O Fim de uma era
No último 26 de julho de 2023 faleceu a cantora irlandesa Sinead Marie Bernadette O`Connor, ou simplesmente Sinead O`Connor aos 56 anos de idade.
Quem viveu nos saudosos anos 90 e era fã do inesquecível canal MTV, com certeza se lembra daquele rosto angelical e da voz
paralisante que durante os cinco minutos e oito segundos da canção "Nothing Compares 2U" nos silenciava diante da TV, nos deixando
hipnotizados por tamanha beleza e sensibilidade.
Nesta mesma época, dividindo as primeiras posições das paradas de sucesso havia outra loira deslumbrante e de personalidade
marcante vinda diretamente da Suécia e com uma voz incomparável que nos conduzia ao ápice da paixão pelas suas canções e por sua beleza arrebatadora. Era Marie Fredriksson, do grupo musical Roxette.
Anos depois, mas ainda nos 90, surge outra voz e figura inesquecível que coincidentemente também era irlandesa e ostentava aquela beleza incomum e um tanto andrógina das outras duas divas: cabelos curtos e um rosto expressivo que casava perfeitamente com um timbre particular que não poderia ser imitado por outro intérprete. Dolores O`Riordan liderava a banda The Cranberries arrancandosuspiros por todo o mundo.
Mas o que estas três personalidades têm em comum?
Alguns diriam, "são européias", outros, "foram intérpretes de sucessos marcantes" e alguns "eram lindas mulheres de personalidade
forte". Eu diria que tudo isso e algo mais: foram talentos inigualáveis que partiram cedo demais deixando a seus fãs órfãos.
Cada uma teve sua própria dose de tragédia que inevitavelmente refletiu em suas próprias carreiras marcando suas jornadas e trazendo
consequências cujo preço a pagar era nos privar muito cedo das suas existências e arte.
Dolores O`Riordan foi a primeira a nos deixar com apenas 48 anos em 15 de janeiro de 2018. Considera-se que a causa da sua morte tenha sido acidental, morrendo afogada em uma banheira após intoxicação alcoólica. Assim como Sinead teve um histórico complicado que envolvia abuso sexual na infância e transtorno bipolar. Teve uma vida conturbada, sofrendo de anorexia e crises nervosas, abuso
de álcool e pensamentos suicidas.
Por sua vez, Marie Fredriksson não teve uma trajetória menos complicada. Mesmo sendo emocionalmente mais estável e equilibrada,
carregava marcas de uma infância difícil na qual perdeu uma das irmãs num trágico acidente e tinha que lidar com o alcoolismo paterno .Superou a tudo com força e determinação, tornando-se uma das estrelas mais conhecidas no cenário pop dos anos 90 ao lado do seu companheiro de banda Per Gessle. Tinha muitos planos para a própria carreira e para a vida pessoal, mas em 2002 descobriu um tumor
cerebral contra o qual travou uma árdua batalha por mais de 10 anos. Nos deixou em 9 de dezembro de 2019 aos 61 anos.
Pode-se dizer que Sinead O`Connor, guardada as devidas proporções, teve o caminho mais conturbado das três. Logo no início da carreira conheceu os extremos da aclamação pública e da crítica e execração social. Suas opiniões e posicionamento político desagradou a muitas pessoas e instituições públicas que levaram ao boicote à sua jornada em ascensão. Somado a essa montanha-russa na própria
carreira, trazia uma pesada bagagem emocional que também incluía abusos e abandono na infância, transtornos psicológicos e emocionais,
tentativas de suicídio e muitos traumas, sendo um dos maiores a perda do filho Shane que suicidou em 2022 com apenas 17 anos.
Esse breve panorama permite observar que há muitos pontos que interconectam a vida dessas três mulheres, cujo talento indiscutível as tornaram imortais. Coincidências e caminhos paralelos que convergem para uma mesma direção que transcende as suas próprias existências e incidem sobre o fim de uma era musical que acompanhou uma geração nascida a partir dos anos 80 e que a cada
despedida de uma musa se sente cada vez mais afastado das próprias referências musicais, compreendendo que na misteriosa jornada da
vida, nunca é fácil dizer adeus àqueles que admiramos.