O “ESPÍRITO” (DO TEMPO) E A TECNOLOGIA DA CRIAÇÃO —XLV—
O “ESPÍRITO” (DO TEMPO) E A TECNOLOGIA DA CRIAÇÃO —XLV—
A cerimônia começa com a entrada em cena de uma carruagem puxada por cinco cavalos brancos, logo após o toque de uma corneta anunciando o galopar deles. Quem está nela, no interior das duas boleias??? Parecem vazias, estão a carregar personagens da realeza europeia de nobreza invisível???
Surgem dezenas de trabalhadores com vestimentas padronizadas de trabalho, saindo, como se fossem robôs, do túnel. Marcham com passos cadenciados. Suas feições não expressam nada, estão excluídos de sentires, quaisquer que sejam. A cadência dos passos representa uma marcha de mortos-vivos. Eles seguem em direção algures. Parece-lhes não interessar a destinação. Nas laterais, outras personagens se dirigem, pela esquerda e pela direita, a algures, em sentido contrário. Toda a movimentação é acompanhada por sons sussurrantes que se parecem com sinistras manifestações de uma intencionalidade ofensiva, agressiva e sadicamente perversa.
De repente todos levantam as mãos direitas em continência, como se pertencessem a um exército de engenhocas automáticas a marchar. Todos estão vestidos em uniformes cor laranja, de trabalho. Um grupo dessas criaturas mórbidas, sobre uma armação de ferro, modifica os passos ameaçadores, como se estivessem a intimidar quem quer que fosse que estivesse em seu caminho. Apesar de lerdos e passivos, mostram-se intensamente aterrorizadores, perigosos, ferozes, intimidantes.
Em seguida começam a se debater, a correr para frente e para trás, debatem-se para os lados, com movimentos para cima e para baixo, contorcendo-se de um para outros lados. Como se estivessem em surto de convulsão ou em franco desespero. A ansiedade e a agonia de que são portadores, fazem com que as contorções se multipliquem, os corpos dobrem-se para os lados, para baixo. Sempre cadenciados por um ritmo de tambor, como se fossem robôs a obedecer a regularidade das batidas tantãs dos atabaques.
A plateia comportada em seus assentos, centenas de pessoas vestidas com roupas padronizadas, ternos e gravatas, parece uma extensão da morbidez ambiente do palco que engloba a todos num mesmo ritual de morbilidade indescritível. Os atores espectadores são figuras alegóricas da mesma representação antrópica. O ecossistema dramatizado parece sintetizar, na escala do tempo geológico, a atual época do período Quaternário da era Cenozóica que se iniciou há cerca de 11,65 mil anos, após o último período que se concluiu com o recuo glacial holocênico. Os seres dramatizados são o resultado da evolução da cultura e da civilização. Eles agora emitem um som que parece uma grande lamúria vinda do mais recôndito da “alma do mundo”: manifestação do Inconsciente Coletivo Universal.
A grande perturbação de todos eles os faz subir e descer, seguirem para os lados e voltarem. Expandem-se para todos os espaços em volta com gestos manifestos de surtos psicóticos. Dá entrada no palco um grande carro a deslizar sobre trilhos. Sobre ele estão, em trajes íntimos, atores que se movimentam em gestual supostamente erótico. Eles se esfregam, se apegam, sobem uns nos outros, sempre acuados por um grande bode de enormes chifres. Curvam-se, se dão as mãos, puxam-se pelos braços. Há um anjo torto circulando entre eles, como se os estivesse monitorando. Alguns estão pendurados de cabeça para baixo se debatendo, como se quisessem a qualquer custo sair dessa roda gigante destrambelhada que rege suas vidas.
Todos parecem movidos por uma compulsão intensamente mórbida que os faz seguir na movimentação orgíaca, até que, afinal, estão todos esgotados pelos esforços excessivos, rompantes, erupções e ímpetos que pareciam não ter começo, meio e fim. Uma personagem começa a bater com força, longas correntes no chão, a provocar ruídos ameaçadores nos espaços em derredor das ações. Ele parece estar insatisfeito com o cansaço de todos. Está talvez a incitá-los na continuação da “Dança de Shiva”. A dança da cultura e da civilização.
O anjo andrógino de asas longas e brancas, cabeça grande, seios juvenis e rosto que parece vigiar a todos de perto e cobrar deles que prossigam suas insólitas tarefas, bate asas e desce aos poucos ao chão com a ajuda de trabalhadores possessos que se contorciam desesperadamente no solo do pavimento. Um personagem vestido de preto continua a bater com força as correntes que carrega em mãos, como se a ameaçar os que não foram atingidos ou mortos por ele. O querubim continua a circundar a todos que o temem e afastam-se abruptamente dele. O espírito angelical alado possui as asas brancas e longas, uma cabeça imensa, como se não pertencesse à mesma espécie deles, demais personagens acossados por ele.
(P. S: A “Dança de Shiva” revela algumas terríveis verdades que saltam aos olhos, mas parecem não Ser vistas. Mas, é depois da dança do Deus Et Shiva que você terá uma revelação nunca dantes exposta. Nem nos mais terríveis e assustadores contos e romances de terror e ficção científica).