “espaço” que o eu lírico está vendo. “Feelings come undone” nos apresenta um verso simples e cativante: “all my feelings they come undone”. Como em “precious mind”, a metáfora dos mundos e a menção ao silêncio também estão presentes. O disco encerra com “ache for”, uma canção lenta, mas doce, que evoca temas citados nas faixas anteriores, sugerindo mais uma vez um diálogo entre as diferentes faixas. A voz de José James se encaixou adequadamente com os arranjos de Moby.

Moby conseguiu realizar o que propôs. “Always centered at night” é um disco idiossincrático. Ao afirmar que os artistas presentes no seu álbum poderiam fazer a música que quisessem fazer, ele estava dizendo para cada um trazer suas peculiaridades na criação de cada faixa. O mais complicado é construir uma coesão com esse “caos” de idiossincrasias. As canções se distanciam entre si, mas o colóquio é visível. Esse é um dos méritos do álbum.

7.5/10

RoniPereira
Enviado por RoniPereira em 14/06/2024
Reeditado em 15/06/2024
Código do texto: T8085928
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