A Central do Brasil

Andei nas ruas,

contei meus passos e as dobras que a calçada tem.

Gritei teu nome,

dobrei esquinas e na multidão não reconheci ninguém.

Vivi a tarde e a noite inteira

afinal, quem não vive frequenta o tempo de bobeira.

E eu fui muito mais além.

Espalhei meu sonho tóxico

Roubei a garota e a amante do próximo

Te fiz promessas

e te vendi falsas esperanças.

Dei bala e carona estranha ao teu filho

Mudei a direção da idéia que arranhava o trilho

Ensinei crianças como se fosse adulto

e agora elas separam sílabas batendo palma

quase que como se pedissem comida

Comprei com silêncio o som da vida.

Você deita a noite cansado e aflito

Sabendo que toda ideologia é um partido político

E se sente, bela e fera ancestral

a mistura de qualquer macaco com neanderthal

todo meio errado de se mudar destinos

com a vergonhas nuas igual teus primos.

Você homo sapiens duplo,

hetero, branco, católico, viril e sexual

que muda direções com a sua teoria da simpatia social,

se acha esperto, de terno, engravatado, bonito e correto.

Vai pro serviço e acha que sabe de tudo, eu sei.

Protege o rabo e brinca de criar lei

e no final do dia julga quem deve.

E nos viadutos, caminhos submersos dos pedestres

se mostram as cavernas, com seus grafites rupestres

avisando sobre a nova propaganda eleitoral.

Comprei meu pedaço de céu nessa terra de ninguém

onde os asfalto faz progresso, e o Estado diz amém.

Mais cuidado criança, bicho papão, aqui sai do armário

e a Central do Brasil é só um atalho.

Pablo Pizzatto
Enviado por Pablo Pizzatto em 09/06/2012
Código do texto: T3713790
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