SÍNCOPE: UMA EXPRESSÃO ATEMPORAL
Na segunda metade da década de 1950, uma nova experiência baseada na síncope mudou para sempre a música brasileira, tornando-a conhecida mundialmente: a Bossa-Nova. João Gilberto começou a fazer observações e experimentos a partir da forma de interpretar de alguns músicos, como diz Rui Castro: “A batida de Johnny Alf ao piano e, principalmente, a de Donato ao acordeão – como ficaria aquilo no violão?...” (Castro, 1990, p. 147). João percebe que poderia criar uma nova base rítmica, a partir da forma sincopada de tocar de Alf e Donato, e é isso que acontece. Depois de passar alguns meses recluso em Diamantina, onde com muita disciplina levou a cabo seus estudos rítmicos, volta ao Rio de Janeiro com o que ficaria conhecida como “a batida da Bossa-Nova”, que iria surpreender a todos por sua modernidade e descontração, como diz Castro: “O susto de Tom (Jobim) ficou reservado para o momento em que João Gilberto pegou o violão e o apresentou a “Bim-bom” e “Hô-ba-la-lá” (Castro, 1990, p.167). Tom percebeu imediatamente que estava ali a saída para a monotonia em que a música brasileira passava naquele momento. “Aquela batida era uma coisa nova, produzia um tipo de ritmo que cabiam todas as liberdades que quisesse tomar”, (idem).
Como já disse, a síncope é atemporal, não envelhece, é incólume aos modismos. Nas suas infinitas possibilidades, no seu “faz que bate mas não bate”1, estará sempre “incomodando” os adeptos da mesmice, estará sempre despertando no corpo, a vontade de dançar. Se a síncope tivesse que ter outro nome, este certamente seria: liberdade.