E A MÚSICA SERTANEJA, COMO VAI?
Desde que foi posta em disco, há mais de 84 anos, originalmente denominada Moda Caipira, muitas transformações aconteceram e vem sofrendo mudanças cada vez mais acentuadas nos dias atuais. São tantas as adulterações que, de caipira não resta quase nada além de alguns registros hitóricos guardados nas recordações. O sertanejo autêntico pouco a pouco vai cedendo espaço para o moderno, apontando para o fim de uma tradição que é filha legítima do interior. É certo, porém, que esta arte sobreviveu gloriosamente alimentando paixões e sentimentos por várias décadas e deu notoriedade e fama a muitos dos seus expoentes. Sofreu também fortes influências paraguaias e mexicanas. É também verdade que atualmente não há mais conteúdo temático para inspirações sertanejas, a não ser de "segunda mão". A carência de compositores autêncios é notável. Os apreciadores das duplas que estão na moda sabem mal por ouvir dizer o que é o Cururo, Rasqueado, Moda Campeira, Cateretê, Baião, Cana Verde ou Racheira. Os tempos mudaram e os hábitos são bem outros. As caçadas e as pescarias em proibição absoluta; o carro de bois, a tropa, a boiada e as viagens em lombos de burros ou cavalos são uma raridade fora dos passeios turísticos; as festas de santo e de terreiro em declínio, ou deturpada pelas "organizações conservadoras" - sem nada a ver com a original; os mutirões e o trabalho braçal substituídos por máquinas; a liberação dos amores difíceis ou proibidos roubaram ou minaram as inspirações mais xonadas. Essas são, ao meu ver, apenas algumas das principais causas da cisão entre passado e o presente das coisas e casos da roça, que tão bem foram transformadas em belas poesias musicadas e interpretadas magistralmente na sua forma mais simples de canto contagiante, ao longo de décadas inteiras.
Para os saudosistas e tradicionalistas vai surgindo um vazio cheio de interogações e inapagáveis recordações. O que estamos vivenciando agora (além do surto de regravações) é o surgimento de novos valores artísticos efêmeros, novas estruturas musicais desprovidas de temática, com arranjos que não passam nenhnuma autenticidade, nenhuma emoção, não nos levam a nenhum devaneio. Vale, porém, vivenciar o momento para, quem sabe, daqui a outros 80 anos, uma nova história poder ser relembrada e contada pelos os da geração atual.
DO FOLCLORISTA Everaldo de sousa Reis