Os Cancionistas
O que leva alguém a sair por “mares nunca dantes navegados”? Ou esculpir a Pièta? Ou sair por aí com doze seguidores pra fazer uma revolução permanente?
A elaborada psique humana seria a resposta mais próxima? Talvez.
Eu conheço um grupo assim. Eles não são quixotescos em seu afã. Simplesmente eles mantêm viva uma manifestação brasileira tão apaixonante quanto o futebol. O Chorinho.
Pura nostalgia? Sim, por que não? O prazer é nostálgico.
Leandro Narloch descreveu em Guia do Politicamente Incorreto da História do Brasil quanto o Chorinho foi massacrado pelo Estado Novo em prol de uma música “mais folclórica e ufanista”.
Como diria Veloso, ridículos tiranos esvanecem, Carinhoso se eterniza.
Clube do Choro de Santos (www.clubedochoro.org.br), liderado por Marcello Laranja, navega por esses mares melódicos, deixando uma esteira de doces lembranças como uma canção de ninar, cantada por nossas mães.
Em 30 de Julho, no centenário Theatro Guarani da cidade de Santos, o Clube do Choro de Santos homenageou Pedro Walde Caetano.
Casa cheia. Cabelos prateados que lembravam suas belas juventudes, se deleitavam à expectativa do espetáculo. Cristina Caetano, a filha, com seu suave sotaque mineiro-carioca, nos encantou com seu carisma. Marcello, indefectível Mestre de Cerimônia, nos brindou com lendas e histórias sobre o O Homem de Terno Preto. Foi pujante até no antipragmatismo. Se a alma não é pequena (Valha-me Bandeira!) a verdade é dita. Assim é Marcello.
Os músicos... ah! Os músicos! Fariam de Paganini à Dimeola botarem a viola no saco.
O quarteto de gorjeio interpretou cada canção como um quadro de Lan ou de Carlos Esteves. Os panamás de abas curtas deixavam mais charmosos o duo masculino. As cantantes, que a certo momento parecia que iam se transformar em cabrochas, deixavam apenas uma atmosfera diáfana com o acalanto de suas vozes.
Nessa noite, alguns fizeram uma multidão feliz.
No estacionamento, esperando por seus carros, os cabelos prateados cantarolavam “É com esse que eu vou sambar até cair no chão”.