Resposta ao Regis Tadeu: Chico Buarque e o Prêmio Camões

INTRODUÇÃO

Regis Tadeu é um crítico musical que eu muito respeito. Esse texto é uma resposta a um desafio dele. Regis, em seu canal no YouTube, no dia 29/05/2019, postou um vídeo de uma promoção. Nele, o internauta deve postar uma contra-argumentação contra alguma opinião dele deixada em algum vídeo do canal. A melhor refutação, escolhida por ele, ganharia um prêmio simbólico. Pois bem, vou tentar refutar um vídeo dele, especificamente um intitulado "Chico Buarque Não Sabe Escrever", de 30/05/2019.

Link do desafio:

https://www.youtube.com/watch?v=z3vzgz7MRdE

(Loja do Regis - Ganhe Esta Caneca e Esta Camiseta)

Link do vídeo que refutarei:

https://www.youtube.com/watch?v=JP8ysRaTJxw

(Chico Buarque Não Sabe Escrever)

REFUTAÇÃO

Antes de qualquer coisa, cumprimentos ao Regis pelo canal. Concordo, na maioria das vezes com suas opiniões. Seu conhecimento musical é invejável e fico feliz que ele compartilhe conosco. Vamos lá... vou discordar de seu vídeo sobre o Chico Buarque, de que ele "não sabe escrever". Vou construir minha argumentação baseada nos pontos que Regis citou.

1) Regis argumenta que o Prêmio Camões não possui muita credibilidade. Citou como analogia aquela constrangedora premiação dos melhores do ano do Faustão. Eu poderia me centralizar na analogia forçada que ele fez, ao comparar o Faustão com o principal prêmio literário lusófono, dando peso similar para coisas completamente díspares. Isso, por si só, poderia ser considerada uma falácia de FALSA EQUIVALÊNCIA. Contudo há algo que me incomoda mais: se tal prêmio não possui credibilidade para premiar o Chico Buarque, então, posso colocar em cheque todas as premiações anteriores desse prêmio, visto que elas também estariam "contaminadas" por essa falta de credibilidade, regrada a champanhes e canapés (como ele mesmo diz, sem apresentar evidências). E, nas edições anteriores, tivemos como vencedores: João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queirós, José Saramago, Pepetela, João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, Mia Couto, Raduan Nassar, etc. O prêmio não tem credibilidade porque fez, agora, uma premiação que não lhe agradou? Ou todas as premiações sofrem de parcialidade? Por que um prêmio que já goza de credibilidade há anos teria que apelar para marketing agora?

Sobre falácia de falsa equivalência:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Falsa_equival%C3%AAncia

2) O segundo ponto de sua argumentação diz respeito à "babação de ovo" em relação ao Chico. Várias partes daquilo que o Regis diz são variações desse argumento. Exemplo: "há uma panelinha (clã), um nicho intelectual", "todo fã é babaca", o "jornalismo cultural se ajoelha perante Chico", etc. Eu concordo com Regis que todo fã é babaca. Concordo com ele que existe, às vezes, parcialidade em quem elogia. Contudo, ao afirmar que TODO elogio à obra literária de Chico Buarque se sustenta em parcialidade e glorificação cega, ele cai novamente em falácia. Ele não tem evidências para sustentar a afirmação que TODOS OS ELOGIOS à obra escrita de Chico Buarque são equivocados, porque se baseiam apenas na apreciação da obra musical. Concordo que, pelo fato dele conhecer muita gente nesse meio artístico, ele tenha visto críticas parciais nesse sentido. Contudo, ao generalizar ele cai numa falácia de EVIDÊNCIA ANEDÓTICA. Não é porque ele viu algo do tipo que ele pode dizer que toda crítica literária é baseada naquilo que ele viu. Uma olhada rápida nas resenhas/críticas literárias feitas aos livros de Chico Buarque, em uma plataforma de leitores como o SKOOB, por exemplo, desmentem essa percepção. Sim, muitos levam em consideração a obra musical de Chico, mas a grande maioria analisa a obra em si.

Evidência anedótica:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Evid%C3%AAncia_aned%C3%B3tica

3) Letra musical não é literatura. Esse é seu terceiro ponto. Regis não detalhou o porquê de pensar assim, mas isso me soa totalmente estranho. Sabe o porquê? Porque a Literatura começou com Música, Regis! A Literatura Ocidental teve em seus primórdios obras como a Odisseia e a Ilíada de Homero e, estas obras, eram difundidas por meio de música. Os versos eram cantados, o que favorecia a transmissão oral, num período em que livros ainda não existiam, como concebemos hoje. A Literatura é anterior aos livros e, antes dos livros, existia a música. A mais antiga forma literária é, provavelmente, a poesia que, por definição, é o arranjo harmônico das palavras. As mais antigas obras literárias eram poemas transmitidos oralmente, em harmonia, melodia. Música e Literatura eram conceitos interligados que, com o passar dos séculos, se separam. Contudo, a linha que separa a poesia da música é muito tênue. Portanto, quando um Bob Dylan ou um Chico Buarque são premiados, tais prêmios não estão reinventando a roda. Estão apenas reconhecendo a poesia que há na obra musical de certos artistas. No caso de Bob Dylan e Chico Buarque, as letras de suas músicas poderiam ser consideradas, facilmente, obras poéticas. E poesia é uma forma de Literatura, a mais antiga forma de Literatura! Contudo, tanto Chico Buarque quanto Bob Dylan possuem livros escritos. Porém, mesmo que não tivessem, não seria absurdo atribuir-lhe tais prêmios, visto que suas músicas, em grande parte, são poéticas, possuindo valor literário. Não é uma ideia nova, mas um retorno à definições antigas.

Link recomendado. Numa rápida pesquisa no Google, me deparei com esse pequeno texto, que vai de encontro com o que eu falei:

https://homoliteratus.com/musica-e-literatura/

4) Por fim, o quarto ponto: a obra literária de Chico Buarque seria medíocre. Para sustentar essa afirmação, Regis afirma, e não tenhho motivos para duvidar, que leu cinco livros dele, mas que nenhum deles está na sua estante: todos foram doados porque seriam medíocres. Bom, a grande questão é? Onde está a mediocridade? Regis não diz. Regis não apresenta um único argumento sobre as obras em si! Ele fala de uma suposta parcialidade da crítica, coloca em cheque a credibilidade do prêmio, diz que literatura não é música mas... e as obras? Eu não tenho como refutar um argumento quando não há um argumento em si. Uma obra não é medíocre porque fulano ou sicrano disseram que é. É o mesmo que dizer: "Regis, todos os discos do Pink Floyd são medíocres. Eu escutei todos eles (nesse momento, eu mostro os CDs). Há uma tendência da crítica especializada em babar o ovo para Roger Walters e cia.". Isso é apenas uma analogia (eu gosto de Pink Floyd).

Nesse exato momento, tenho em mãos três livros do Chico Buarque: "Calabar", "Ópera do malandro" e "Fazenda modelo". Que trechos desses livros demonstram a mediocridade de Chico Buarque como escritor? É a retórica? A construção dos personagens? A ambientação? O desfecho? A proposta? Teatro não é legal? Enfim, Regis diz que os livros são medíocres, mas não aponta onde está ou em que consiste a mediocridade deles. Assim é fácil. Qualquer coisa que eu não gosto, torna-se medíocre. Por que? Porque eu sou um crítico respeitado, com milhares de seguidores, e minha opinião é suficiente para que seja considerada "correta", ainda que eu não apresente uma única evidência para isso.

CONCLUSÃO:

Acredito que esses quatro pontos refutem o vídeo do Regis. Contudo, devo lembrar que valorizo muito o trabalho dele. Há inegável valor em seu trabalho. Eu curto seus vídeos e sou assinante de seu canal. O fato de eu discordar um vídeo específico NÃO invalida seus demais vídeos e opiniões, obviamente.

Praticamente, todas as opiniões que emitimos, de forma espontânea, numa conversa franca (tal como nos vídeos sinceros do Regis e/ou numa conversa olho a olho), possuem uma ou outra falácia pois é impossível, em tempo real, parar e pesquisar sobre TUDO aquilo que estamos abordando... e é impossível saber tudo e, mesmo quando conhecemos muito determinado assunto, nem sempre sabemos todos os nuances que povoam aquele assunto contextualizado.

Enfim, vida longa ao Regis e parabéns ao Chico Buarque por sua MERECIDA premiação LITERÁRIA!

Manoel Frederico
Enviado por Manoel Frederico em 30/05/2019
Reeditado em 04/06/2019
Código do texto: T6660778
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