O fado de Lisboa
Imagem: Rua do Capelão. Símbolo
do Fado e da Mouraria
Lisboa é uma cidade multicultural , expressando história, arte, modernidade. Escrevo este artigo sobre o gênero musical português : o fado. Foquei-me no fado lisboeta. Para isso , fiz um percurso que vai da Alfama à Mouraria, conheci o Museu do Fados, casas de fado , até chegar Lisboa é uma cidade multicultural , expressando história, arte, à Casa de Amália Rodrigues. A arte musical é infinita , ultrapassa fronteiras sociais, históricas e geográficas.
Quando escuto um fado , sinto a alma poética portuguesa transbordando sentimentos , desde o lamento à saudade , até ao cotidiano português. A palavra fado vem do latim “fatum”, ou seja, destino. Talvez expresse o destino de um povo desbravador, audacioso e poético. Como escreve Fernando Pessoa: “ ´Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram. Quantos filhos em vão rezaram! (...) . A esta terra de poetas, de grandes navegadores que é Portugal , Camões deu a poesia e Amália Rodrigues deu a voz .
A origem do fado , ainda relativamente desconhecida , apresenta diferentes abordagens. Emergiu e consolidou-se em Lisboa , nos bairros da Mouraria e Alfama ; nascido no cotidiano popular de Lisboa , foi ganhando expressividade no decorrer dos anos.
Assisti em 2019 ao musical Severa, no Teatro Politeama, belíssimo espetáculo de Felipe de La Feria. Onde comecei a pesquisar e a percorrer os caminhos da Mouraria, para perceber sua história. Maria Severa Onofriana, a Severa, tornou-se um ícone , reconhecida como primeira fadista de expressão portuguesa (1820-1846). Filha de um cigano e de uma prostituta, famosa também por sua relação amorosa com o Conde de Vimioso, que proporcionou à Severa cantar para a elite lisboeta , Severa morreu aos 26 anos, pobre e desconhecida. Hoje é imortalizada e sua história resgatada.
No tempo da Severa , dançava-se e cantava-se o fado. Nos últimos séculos , o fado não se dança e sim se escuta . Talvez a dança do fado esteja efetivamente na alma , através da voz do fadista e dos acordes da guitarra portuguesa. Conseguimos sublimar as vicissitudes da vida através da música .
Quando visitei a Casa Museu Amália Rodrigues , pude conhecer a grandiosidade artística da Cantora. Na Casa , sente-se Amália por todos os lados. No Jardim da Casa , escutar um concerto musical é um momento único de arte musical.
Atualmente , nas casas de fados , apresentam-se muitos fadistas contemporâneos. Artistas internacionais expressivos, como a cantora Mariza com a sua voz impecável , apresentam-se pelo mundo cantando canções antigas e atuais. É a nova geração que toma visibilidade no cenário internacional.
Entretanto, o fado multiplicou-se em expressões artísticas. O pintor português José Malhoa, pintou o óleo sobre tela: “Fado” (Museu do Fado). Musicais, cinema, artes plásticas, teatro, exposições, literatura , expressam como tema o gênero musical. Passei uma tarde no Museu do Fado, tudo muito integrado, tantas vozes inseridas em diferentes contextos históricos.
O gênero musical sempre esteve dentro da história de Portugal.
Hoje , o fado não é tema musical somente dos portugueses, é um estilo musical que agrada a pessoas do mundo inteiro e foi elevado à categoria de Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade pela UNESCO, em Bali ( Indonésia-2011) .
Ao escutar vários fados, de diferentes cantores , queria sempre mais entender , vivenciar e conhecer de Portugal. Portugal , geograficamente , é pequeno, mas imenso na história, na cultura. Lisboa é uma cidade moderna , cosmopolita e próspera. O fado não é só de Lisboa , é de Portugal. Antônio Zambujo, cantor de fado da nova geração , muito conhecido no Brasil , é alentejano. De norte a sul de Portugal , podemos assistir a concertos de diferentes cantores.
Enfim , vamos aos fados. Vamos escutar canções e realizar uma catarse de emoções , de arte e sensibilidade.