Tempo Perdido - Legião Urbana
A música "Tempo Perdido", da autoria de Renato Russo, foi divulgada em 1986, no disco "Dois", o segundo da banda Legião Urbana. Trata-se de uma reflexão acerca da passagem inevitável do tempo e da condição efêmera da vida. Apesar do título, a mensagem da música é a de que sempre podemos mudar nossas prioridades e nossos modos de viver, e o de que devemos nos dedicar ao que realmente é importante para nós. E isto é o que parece estar acontecendo novamente hoje, 32 anos depois.
O tema começa exatamente por refletir sobre o momento em que acordamos, ali percebemos a passagem do tempo, e a impossibilidade de recuperar o passado. Um momento nostálgico? Não. Uma reflexão sobre tudo, pois ("Não tenho mais / O tempo que passou") e também não posso evitar a vinda do futuro, o que é preocupante ("Mas tenho muito tempo / Temos todo o tempo do mundo"), não é verdade?
A música nos leva a perceber que o sujeito não está sozinho, o uso do pronome pessoal "NOSSO" confirma a presença de um outro, a quem o sujeito se dirige, e isto é interessante. Pois, a música, na verdade, é um diálogo. Assim como acordo, antes de dormir (“Lembro e esqueço como foi o dia”), lembro da agitação de tudo o que está acontecendo atualmente, principalmente do fato de que o Brasil acabou de emergir de uma ditadura militar que durou mais de duas décadas. Mas, logo quero esquecer, pois a realidade de 1986, era a de que o Plano Cruzado pretendia acabar com a hiperinflação. Os dias eram loucos e tudo parecia estar resultando em grandes instabilidades financeiras, principalmente para o povo.
Porque, então me preocupar com (“o tempo que passou”), ele passou, (“Mas tenho muito tempo”), na verdade (“Temos todo o tempo do mundo”). Renato Russo nos convidava a continuar caminhando a não parar, apesar do momento ser delicado, nós precisamos ir (“Sempre em frente”), pois eu e você (“Não temos tempo a perder”). A liberdade que conquistamos não foi para a jogarmos no lixo. Ei! (“Nosso suor é sagrado”), precisamos procurar novos caminhos e não caminhos que nos levem a loucura, pois enquanto brigamos entre nós, àqueles que possuem o poder continuam rindo de nós. Se não conseguimos criar meios para discutirmos inteligentemente sobre política, religião e futebol, como iremos falar sobre quem é o melhor presidente para o nosso País? Porque, neste momento, tudo o que percebemos (“É bem mais belo que esse sangue amargo”). Mas (“tão sério / E selvagem / Selvagem / Selvagem”).
Mas, quem tornou o sangue amargo? Por que nos tornamos tão selvagens? O tempo! O tempo transformou a nossa liberdade tão sonhada em cinzas, de forma que olhamos e tudo o que vemos são tempestades, hoje. Uma juventude que não se posiciona, e nem se manifesta, perdida, alienada, e totalmente distante da realidade social (“Veja o sol dessa manhã tão cinza / A tempestade que chega é da cor dos teus olhos / Castanhos”).
É verdade que Renato Russo foi uma voz, quando muitos de sua geração estavam perdidos, por isso conseguia transmitir facilmente o que os jovens de sua época experimentavam em seus cotidianos.
Precisamos urgentemente sermos abraçados, pois estamos (“...mais uma vez ... / Distantes de tudo”), tão próximos e tão distantes. O tempo é nosso e tudo está a nosso favor. Mas, não conseguiremos vencer, pois estamos vivendo no presente, pensando em um futuro que talvez nem tenhamos. Enquanto Renato Russo dizia (“Não tenho medo do escuro”), e pedia para que (“deixassem as luzes / Acesas agora”). Nós estamos andando no escuro há muito tempo, e já não temos mais medo dele, pois nos acostumamos. E, por fim, não desejamos mais as luzes, pois elas nos incomodam.
(“O que foi escondido / É o que se escondeu”), não esconderam, retiraram de nós a força a educação, a moral, e a verdade. (“E o que foi prometido / Ninguém prometeu”), esse é o problema, muitas coisas foram prometidas e nenhumas cumpridas, alguém prometeu. Por isso, o tempo parece ter sido perdido, estamos parados, não evoluímos há muito tempo, na verdade regredimos nos valores e na moral.
Os anos 80, no Brasil, não foram tempos de grandes crescimentos ou evoluções, e por isso ficaram marcados nas páginas da nossa História como uma "década perdida". Mas, nós (“Somos tão jovens / Tão jovens / Tão jovens”).
O segredo do tempo está na sabedoria do poeta e rei Salomão em Eclesiastes 3, que inicia dizendo: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”, estaríamos nós destinados a viver o caos, já que não conseguimos nos entender, ou já, o estamos vivendo antes mesmo dele começar? Que nada se perca, e que tudo o que estamos vivendo neste momento seja para o nosso crescimento pessoal.
Que depois disto tudo nos lembremos, de que temos uma vida inteira ainda pela frente para viver. Talvez eu não seja uma voz como a de Renato Russo, mas tento aqui responder a angústia existencial que tem assombrado as redes sociais e as mentes de todo o povo brasileiro: o medo de mais uma vez estarmos desperdiçando o nosso tempo. Mas, não importa, nós queremos tentar mais uma vez.
Embora pareça estarmos focados em nossas opiniões pessoais, acreditamos que o futuro existirá e que ele está por vir, e no momento temos a liberdade, e tempo de mudar nossas condutas e prioridades.
Deus nos ajude!
“Minhas Palavras, meu Púlpito”