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THE BEATLES - GOLDEN SLUMBERS, CARRY THAT WEIGHT, THE END - A HISTÓRIA


Em 26 de setembro de 1969, os Beatles lançaram o LP Abbey Road (o 12º da carreira), cuja capa deu origem a muitas fantasias, entre elas a de que Paul havia morrido, pois era o único descalço e com a perna direita à frente, em contraposição aos outros três, quando atravessavam a rua Abbey Road, em Londres. Além dessas, havia outras “pistas” desnecessárias de citar neste texto. Mesmo sendo mentira, foi uma grande estratégia de marketing, pois o fato ajudou a alavancar as vendas. Fantasias à parte, o disco é composto por 17 faixas, entre elas as três que motivaram este texto. Quando do lançamento de Abbey Road, o grupo já começava a caminhar para o fim, e a última apresentação ao vivo tinha acontecido no telhado da gravadora Apple, em 30 de janeiro de 1969, com a canção Get Back.
 
No CD, relançado pela EMI Records em 1987, Golden Slumbers, Carry That Weight e The End, são as faixas 14, 15 e 16, respectivamente, mas elas foram gravadas de tal maneira que estão praticamente unidas como num medley, dando a impressão de que se trata apenas de uma canção, com pouco mais de cinco minutos de duração. É de Abbey Road também uma das canções mais lindas e famosas dos Beatles: Something, composta por George Harrison, em minha opinião, o melhor deles todos. Something foi a única música dos Beatles cantada ao vivo por Frank Sinatra, que a considerava a melhor canção de amor dos últimos 50 anos.
 
GOLDEN SLUMBERS – A canção original é de Thomas Dekker, contemporâneo de Shakespeare, e foi publicada pela primeira vez em 1600. O pai de Paul McCartney casou pela segunda vez e a filha Ruth estudava esta música ao piano. Paul viu a partitura, gostou da letra, mas não sabia ler notas. Compôs então sua própria música, usando os mesmos versos, que dizem haver um jeito de voltar para casa. Diz à pequena linda que durma, não chore, que ele vai cantar uma canção de ninar. Que sonos de ouro encham os olhos dela, sorrisos acordem-na quando ela levantar. Paul fez um vocal forte, para contrastar com a composição suave. Os Beatles tinham medo de parecer bonzinhos.
 
CARRY THAT WEIGHT – Dias pesados. Os Beatles tinham problemas com dinheiro e havia negócios nebulosos com o empresário Allen Klein. Rolava muita droga pesada, ácido (LSD), heroína, o que gerava certa paranóia. John vivia aos cochichos com o empresário e com Yoko, que desestabilizou mesmo os Beatles, pois John – que diziam ser o mais inteligente – se deixou levar. Paul, por sua vez, mais autoritário do que nunca, tentava controlar tudo. E George, que expunha todo seu ressentimento pela falta de espaço durante anos, principalmente como compositor. Apenas Ringo ficava na sua, pouco se manifestando. Aliás, sempre considerei Ringo o mais alienado e indiferente dos quatro (no bom sentido). A letra desta canção diz ao cara que ele vai carregar aquele peso por um bom tempo. Retoma a melodia de You Never Give me your Money (também de Abbey Road) e volta às cobranças e ressentimentos, dizendo que nunca deu ao outro seu travesseiro, apenas lhe mandou convites e, no meio das celebrações, desatou a chorar.
 
THE END – Foi escolhida para ser a última canção do LP Abbey Road, mas acabou não sendo. O fechamento do LP foi feito com Her Majesty, que é a canção mais curta dos Beatles (23 segundos). The End é considerada pelos fãs da banda como o epitáfio dos Beatles e já mostra a tendência progressista que dominaria os anos 70, com o raro e perfeito solo de bateria de Ringo (o único de sua carreira até então) e os duelos de guitarra dos outros três. Anos antes, quando Ringo chegou à banda substituindo Pete Best, e George Martin ainda não confiava nele, os outros perguntaram o que ele achava dos solos de bateria. Ele respondeu que odiava e os três se encantaram com a resposta de Ringo e com ele próprio. A letra é curta, diz que está tudo bem e pergunta à garota se ela vai estar nos sonhos dele esta noite. Conclui afirmando: “e no final, o amor que você leva é igual ao amor que você faz”. É uma equação matemática e também um dístico (máxima expressa em dois versos). A tradição de terminar uma história com dois versos em rima vem de Shakespeare, como no final da comédia “Tudo está bem quando acaba bem”, de 1602: “All yet seems well; and if it end so meet / The bitter past, more welcome in the sweet” (Tudo parece bem, sendo o fim doce / Que importa que o começo amargo fosse?).
 
Este medley (vamos chamar assim) teve outra gravação pelos próprios Beatles, mas sem o mesmo encanto desta constante no LP Abbey Road. No álbum (CD) “George Martin In My Life”, produzido por Giles & George Martin, o baterista inglês Phil Collins também a gravou, mas, apesar de ser um grande músico e do belo arranjo, não conseguiu chegar perto da magia da gravação original dos Beatles.
 
Referências bibliográficas:
- The Beatles – Letras e Canções – Elaine de Almeida Gomes & Leda Pasta – Lira Editora – 2004
- Arquivo pessoal do autor do texto
 
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