Rock and Roll, já sessentão!

A revista Rolling Stone de julho, em sua edição brasileira, destacou os 60 anos do surgimento do Rock, tomando como “marco zero” o ano de 1955, quando a canção Rock Around the Clock, de Sonny Dae and His Knights, regravada em 1954 por Bill Haley & His Comets, estourou como música de apelo jovem ao entrar na trilha sonora do filme Sementes da Violência, lançado em março daquele ano. Em 9 de julho o antológico hit atingiu o primeiro lugar na parada musical dos Estados Unidos.

Todo o marco é definido por uma escolha intelectual, já que os estilos musicais geralmente também correspondem a processos culturais, sociais e comportamentais, que se dão paulatinamente. As origens do rock estão na música negra (blues e rhythm and blues), por um lado, e na música branca (country), por outro, ambas oriundas de estratos mais baixos da população.

Artistas como Haley e Elvis Presley tornaram o novo ritmo (nos anos 1950 denominado como “rockabilly”) uma música branca, com expressão tanto na classe média quanto na classe operária, marcadamente com eco em faixas etárias mais jovens da população. E ele se espalhou, assim, através da força de divulgação e do poder econômico da indústria cultural estadunidense, pelo mundo (no Brasil, seu início se deu com a Jovem Guarda do “Rei” Roberto Carlos e do “Tremendão” Erasmo). Uma música revolucionária do ponto de vista comportamental que, ironicamente (ou não), gerou muito $ para o $tatu$ quo financeiro.

Faço esse artigo nesse mês para destacar justamente esse ponto, visto que o mais paradigmático e influente festival de rock, o de Woodstock (que não ocorreu na cidade de Woodstock, para onde fora inicialmente marcado, mas sim na de Bethel), aconteceu de 15 a 17 de agosto de 1969, durante o auge (ou epílogo?) da chamada contracultura dos anos 1960, visível (e lembrada hoje em dia) principalmente devido à repercussão do movimento hippie, aquele do “paz e amor”. Os hippies, para simplificar e encurtar a conversa, postulavam e praticavam algo como um socialismo libertário e comunitário, antibelicista e integrado à natureza, com plena liberdade sexual. Quem assistir o filme sobre o festival (tem em qualquer locadora) verá isso. E verá mais também. Embora a filosofia antiracista do movimento, podemos observar essa característica branca, de classe média e proletária do rock no filme. É só prestar atenção no número de artistas e de fãs negros presentes ao evento, bem residual.

Depois do rockabilly, o rock foi se multifacetando como psicodélico, progressivo, hard rock e heavy metal, só para citar algumas vertentes de uma longa lista, sempre em evolução, eis que o rock tem a característica de ser um estilo musical camaleão, que se associa facilmente a outros. Chega finalmente aos anos 2000 totalmente integrado ao $how bu$ine$$, com seus grandes artistas milionários guardando apenas aquela rebeldia superestrutural de costumes, sem questionar estruturas econômicas, coisa que os hippies, pelo menos, praticaram no cotidiano de suas “comunidades”.

Surgido, como vimos, nos EUA, obteve também força propulsora em outros países de língua inglesa, como Austrália (AC/DC, Midnight Oil, Men at Work, INXS, Australian Crawl), Canadá (The Band, Neil Young, Joni Mitchell, Rush, Bryan Adams, Alanis Morissette), Irlanda (Van Morrison, Rory Gallagher, U2, The Cranberries) e, principalmente, Inglaterra, de onde saíram bandas seminais e icônicas como Beatles, Rolling Stones, The Who, Led Zeppelin, Pink Floyd, Queen e Oasis, além de guitarristas famosos como Eric Clapton e Jeff Beck, dividindo espaço no pantheon do rock com artistas americanos como Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Doors, Creedence Clearwater Revival, Bob Dylan e Guns’N Roses, alguns nomes de uma lista, igualmente, longa.

“I said I know it's only rock 'n roll but I like it” – Rolling Stones.





Artigo publicado na versão impressa e na seção de Opinião online do jornal Portal de Notíciashttp://www.portaldenoticias.com.br