PIXINGUINHA, UMA GRATA EXCEÇÃO.
“Digo, por experiência própria, que uma boa audição de Pixinguinha é capaz de curar doenças. Sempre que estou triste ou angustiado, me acomodo na poltrona, escuto seus choros e meu estado de espírito se modifica completamente”, Paulinho de Viola. (BRAGA, 1995, P. 8).
Alfredo da Rocha Viana Júnior, o Pixinguinha, (23/04/1898~17/02/1973), ascende socialmente por um viés muito improvável ao negro do início do século XX: a erudição musical. Não que tenha enriquecido financeiramente, como disse Hemínio Belo de Carvalho no prefácio de O Lendário Pixinguinha: “... se vivesse em outro país qualquer que não do terceiro mundo, por certo não morreria tão pobrezinho como morreu”. Na verdade Pixinguinha viveu uma vida simples, mas de muitos reconhecimentos e respeito por amigos e admiradores, como demonstrou Vinícius de Moraes no “Samba da Benção”, “À benção, Pixinguinha, tu que choraste na flauta todas as minhas mágoas de amor”, em uma inusitada homenagem que recebeu dos amigos 1963, no Bar Gouveia, na Travessa Ouvidor, local que considerava seu “escritório”, pois era freqüentador religiosamente de 2ª a 6ª, das 10 às 12 horas: uma cadeira cativa e uma placa de prata. (AFONSO, 1991, P. 94).
Silva, ao falar dos “sem futuros”, os afro-brasileiros das favelas e periferias, profetizados pelo compositor Nelson Sargento, que só poderiam ser salvos pelo futebol ou pela arte, cita o também compositor Hélio Turco: “Também as artes exercem essa função redentora: Aleijadinho, Caldas Barbosa, José Maurício Nunes Garcia, Machado de Assis, Lima Barreto, Pixinguinha, Cartola e tantos outros fizeram-se famosos por meio das mesmas” (2003, p. 9).
Pixinguinha começou a tocar cavaquinho aos nove anos, aos treze bombardino e logo em seguida ganhou uma flauta italiana do seu pai, que também tocava esse instrumento, aos dezessete fez seus primeiros arranjos para a Casa Faulhaber, e aos dezenove já gravava para a Casa Edson e aos vinte e três anos montou um grupo para atuar na sala de espera do Cine Palais, esse grupo mais tarde se tornaria os “8 Batutas” que nos anos de 1921 e 1922 atuaria com enorme sucesso na França no “Sheherazade”, patrocinados pelo milionário Arnaldo Guinles. (BRAGA,1995).
Por muitos anos teve um cargo de grande influência e que só poderia ser ocupado por alguém de muita competência: diretor-orquestrador da RCA Victor. Cargo que assumiu partir de 1929, na RCA Victor também atuava o grande maestro e compositor Radamés Gnattali, ali revolucionou a forma de fazer arranjos no Brasil, suas instrumentações suntuosas com clara influência americana, que iram predominar até a chegada da Bossa-Nova no ano de 1958, que partindo de uma noção de contracultura, passa-se a primar por arranjos mais comedidos.
Pixinguinha, por ter nascido em uma família de classe média, teve acesso a uma boa formação musical, que aliada ao seu talento, rendeu-lhe notoriedade nacional e legaram ao Brasil mais de mil composições e uma marca indelével na história da nossa música através dos seus arranjos musicais.