O Papel da Percussão.

Engraçado como os nossos interesses são dispersos em determinados momentos e expansivos em outros. Talvez não seja uma regra, mas, falo por mim. Sempre tive certa paixão pelos instrumentos de percussão, entretanto, nunca os via como componentes efetivos de uma orquestra. Não observava (exemplificando), que se todos os outros instrumentos tocassem e a bateria parasse; a música não perderia seu encanto, mas, ao mesmo tempo desencadearia em quem estivesse ouvindo a sensação de que o corpo da melodia não estava completo, faltando, talvez, um braço, ou uma perna...

Como passei a me interessar por essa parte específica da música, sou alguém suspeito para dizer se a percussão é tão importante quanto o piano, o violão ou a acordeão. Se formos olhar pelos princípios básicos, posso dizer, sem medo de errar, que a percussão é apenas um apêndice, ou se fomos comparar a um filme, seria mera coadjuvante. Outro ponto importante: o executor de um instrumento de percussão pode não saber tocar violão e, mesmo assim, ser alguém importante no contexto das notas musicais, porque irá dar-lhe marcação, ritmo e poderá influir na melodia e no arranjo da música. Em todo caso, trata-se de um executor dispensável, já que a essência musical se extrai das notas e não do ritmo.

Entretanto, a percussão é motivo de muitos aplausos no mundo todo. Evelyn Glennie (percussionista) encerra uma faceta pouco comum no mundo da música, pois, mesmo sendo surda, desenvolveu a arte da percussão com base nos sentidos. Ela sentia nas solas do pé o ruído dos tambores ou de qualquer outro instrumento dessa natureza. Hoje tem uma carreira globalmente conhecida. Foi a primeira percussionista solista profissional do mundo. Encomendou mais de 150 obras, às quais acabou naturalmente ligada. O seu currículo aponta ainda outra importante estreia: foi a primeira figura da música clássica a ter um site na Internet. Fatos que, muitas vezes, quase suplantam o fato de ter perdido a audição aos 12 anos. Colabora com diversos projetos de beneficência destinados a apoiar deficientes auditivos e jovens músicos. Muitas vezes Evelyn Glennie tem explicado que a surdez é mal compreendida. Ao longo da vida aprendeu a "ouvir" com parte do corpo que não os ouvidos. Toca habitualmente descalça, assim podendo "sentir" a música.

A partir desse exemplo de superação, fica a mensagem humana para todos aqueles que tenham interesse nessa área. Quem quer aprender deve se esforçar e buscar ajuda em profissionais que atuam nesse ramo. Não pensem que a percussão é algo que se aprende apenas no chamado “ouvido”. É claro que a audição é melhor dos trunfos para quem quer aprender. Não é nada fácil fixar o sentido num relance da música que poderia passar desapercebido àquele ouvido que se apaixona pelos instrumentos de notas musicais. Acostumamos a perceber a percussão como um elemento secundário da música e muitas vezes não a notamos como deveríamos.

Entretanto, a percussão, em consonância com os instrumentos musicais (com notas) devem ser estudada e compartilhada com a técnica, visto que também engloba essa necessidade, já que os tons são discernidos através de partituras. Quem estuda a música como arte, há de observar que a percussão exige o estudo dos ritmos que são divididos em escaladas, em compassos e, em tempos, sobre os quais o executor deve ter dois tipos de habilidades: a) coordenação motora e; b) receptividade auditiva da melodia.

Quando tive a primeira aula sobre percussão fiquei intrigado com o fato do professor ter trazido consigo uma caneta e um caderno de anotações. Achei que ele ia assumir o instrumento, para mostrar as formas das batidas de forma que eu fosse aprendendo cada uma delas. Isso também foi necessário, é claro, mas, o principal foi a mostragem dos símbolos, pois, ele me ensinou que é necessário escrever a percussão. Ficando ela escrita, toda vez que o aprendiz desejar treinar é só fazer a leitura e ir executando aquele ritmo. Isso é necessário para a atividade motora e também para o desenvolvimento das particularidades de cada ritmo.

Assim, quando um percusionista profissional vai trabalhar com um grupo musical pela primeira vez, ele recebe escrito o ritmo da melodia. A partir da leitura que faz, desenvolve a música que irá tocar. Isso, evidentemente, ajuda-lhe a reduzir o número de ensaios.

Está aí, uma pequena ajuda deste escritor que, além de gostar das letras (das palavras e frases), gosta, também, de falar sobre percussão, porque, através do seu cajón vem aprendendo (um pouquinho) dessa arte e com isso tem ajudado aos amigos das notas musicais, tornando os momentos de lazer mais ritmados e mais alegres.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 28/04/2011
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