MÚSICA DE PLÁSTICO

Sobre a música para poder analisá-la o mais correto seria separar em períodos cronológicos, mas isso demandaria um texto imenso e um tempo que eu não estou disposto a gastar. Portanto, partirei de opiniões daquilo que está acontecendo atualmente. Eu, como fã de Heavy Metal, já estou acostumado em saber que o nosso lugar está reservado na história, não evolui na indústria fonográfica, nem na mídia televisiva de grande massa, nem queremos, pois temos o nosso espaço, temos colocações e público suficiente para lotar e acompanhar as bandas em vários lugares do mundo, aliás, em todos os lugares do mundo. Pergunto-me: Nos grandes festivais as bandas de Heavy Metal sempre são “headliners”. Isso explica a nossa não dependência de um “mainstream” global para bajular bandas que possivelmente estariam fazendo sucesso em demasia. O rock existe desde que se sabe da existência da música popular, ele derivou da música negra, evoluiu ao longo dos anos e se consolidou como ritmo mais importante em se tratando de conceito musical. Não há no mundo quem não busque um pouco de suas influências, de suas raízes para compor outros tipos de música.

Muitos vaticinaram que ele estivesse morto. A cada década que se passava o slogan aparecia, mas ele sempre se reinventava e cada vez mais forte, mais original, com bandas que se multiplicavam. Assim o foi quando acabou o NWOBHM, mais aí veio o Glam, passou o Glam e entramos nos anos 90 com o movimento Grunge, sem mencionar os subgêneros, como o Black Metal norueguês e o Death Metal dos anos 90. Passado o grunge, todos imaginavam que dessa vez com a morte de Kurt Cobain do Nirvana tudo se acabaria, mais aí veio o Nu Metal e um zilhão de bandas por todos os lados começaram a surgir, como se fosse uma epidemia.

Atualmente, temos no estilo, as bandas que realmente mostraram ser de qualidade e prosperaram. Aquelas dos anos 80, principalmente.

E o Brasil? Como está a música atualmente? Eu, enquanto conhecedor de rock, posso dizer que vai bem! Graças a Deus! Vivendo basicamente do underground que foi o lugar que sempre nos acolheu. Bandas surgem todos os dias, temos grupos muito bons, estes reconhecidos mundialmente, mas que são desconhecidos da grande mídia, pois a mesma só se preocupa com vendagens e propaganda.

Mas até aqui está tudo bem, quero partir, como leigo que sou, para a sabedoria popular, para as paradas de sucesso, a “Billboard” brasileira, o Top 100 das melhores coisas que estão tocando diariamente nas rádios brasileiras. Não acompanho absolutamente nada, mas me atrevi a fazer uma breve pesquisa para escrever este texto.

Dei uma olhada em alguns rankings confiáveis como no Youtube, o site Vagalume e o site Guia da semana e todos apresentaram listas praticamente idênticas, com um ou outro nome em discordâncias. O resultado já me era esperado, uma esmagadora vantagem de músicas popularescas, feitas por compositores que não possuem nenhum compromisso com a arte, que não imaginam a música como algo para além dos tempos, só a olham como algo momentâneo, efêmero, que faça sucesso por alguns meses até aparecer outra que lhe substitua e a sepulte para sempre, restando algumas lembranças somente quando mencionadas em shows dos artistas por elas cantadas.

Após pesquisar esses rankings constatei que numa lista de cem músicas 70% eram sertanejas, 6% são de funk, 9% são pop’s nacionais e internacionais e, por incrível que parece há uma que pertence ao gênero brega, do clássico Amado Batista, um sobrevivente. Os 15% que restam ficam divididos entre os ritmos de forró, pagode, axé e dance/eletrônica. Agora, reforçando o que eu disse no início desse texto cadê o rock? Eu poderia abrir um precedente para mais cem músicas que não caberia aqui nenhuma que fosse do estilo do rock do mais pesado ao mais leve.

Tive também a curiosidade de dar uma olhada no que está acontecendo nas paradas de sucesso nas rádios “gringas”, por lá o que impera é o pop de cantoras como Beyonce, Rihana, Demi Lovato e Ariana Grande, raramente, aqui ou ali aparece algum resquício de rock como uma música do novo disco do RHCP e uma música do DNCE, no mais a lista é enfeitada com músicos que criam músicas entre si, marcam “jam sessions” e gravam músicas como singles para estourarem e, assim, arrematar cada vez mais fãs. Pois bem, em todos os cantos do mundo a decadência musical parece imperar, não demonstrando o poder que ela realmente tem em produzir – Protestar, demonstrar indignação e contestar flagrantes diante de injustiças contra o que tudo e todos aqueles que se sintam prejudicados.

Dedico agora essa parte do texto para falar da paupérrima situação em que se encontra a música que está sendo veiculada pelas rádios, televisões, meios de comunicação brasileiras em geral. As mídias não sabem se propositadamente escolhem artistas vazios para se apresentarem em programas que já não possuem conteúdo algum. Primeiramente, gostaria de analisar o “FUNK”. Este estilo sofreu ao longo de tortuosos longos anos várias transformações, originou-se dos guetos negros dos Estados Unidos, onde servia como uma identificação de personalidade para aquelas pessoas e foi se espalhando mundo afora. Mas com essa propagação houve a corrupção de sua riqueza cultural e original.

Passaram-se os anos 80, surgiu o Grupo/Gravadora chamado(a) Furacão 2000 que compilou vários artistas no início deste milênio e transformou tal estilo em sucesso nacional. Começava ali, as primeiras ramificações do funk no que podemos chamar de “música com identidade marginal”. Ela, por quase duas décadas não evoluiria praticamente nada, ficando restrita às comunidades e aos bailes funk que só aconteciam dentro das favelas e sabe-se lá o que acontecia. Nesse ínterim surgiram vertentes desse estilo musical, como o funk proibidão, o funk de apologia ao tráfico, o funk melody, entre outros. É interessante salientar que, por mais que as letras dessas músicas fizessem apologias ao crime, às drogas e contra a polícia era preciso saber que aquele era o mundo daquelas pessoas, portanto, elas não poderiam estar escrevendo sobre “rosas e margaridas enfeitando jardins”, quando o que viam quase todos os dias era a guerra do tráfico vencendo o pouco de civilidade que ainda restava nas poucas pessoas de caráter que tentavam sobreviver. Analisando o conjunto da música, propriamente dita e composta da elaboração de um funk, dá-se para perceber algumas peculiaridades, como uma onomatopeia indefectível, que se repete praticamente durante todas as músicas do gênero: “tchu”, “tchã” “tchu”, “tchã”, claro que ninguém sabe explicar o que venha ser esses sons bizarros, mas acham estranho quando um vocalista de Metal canta com voz gutural.

Certo, não aguentei assistir um clipe todo de funk, toda aquela besteirada já ultrapassada de ostentação copiada lá do início dos anos 2000 com 50 cent, Snoop Dog e outros, já deu o que tinha de dar. Deixo a minha opinião para esses meros reprodutores das babaquices que os brasileiros, em sua maioria querem ouvir, vocês não possuem talento, apenas tropeçaram um pouco no tempo de algumas fantasias. Possa que exista fama no absurdo, mas sei que ao inteligente não falta a humildade para não se oferecer para tal mérito.

Mas a praga que está dizimando a música brasileira reponde por música sertaneja. Imagine um estilo musical, onde um sujeito que consiga tocar os acordes de “Gaúcho da Fronteira”, “Chico Mineiro” e “É o amor”, bem como ter um timbre parecido com o de Zezé di Camargo, junto com um companheiro que faça um boa figuração no palco e dando uma ajudinha na segunda voz. Aí se pensa num que não seja o seu próprio, mas algum entre aves ou nomes de rios e nomes compostos de pessoas. Pronto está feita a receita para se criar uma bela dupla sertaneja. Talvez por isso que a praga só aumenta, ninguém em sã consciência consegue apacientar-se com tantas letras sinônimas, com tantos chavões, clichês, declarações pisoteadas e enlameadas de um amor já dispensado por outro que o substituiu. É assim que acontece no mundo sertanejo, a rapidez com que as coisas acontecem é impressionante, os sucessos, voam, as bandas decolam de uma hora para outra, os temas são sempre os mesmos, amor, traição, mulher, cachaça, ostentação e futilidades, nada que nos faça refletir, a intenção é parar na mais putrefata zona ao final de uma noite de embalos movido a muita bebida.

Colocando em parâmetros, não irei analisar nem o axé Music, nem o Pagode, pois percebo que no atual cenário não possui uma relevância predominante ao gosto popular. Podemos encontrar tanto no funk, quanto no Sertanejo elementos populares, danças peculiares, letras direcionadas, sem muita criatividade, em relação a melodia quem teria uma maior criatividade? Ambas decepcionam. E, por último, mas não menos importante, qual legado tais estilos, ritmos musicais deixarão para a posteridade, como obra musical, álbuns clássicos, músicas que se tornarão eternizadas e personagens que serão lembrados mesmo depois de suas mortes? Música de verdade é considerada música quando preenchem estes requisitos, pelo contrário, não passa de modinha em redemoinho que logo irá passar. Deixo que uma última pergunta: “Vocês se lembram, sem parar para pensam, de 10 músicas da banda ou artista que você mais gosta?”

Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 05/01/2017
Reeditado em 15/01/2017
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