Os julgamentos no meio musical
Certa vez, ouvi um gaiato dizer: Sou feio, mas estou na moda! Com essa compensação esdrúxula, talvez ganhasse o dobro do que a feiura lhe roubara. A moda de cada época, faz suas imposições, gerando contrastes interessantes, vejamos alguns exemplos musicais, e observemos os disparates, do que foi, e o que se torna preferência pela aprovação popular.
Um virtuose como Hermeto Pascoal, aclamado internacionalmente, vai demorar a ter o mesmo reconhecimento em nossa terra, porque o povão não sente a sua música rebuscada, já, o mesmo não se pode dizer das criações de um Luiz Gonzaga.
Acredite, mas, no início de sua carreira, a voz do Roberto Carlos, foi rejeitada por gravadoras cariocas, mesmo ele cantando Bossa Nova, e sabe por quê? Os padrões vocais daqueles tempos eram outros, ainda era moda cantar como Nelson Gonçalves ou Cauby Peixoto.
Imagino que o roqueiro Raul Seixas, jamais seria aceito pelos ouvintes dos anos 30, tanto por seu estilo irreverente, quanto por sua loucura poética. E, se uma Joelma Calipso se apresentasse para um público de 1910, seria tachada de pervertida e de alguém que estivesse induzindo os costumes de Sodoma e Gomorra ou antecipando o Apocalipse, naqueles tempos de recato supremo.
Contudo, voltemos ao presente, e vejamos como mesmo hoje, acontecem contrastes nos julgamentos do meio artístico. Segundo uma enquete da revista Bula, pela internet, a Joelma é citada como a pior voz de cantora. Porém, ela é conhecida por sua voz suave, beleza exótica, botas de saltos altíssimos, jogadas de cabelo e pela capacidade de cantar e dançar ao mesmo tempo. Já ganhou inúmeros prêmios por sua atuação como vocalista, além de ter sido considerada por quatro vezes uma das mulheres mais sexys do mundo pela revista VIP. E aí, o que dizer mais?
Vejamos outro caso poético-musical-internacional, o cantor Bob Dylan é o primeiro na lista dos cantores mais desafinados do mundo, no entanto, o homem recebeu o Nobel de Literatura do ano passado, claro que não foi por sua voz, mas pela poesia de suas canções, que se encaixavam na exigência dos premiadores. Se a revista VIP, quis alguém sexy e escolheu a Joelma com seus gritinhos, foi além da cantora; se o Nobel queria alguém com uma mensagem engajada, e premiou o Sr. Dylan, foi independente dele cantar afinado ou não. Pois é caro leitor, isso se dá porque as artes de alguma forma se entrelaçam e a modernidade levada da breca, tem seus conceitos flutuantes e voláteis.