Anos de Silêncio - Réquiem para a MPB
Nasci no sertão. No árido solo do cariri paraibano. Acordei para a vida ao som do aboio dos vaqueiros nordestinos, das cantorias e das violas repentistas. Violas enluaradas. Violas da serra do Teixeira, vizinha ao vale do Pajeú, celeiro de poetas. Ali, como diria Patativa do Assaré, pra onde você olha tem um verso se bulindo. Diria eu: pra onde você olha há um plangente acorde de viola a soar.
Nada entendo de música. Quer dizer, de fazer música, o que não significa, necessariamente, que não saiba reconhecer a boa música. Não! O primeiro contato que tive com o mais sublime dom natural que o Criador legou a seus filhos, foi aos treze anos, num internato franciscano. Conheci, naqueles verdes anos, os belíssimos cantos gregorianos. Já à MPB, da qual sou incondicional admirador, fui apresentado no Rio de Janeiro, no início da década de 70. À época também conheci Bethoven, Mozart, Bach – Johann Sebastian Bach.
Voltando à MPB, tínhamos, egressos dos grandes festivais: Chico Buarque, Milton, Jair Rodrigues, Betânia, Gal, Caetano, Vandré, isso, só para citar uns bons exemplos. Tínhamos ainda os maestros e maestrinas Vinícius, Tom, Elis, Elizeth, Ângela Maria, Caimi, Nelson, Cartola e por aí afora... Surgiam então os Secos e Molhados. Simplesmente fenomenais. Um pouco mais adiante surgem Fafá de Belém, Simone, Tim Maia e a nata da nordestinidade nas figuras do Fagner, Belchior, Gonzaguinha, Zé Ramalho, Elba, Alceu, João do Vale, Geraldo Azevedo, Nando Cordel... precisa mais?
Estivemos no último domingo em um clube da capital goiana, eu e minha esposa que é regente, portanto, entende de música, e deparamo-nos com um exímio jovem intérprete da MPB – voz e violão. Ao final de um bom tempo, depois de executadas várias músicas, me chamou a atenção o fato de não ter ouvido nenhuma cpmposição que não tivesse menos de vinte anos de idade. Então, chegamos a conclusão que o rapaz não tocou nenhuma música menor de vinte anos, porque simplesmente, nesse período, boa música não existe. E se existe, é coisa muita rara.
Já que é época de carnaval, pergunto: qual o último grande samba-enredo que o povo cantou? Você se lembra? O último que eu lembro é “Vai Passar” de Chico Buarque. Grande Chico Buarque! Como é que se consegue colocar a palavra paralelepípedo em um samba? E o mais impressionante. Faz sucesso e o povo canta! Tem que ser bom! Tem que ser do ramo! E na MPB? Qual o sucesso mais recente que cantamos na mesa dos bares? Ou que pelo menos lembramos da letra, ou a solfejamos? Sinceramente, em minha modesta opinião, neste milênio, que já anda pelo seu décimo primeiro ano, apenas os Tribalistas/Mariza Monte, Paula Fernandes e prometendo, a Maria Gadu, salvo estas honrosas exceções, não lembro mais de ninguém, não! Não lembro que alguém tenha trazido alguma contribuição, não. Quando falo em contribuição, falo de música que atravessa fronteiras, década, século, milênio.
Será que está faltando música ou serei eu que sou muito exigente? Acho que não! Acho que quando se tem uma “Eguinha Pocotó” nas paradas de sucesso, - 1ª década do milênio - ou ainda, quando se tem saudosa memória de um “Mamonas Assassinas”, - anos 90 -, musicalmente falando -, é que, realmente, está faltando música. Então, diante disso, não podemos esperar que do nada surjam Vinícius, Caimis, Chicos ou Elis...
Quando será que voltaremos a fazer a autêntica MPB? Quem nos salvará?