SÍNCOPE: FAZENDO A DIFERÊNÇA
A síncope (também chamada de sincopa) é um diferencial do samba em relação a outros ritmos, ela causa a “descontinuação” da seqüência rítmica, rompe com a constância. E acontece, quando se desloca a acentuação, ou seja, uma nota que normalmente soaria em um tempo fraco é acentuada soando forte, provocando assim uma sensação de algo inesperado. Muniz Sodré em “Samba o dono do corpo” diz: “A síncope é uma alteração rítmica que consiste no prolongamento de um som de um tempo fraco num tempo forte” (1998, p.25). O uso da sincopa para Sodré também foi uma forma de resistência: “Era uma tática de falsa submissão: o negro acatava o sistema tonal europeu, mas ao mesmo tempo desestabilizava, ritmicamente, através da síncopa ...” (Sodré 1998, p.25).
A aparição da síncope em ritmos como o samba e o jazz é reconhecidamente derivada dos ritmos africanos. “A presença da [síncope] nas Modinhas Anônimas do Brasil demonstram que, possivelmente, o Brasil foi a primeira colônia do Novo Mundo a desenvolver a síncope característica em seu contexto musical popular”, (Cansado, 1999, p.7). Seu uso no samba talvez possa explicar a preferência adquirida por esse estilo musical em relação às demais possibilidades, como: lundu, maxixe, polca e outros, como disse Donga: “Eu tinha conseguido abrir caminho para o samba. E esse logo se impôs com a sua característica essencial, que é o ritmo sincopado, distinguindo-se de parentes mais próximos, por exemplo, como a marcha” (Sodré, 1998, p.74). De certo, a sincope rompe com a mesmice e a sensação de monotonia. Ainda Sodré: o último, o tempo fraco, que parece faltar, mas que instiga o ouvinte a dançar, a completar a ausência da marcação com o corpo. (Pio, 2007, p.1)