NÃO CURA, MAS SOLUCIONA...Diálogos, reflexões e respostas ao PREZADO POETA JCOELHO...🤹💤🤹💤🤹

NÃO CURA, MAS SOLUCIONA...🤹💤🤹

Houve época em que a Psicoterapia de Grupo era muito utilizada na “Paulicéia Desvairada”. Existia uma clínica muito badalada que funcionava nas proximidades da esquina famosa, Avenida Paulista com Rua Augusta.

Participava de um desses grupos: Roberto, mestiço de imigrante irlandês com paulista de Peruíbe, cidade litorânea com características físicas que demonstravam sem moderação sua ancestralidade indígena; e Mariana, neta de filhos de imigrantes alemães.

Roberto apesar de ter entrado no grupo bem depois de Mariana falava demais sobre seus grilos e fantasmas. Mariana era muito mais ouvinte, até parecia estar ali não como assistida, mas como psicanalista em treinamento.

Por este comportamento aberto, transparente, em poucos meses todos vieram ter acesso ao perfil de Roberto: muito bonito, inseguro, violento, com dificuldades muito grandes de relacionar-se tanto com o pai, quanto com a mãe que tinha enurese noturna com frequência, e nas saídas do grupo nos poucos minutos de superficial convívio rejeitava as investidas de Mariana.

Dois anos depois Mariana abandonou o tratamento sem que o grupo conseguisse dela traçar um perfil. Enquanto Roberto, depois de três anos saiu com alta dada pelo psicanalista, Dr. Antônio.

Passaram quase uma dezena de anos do encontro de Roberto e Mariana no grupo e o destino promove seu reencontro.

-Roberto há quanto tempo, continuas bonitão, exclama Mariana.

-Sim Mariana, tanto tempo, que já casei e tornei-me pai. E Mariana, curiosa, por querer saber do poder de cura da psicoterapia, indaga sobre se ele ainda fazia xixi na cama?

Roberto com a transparência de sempre, surpreende mais uma vez Mariana e lhe diz que sim. Somente que agora o problema não lhe incomoda e nem atrapalha. Inclusive que passou a dormir de fraldão, reduzindo, praticamente eliminando o trabalho com lavagens de lençóis, pijamas e cuecas.

-E tu Mariana, retribuindo-lhe o interesse.

E Mariana responde: quando soube de tua alta do grupo, entendi que foi teu comportamento de transparência aos grilos e fantasmas que te conduziu ao êxito. Retornei ao grupo e, te surpreendas, dois anos depois também tive alta.

Despediram-se em desejos mútuos de felicidades e numa certeza comum de que a psicoterapia de grupo fora uma das experiências mais ricas de suas vidas.

PS: A ideia inicial era contar uma piada curtíssima e muito conhecida que ironiza a psicanálise (o caso de a enurese noturna, protagonizado pelo Roberto). Entretanto, como gostaria de receber comentários de “recantistas” especialistas, em especial da poetisa e psicanalista Lélia Angélica (que desenvolve excelente e didático trabalho), sobre as afirmativas tanto a contida na piada, quanto as supostas pela crônica, que, também, incluiu a piada.

Se não for tudo justificado e explicadinho, quem narra não é virginiano...

Escrito pelo POETA JCOELHO.

Na sua página aqui no RL em crônicas.

NÃO CURA, MAS SOLUCIONA.

💥🗨💭💥💬🗨🗯💥💬🗨🗯💥💬🗨💥💬

Querido amigo, Poeta JCOELHO, achei muito interessante o tema e a sua crônica, "Não cura, mas soluciona", dando ênfase a algumas características do funcionamento de um grupo terapêutico de encontro, apresentando Roberto e Mariana como protagonistas.

JCoelho gostei muito da abordagem e das suas colocações valorizando a terapia de grupo, e contando-nos um pouco da problemática vivida por Mariana e Roberto, bem como alguns traços psicológicos do mesmo.

Penso que o objetivo de uma terapia de grupo não seria tanto "traçar um perfil " psicológico, mas o grupo todo ganhar com a troca de experiências e vivências; sendo olhadas, as nossas defesas vão sendo rompidas e começamos a entrar em contato com os nossos sentimentos mais íntimos, assim percebemos melhor as nossas necessidades e passamos a lidar melhor com os nossos dilemas, medos e conflitos.

Na escuta desenvolvemos mais a empatia,e percebemos que muitas vezes o nosso problema é "pequeno demais" diante do sofrimento do outro, crescemos e nos humanizamos mais na partilha desses sentimentos.

Normalmente em um grupo aberto as pessoas reagem às intervenções propostas de diferentes maneiras: alguns participantes podem resistir a falar das suas vivências e outros podem até falar de forma aberta, mais transparente como era o caso do Roberto que "falava até demais sobre os seus grilos e fantasmas".

Esse se sentir mais à vontade e falar mais de si vai acontecendo naturalmente, à medida que o facilitador inspira essa confiança e o grupo também esteja receptivo para esta acolhida.

Não temos elementos para discorrer sobre esse "falar demais sobre os grilos e fantasmas do Roberto" e nem cabe aqui interpretá-las. As falas são muito subjetivas e devem ser olhadas no contexto onde elas ocorrem, e mesmo para um observador atento elas também podem passar por inúmeras interpretações. É preciso cautela e muita sensibilidade para analisá-las.

Parece também JCoelho que o objetivo não seria tanto visar "a cura", pois isto em terapia muitas vezes gera expectativas altas demais para os pacientes.

Parece que o objetivo maior no grupo é proporcionar para cada participante uma tomada de consciência maior em relação as suas demandas, onde através da sua verbalização e na troca de experiências com o grupo ele passe até a redimensionar a forma que olhava para o problema. Assim, a pessoa vai ter um repertório melhor, mais funcional para si ao se observar e também ao olhar como agem outros integrantes do grupo.

Em "grupos abertos" o Psicoterapeuta pode ter mais dificuldades de harmonizar o grupo e estimular os mesmos a se envolverem com todos os participantes, haja vista a diversidade de demandas. Já em grupos homogêneos, como por ex. um grupo de idosos, grupo de adolescentes, de dependentes químicos, etc...o condutor pode conseguir um envolvimento e uma harmonização muito maior por algumas demandas serem pertinentes a todos.

No caso do Roberto parece que uma terapia pessoal e individual à parte, além da grupal, em muito o beneficiaria, pois os casos de "enurese" normalmente se relacionam com questões mais profundas, que seria até invasivo e nem caberia ser discutido abertamente em um grupo; o terapeuta pessoal teria condições de investigar e entender melhor essa problemática em questão.

Algumas características já elencadas no seu texto como ele ser agressivo, violento, ter dificuldades de se relacionar com os pais já demandaria uma terapia pessoal.

No caso da Mariana, ficou em aberto qual seria a sua queixa, temos poucas informações a respeito da sua problemática. Porém, parece que os anos da terapia, seu abandono e seu retorno novamente ao grupo foram benéficos, motivos da sua alta pelo facilitador.

Ah! JCoelho nem sempre a linha psicanalítica é a melhor para ser adotada nos grupos. Às vezes, outras vertentes como a terapia cognitiva comportamental , a terapia holística, a gestáltica podem trazer também muitos resultados, a escolha depende da linha teórica do facilitador e da problemática apresentada pelo grupo e suas particularidades.

JCoelho, a condução do facilitador é muito importante no sentido de que, se ele não tiver uma postura de neutralidade diante do grupo que ele conduz, ele pode "contaminar" e até "manipular inconscientemente " os seus membros. Por isso, muitos podem dirigir para outros fins os objetivos que não sejam interesses do grupo.

Por isso JCoelho, respondendo ao seu questionamento na minha página, há riscos sim para o grupo de intervenções mal conduzidas, onde o próprio facilitador não conduz o processo à luz das teorias científicas da Psicologia; quando o sigilo e a ética não são respeitados, quando o mesmo não se atenta às manipulações dos próprios membros do grupo, minimizando as rusgas e desavenças que podem ocorrer pelas próprias projeções dos mesmos em relação aos outros integrantes, quando o facilitador não se envolve e não inspira confiança no grupo, etc...

Espera-se dessa maneira que o facilitador seja flexível e esteja atento ao momento de fazer a mediação de conflitos, caso necessário.

O facilitador também não deveria atuar se estiver passando por muitos problemas pessoais, ele não vai conseguir estar inteiro e presente para o grupo como tem que ser; ele pode até projetar ou contratransferir sentimentos que são seus. E a partir desse "olhar enviesado", os prejuízos para o grupo podem ser imensos.

Penso também que ele não deve "interpretar", isso seria "falar pelo paciente ", tira a possibilidade da própria pessoa ter seu próprio insight, suas próprias descobertas. Ele deve encorajar e fazer o paciente "refletir sobre"...

Penso também que ele pode se mostrar mais humano e em alguns momentos mostrar essa proximidade externando os seus próprios sentimentos; isso denota empatia, acolhimento, presença...

💢🗨💥🗨💢💬💢🗨💥🗨🗯💢💥🗨💭🗨

JCOELHO, gostei muito da sua crônica valorizando a terapia de grupo, e quando as pessoas se motivam e o facilitador do grupo também é flexível e agrega as pessoas, o grupo se transforma e as pessoas saem mais confortadas , se conhecendo melhor, conhecendo mais as suas fragilidades e seus pontos fortes. E aumenta os recursos de enfrentamentos também!

Querido amigo JCoelho, espero ter tirado algumas dúvidas e pode ter certeza foi muito rica esta troca contigo e do quanto os temas afins nos aproximam e também a todos os leitores.

O tema é muito complexo, não daria para elencar todo o processo grupal aqui, em cada contexto é feita uma abordagem diferenciada, porém tentei trazer algumas informações básicas que norteiam o processo de grupos de encontro, respeitando a ética e todo o seu embasamento teórico.

JCOELHO, fica com Deus e que ELE te proteja sempre, a você e aos seus familiares!

Muita paz e muita luz a todos!!

💬💤🤗💤💥🤗💤💬

Lélia Angélica
Enviado por Lélia Angélica em 15/10/2024
Reeditado em 15/10/2024
Código do texto: T8173732
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.