Alvorada musical, missa e confusão

Fato curioso nos idos de 1940

O acontecimento foi uma realidade e ocorreu com a Orquestra Otaviano em Croatá, na Serra da Ibiapaba-CE, tendo músicos de São Roque, no episódio.

Lá pelos idos do ano 1940, a Orquestra Otaviano, primeira banda existente na região, formada por João Otaviano, foi sempre dotada de muito prestígio e adoração por onde se apresentava.

Em certa ocasião a Orquestra foi tocar uma festa no lugarejo chamado Campo da Cruz no Distrito de Inhuçu – Guaraciaba do Norte (cidade que chamava-se Campo Grande, naquele tempo). Detalhe: todos os músicos foram a pé, pois transporte motorizado era muito difícil na região e nem todos tinham condições de possuir um animal de montaria para deslocamentos.

A cidade Croatá estava em festa, aconteciam as Santas Missões (festejos religiosos). Depois da apresentação no lugar Inhuçu, já tarde da noite quando os componentes da Orquestra Otaviano retornaram, caiu uma forte chuva no itinerário já na localidade chamada Várzea dos Espinhos. Continuaram a caminhada estradeira mesmo assim, pois evidentemente precisavam chegar e já estavam perto.

Quando chegaram ao Croatá, de madrugada, molhados e os instrumentos musicais também, lá por volta das 03 horas da madruga, tiveram a boa intenção de animar o lugar, já que o momento era de festa. Resolveram então, entre si, que a Orquestra iria tocar umas três valsas no patamar da Igreja, como sendo uma festiva alvorada. Francisco José de Lima – o Chiquinho Gaspar, pediu a todos os músicos pra não fazerem barulho pois não deveriam acordar os moradores das casas mais próximas, até que iniciassem os primeiros acordes musicais.

Seria uma surpresa com muito gosto presentear com músicas, os moradores naquela tranquila e fria madrugada. Já bem cedo começando a clarear, por volta das cinco horas da manhã, após tocaram as três músicas, os integrantes foram descansar, pois ainda estavam molhados e muito cansados da viagem que fizeram ao lugarejo Campo da Cruz. Horas mais tarde, após o café da manhã, todos já refeitos do cansaço, se dirigiram então para a Igreja, pois as oito horas iria começar a celebração da missa. Durante a missa, na hora do sermão, (discurso religioso) o Padre Antonino Cordeiro Soares, meio que exaltado, proferiu de surpresa a seguinte expressão:

__Aqui chegaram meia dúzia de homens sem vergonhas, acordando o pessoal em suas casas.!

Naquele instante, nem os fiéis nem os músicos entenderam nada do que o Pároco havia falado, e

todos ficaram desapontados e constrangidos com as palavras de mal gosto. Diante disso, os componentes da Orquestra abandonaram imediatamente o recinto da Igreja. Chiquinho Gaspar, que tocava Sax alto e Clarinete, também exercia a função de maestro e coordenador da pequena Orquestra, homem educado, seguro, corajoso, respeitado, admirado no seio familiar e bem quisto pela sociedade, logo ficou chateado com tamanha surpresa. Jamais ele admitia desaforos.

Após as desavenças do religioso e quando os companheiros da Orquestra saíram um para cada destino diferente, Chiquinho Gaspar se retirou da Casa de Deus e foi direto à uma Bodega. Lá, muito esquentado com a situação, pediu e bebeu uns bons goles de cachaça, arregaçou as mangas da camisa e retornou pra igreja com um punhal nas mãos. Muito furioso, queria golpear o Padre ainda no altar, pois a missa ainda não havia terminado.

Porém, a suposta ocorrência delituosa só não se concretizou porque na porta da igreja ele foi contido pelo seu cunhado, João Otaviano (fundador e músico da Orquestra – tocava Harmônica), caso contrário uma agressão tamanha contra o padre, na certeza, teria acontecido. Ao se aproximar da hora do meio-dia, Chiquinho Gaspar foi almoçar e ainda permanecia, naquele horário, bastante enfurecido pelos motivos evidentes.

A notícia corria pela cidade, praças, bodegas, mercearias, residências, ruas, assim como um grande acontecimento inusitado da época. Não se dado por satisfeito, após o almoço, Chiquinho Gaspar dirigiu-se mais uma vez a outra bodega, esta agora pertencente ao Sr. JOÃO ARGEMIRO, e naquele estabelecimento, continuava chateado e fervoroso com todo o episódio. Não admitia o causo e ao mesmo tempo defendia, sobremaneira, os amigos músicos da banda. Como se não bastassem tantos aborrecimentos, Chiquinho Gaspar ainda teve que botar um “cabra”, bebedor de “pinga”, pra correr de bodega a fora, por ainda estar fuxicando sobre o mesmo assunto.

A verdade é que, sem aparentes motivos, a beleza do que seria o concerto à claridade rósea que iluminava a serenidade sertaneja da Serra Ibiapaba, com alvorada musical e missa, acabou tornando-se desalento e confusão.

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Em 15/07/2008, por ANÍBAL RIBEIRO DE OLIVEIRA – Violão e banjo da Orquestra Otaviano (genro de Chiquinho Gaspar) e Edmilson Otaviano Gonçalves (Sanfona), filho de João Otaviano. Adaptação de Texto: "George" A. Oliveira "Lemos", filho de Aníbal, primo de Edmilson, sobrinho-neto de João Otaviano e neto de Chiquinho Gaspar.

George Lemos
Enviado por George Lemos em 24/02/2012
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T3516529
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