Um pra lá e Dois pra cá
Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, cujo centenário de nascimento está sendo celebrado este ano, deixou um grande acervo de música, num variado estilo. A prevalência é, sem dúvidas, retratando o Nordeste, notadamente o sertão, a partir de Asa Branca.
Não deixou também de mostrar certa esperteza, no modo Gerson, o de sempre levar vantagem. Numa de suas canções, ao propor a divisão de um bem com seu companheiro, imaginando-o não muito atento ao fraseado, dizia: “uma pra mim outra pra tu outra mim”, e assim sequenciando a contagem, de maneira que saía a dois por um.
Numa outra canção ele também tenta ludibriar seu parceiro de negócio, numa questão de troco: “se eu lhe dei vinte mil réis pra tirar três e trezentos, você tem que me voltar dezessete e setecentos”. E, enquanto o outro responde “é dezesseis e setecentos”, ele vai repetindo: “é dezessete e setecentos”. Não se trata aí de uma questão de ignorância matemática, mas de uma esperteza mesmo, onde facilmente pode suscitar dúvidas, quando não se atenta para o raciocínio.
O estilo sempre bem humorado do Rei do Baião, que levou para todo o Brasil a característica do nosso Nordeste, merece a nossa comemoração, com todas as honras, pelo que ele representou para a MPB. Ao prestar bem atenção para algumas das letras de seu vasto repertório, realmente podemos concluir que ele foi o nosso “Matuto Sociólogo”. Vale a pena analisar o sentido de cada expressão, colocando-a no devido contexto, considerando a época e lugar de sua vivência.
Aplausos ao nosso Rei.