REMINISCÊNCIAS SONORAS
A cada noite dormida corresponde um novo dia, com avanços tecnológicos surpreendentes e, ao mesmo tempo, nos facultando novas experiências.
No caso das inovações da Informática, vemos que a aparelhagem que adquirimos no ano passado vem sofrendo rápida metamorfose, ampliando possibilidades de desfrute, de sensações, de novas perspectivas e, sobretudo, de novas experiências.
Para os aficionados pelas maravilhas sonoras, esses avanços abrem um imenso leque para que os mais afoitos e criativos possam dar asas à intuição e descobrir caminhos interessantíssimos.
Lembro-me que, na juventude, aficionado pela música clássica, curtia minhas preferidas na famosa “Casa Palermo” instalada na imponência do “Largo da Carioca”, bem pertinho do “Tabuleiro da Baiana”.
Na loja, à disposição dos possíveis compradores e, também, dos que não resistiam à isca, havia vários fones-de-ouvido, acoplados a vitrolas, nos quais escutávamos nossos grandes mestres incrustados nas “bolachas negras” de 78RPM. Ao lado, um repositório de agulhas de metal que precisavam ser trocadas após trabalharem em cima de uns cinco ou seis discos. Com visada para a rua eram expostos alguns modelos de “rádios-vitrola” da marca “Phillips”.
Naquela época, o nome “vitrola” era comum a todo o tipo de engenhoca arquitetada para a reprodução de discos. Por conseqüência, “rádio-vitrola” correspondia ao aparelho destinado a reproduzir discos e, também, sintonizar as estações de rádio disponíveis. Não havia, ainda, a transmissão em freqüência modulada (FM) e as emissões eram realizadas somente em amplitude modulada (AM).
O nome “vitrola” era uma generalização popular denominando todo o tipo de aparelho para tocar discos. Essa generalização era imprópria, tendo em vista que fora criada para designar unicamente os toca-discos da marca “RCA-Victor”.
O logo da marca era a figura de um cãozinho, de frente para um gramofone, atento ao que saía lá de dentro. O objetivo do fabricante era induzir a ideia de que o som da gravação era tão perfeito que o cãozinho reconhecia a voz do próprio dono saindo lá de dentro. Por isso, a razão do dístico, “A Voz do Dono”.
Essa generalização também afetou outros itens comerciais assim como o povaréu decidiu chamar de “gilete”, todo o tipo de lâmina de barbear, cuja marca mais conhecida era a da King C. Gilette, a “Lâmina de Barbear Gillette Adams”. Ao que me consta, esse costume perdura até os nossos dias.
Pelos idos de 1958 adquiri, lá na “Casa Palermo, uma “Phillips” e passei a curtir minhas músicas em casa já com o recurso dos famosos discos “long play”
Na rua em que eu morava, a Silveira Martins, no Flamengo, havia um vizinho muito meu amigo, também amante da música. Um dia, chamou-me em sua casa e tive a maior surpresa da vida. Confortavelmente instalado no sofá da sala, diante de um exuberante aparelho já com o recurso da reprodução em “Alta Fidelidade”(Hi-Fi), curtimos a “Sheherazade, de Rimsky Korsakov .
Voltando ao passado, nesse exato momento, estou ouvindo no “Aiwa-NSX-2200”, acoplado ao computador, a “Sheherazade” do Korsakov. Com ela, além das Mil e Uma Noites do Sultão Shariar, vislumbro a carinha raivosa e linda da Raquelzinha, a nossa Sheherazade das mil e uma notícias... Para os interessados aí vai o link: https://www.youtube.com/watch?v=SQNymNaTr-Y
Bem! A partir daí um novo panorama auditivo se descortinou e, até hoje, curto minhas músicas, em especial “smooth” e “loft jazz”, instalado no sofá da sala, com um “on the rocks” no copo...
Mas, esse preâmbulo saudosista, de repente, dá um salto no tempo e vem cair bem nos dias de hoje tentando salvar um pouco do bom que sobrou.
Assim, relatarei uma deliciosa experiência que, penso, poderá estimular alguns leitores que, como eu, não trocam um bom resultado sonoro à antiga por um moderno reprodutor de música transistorizado ou com circuitos integrados de duração efêmera face à rapidez com que os laboratórios cuidam de ultrapassar seus próprios inventos.
Indiscutivelmente a equipagem sonora que conhecemos, composta por transistores e circuitos integrados, nem ao longe reproduzem a qualidade sonora dos antigos equipamentos de rádio, amplificadores ou reprodutores de discos com o emprego de válvulas eletrônicas.
Cabe aqui, a confissão de que a afinidade com as válvulas vem do meu tempo de radioamador em que vivia rodeado por elas e, com elas construía meus próprios transmissores através dos quais falava com o mundo através do “pi-ra-ri-ra-ri” da Telegrafia, o Código de Samuel Morse
Infelizmente, a indústria do consumismo, pela modernidade, eliminou esse recurso da Eletrônica substituindo-o pelos integrados com reprodução aquém da qualidade dos seus antecedentes.
Um dia, diante da impossibilidade de manter o meu valvulado, passando diante de uma loja de importados acabei interessado em um equipamento moderno, da linha “Aiwa”. Tratava-se de um “Digital Áudio Sistem - NSX-2200”. Isso, lá por volta de 1993.
De lá para cá não encontrei nada melhor, em termos de qualidade de reprodução, do que esse aparelho “made in Japan”. Por mais que experimentasse outras marcas não encontrei nenhum com a capacidade de reprodução melhor do que esse meu velho companheiro que conservo com todo o carinho e dedicação.
Foi então que resolvi conectar a saída de áudio do meu computador à entrada auxiliar do “Aiwa NSX-2200. Nem posso expressar, com fidelidade, a satisfação que obtive com o resultado. Como disponho de um número de arquivos musicais considerável ouço sempre minhas músicas preferidas com excelente qualidade de reprodução o que se resume em “prazer”.
Acontece que, na época em que foi adquirido, a tecnologia ainda não havia colocado no mercado aparelhos dotados da capacidade de reproduzir músicas gravadas em “pen-drivers” ou em “cartões de memória. Com a eliminação das antigas fitas cassete, os dois decks do aparelho ficaram sem serventia. Foi então que tive uma ideia que considero ser útil para uma boa penca dos leitores aqui do “recantinho”.
Dito tudo isso, agora vem o melhor. Para os leitores que dispõem de equipamentos de som antigos, sem entrada USB, mas de qualidade sonora que justifiquem a sua manutenção em atividade, sugiro a seguinte experiência:
Nas lojas, ou feiras, em que estão à venda produtos eletrônicos importados são encontrados, com facilidade, “pequenos transmissores de ondas de rádio em frequências adequadas para a captação pelos rádios instalados em automóveis”; basta ajustar a sintonia na mesma frequência e, pronto. O rádio do carro estará tocando as músicas do agrado do proprietário, sem propaganda e nem blá-blá-blá.
Esses aparelhos comportam, em entrada USB, os “pen-drives” nos quais estarão armazenados os arquivos musicais preferidos. Também têm entrada para a reprodução de arquivos gravados em cartões.
O pulo do gato vem agora! Than-tchan-tchan-tchan!
Como o aparelhinho transmissor foi projetado para funcionar no rádio do carro, a sua alimentação é com a tensão de 12 volts em corrente contínua. Assim, o equipamento é construído para ser alimentado no alojamento do isqueiro do automóvel.
Para solucionar esse problema, também há, disponível, uma fontezinha conversora que, instalada na tomada da parede, nos 110V ou 220V da rede residencial fará a conversão para 12VCC, alimentando o transmissorzinho. Essa fontezinha possui um alojamento para isqueiro, igualzinho ao do automóvel. Logo, tudo irá funcionar direitinho nas tomadas da sua casa.
Nessa altura dos acontecimentos o transmissorzinho estará plugado bem perto do seu sonzão, onde você quiser, na sua casa ou em qualquer outro lugar.
Agora, é só estabelecer a sintonia e que se danem os equipamentos modernos dotados de entrada USB e os cambaus! Sonzão mesmo é o que você tem em casa e gosta de curtir. Experimente e depois venha contar o resultado!
Hehehehehehehehe!
Amelius – 25/03/2015