Brasil: o refinamento nas orquestrações do samba nos anos trinta.
A Rádio Nacional começou suas transmissões em 1936 e teve nova programação incrementada em 1940 pelo governo Vargas. Nesse tempo também os Cassinos serviam de espaço para apresentações de famosos artistas na “Cidade Maravilhosa”, então capital federal. Enquanto a Europa preparava uma grande guerra, por aqui o que se via era uma atmosfera de glamour. Carmen Miranda com o seu grande sucesso Ta-Hi, foi em seis meses considerada a maior cantora do país. Muitos artistas se destacavam e os temas das canções eram bem variados, porém o “amor” nunca saiu da moda. O foxtrote americano era ouvido, a marchinha, a serenata “Última Estrofe e a valsa Rosa” cantadas por Orlando Silva. No rádio, Sílvio Caldas entoava uma marchinha de carnaval em que endeusava a loirinha em vez da moreninha que seria a rainha do seu carnaval. Mário reis cantava “Uma Jura Que Fiz” samba que tratava abertamente da questão da traição no relacionamento homem mulher.
O samba foi passando por modificações com intenção puramente comercial. A década de 1930 foi o período no qual o samba-canção foi desenvolvido como estilo musical, com a produção de massa a partir das mudanças no andamento batucado e simples do samba urbano carioca e da conservação da estrutura musical original. Esse desenvolvimento apoiou-se em um contexto de formação dos programas de auditório nas rádios, ao mesmo tempo em que vinha atender aos consumidores de disco durante o período que se estendia da quaresma até o mês de setembro, quando se voltava o interesse pelas músicas carnavalescas.
Em um cenário de formação do incipiente mercado fonográfico brasileiro, as gravadoras passaram a contratar os serviços de músicos profissionais. A atuação deles como diretores artísticos marcaria a forma orquestrada pela qual saíam os sambas que lhes eram entregues. Foram estes profissionais os pioneiros na tentativa de adaptação do ritmo do samba, com a modificação do seu andamento, a fim de obter uma forma "mais refinada" de composição, ou seja, um estilo de samba que permitisse maior riqueza orquestral e um toque de romantismo capaz de servir às letras de fundo nostálgico e sentimental, características das música da classe média brasileira, desde o tempo da modinha imperial. Desta maneira, os primeiros sambas-canções apareciam para atender ao gosto de milhares de cariocas que frequentavam redutos da classe média, como os teatros São José, Fênix, Cassino Beira-Mar e Recreio, onde brilhavam cantores como Araci Côrtes, Francisco Alves e Vicente Celestino.
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