Brasil: O preconceito das elites para com a nossa música popular no passado.

O mundo da arte sempre apreciou as novidades, assim é que o ritmo maxixe teve seu grande embaixador no exterior. O ex-dentista baiano Antonio Lopes de Amorim, o Duque com a bailarina Maria Lino, que lançaram a nova dança em salões de Paris. O maxixe que em nossa terra era mal visto pela aristocracia, em 1910, nesse mesmo ano era aplaudida e imitada na França, na Alemanha e na Inglaterra.

Enquanto alguns artistas brasileiros pensavam na valorização do que era nosso, outros por desconhecem, não sentirem a arte, ou por estarem ligados à burocracia e a política, cultivavam opiniões preconceituosas e davam preferência ao que era aparentemente mais sofisticado só por ser estrangeiro. Refiro-me à elite brasileira do início da República na pessoa do prolixo Rui Barbosa que criticou a peça “Corta Jaca” da Chiquinha Gonzaga e Machado Careca por ter sido executada por Catullo ao violão e pela senhora Nair de Tefé, esposa do então presidente Hermes da Fonseca, no palácio do governo em uma festa. Antes dos anos 20, o preconceito era grande para com a música da plebe e até mesmo o violão sofria discriminação por ser tido como instrumento de malandro.

A 7 de novembro de 1914 em discurso no Senado Federal o famigerado Rui se pronunciou:

“Uma das folhas de ontem estampou em fac-símile o programa de recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes mais reservados elevaram o "Corta-jaca" à altura de uma instituição social. Mas o "Corta-jaca" de que eu ouvira falar há muito tempo, o que vem a ser ele, sr. Presidente? A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o "Corta-jaca" é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!

Mas é isso, tivemos e ainda temos que engolir o que alguns “donos da verdade” impõem.

Registros da época nos dizem que no início do século XX o Rio de Janeiro era uma das cidades do mundo que mais possuía pianos em suas casas. Quase não havia clubes, a aristocracia fazia suas festas em suas residências, esses eventos tinham o nome de saraus.

O que havia de erudito no fim do século XIX eram as criações do maestro Carlos Gomes, o maior criador de óperas do nosso país.

Para ouvir o “Corta Jaca” e ter noção da dança grosseira e selvagem que o polímata Águia de Aia disse que era, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=4wfrA54BMZg

Continua no próximo artigo.