COM OS MEUS OLHOS VENDADOS...Uma experiência em GRUPOS DE ENCONTRO...👩‍❤️‍💋‍👨✨️👨‍👩‍👦✨️👨‍👩‍👧‍👧✨️👩‍❤️‍💋‍👨

DE OLHOS VENDADOS. 👁👀

De olhos vendados,

Não ofereço resistência

Deixo-me ser guiada.

Que estranha sensação.

Um novo sentir,

Um novo caminhar,

Com passos incertos.

Preciso enxergar

Além,

Do que meus olhos vêem.

Através do tato,

Do toque,

Do odor,

Vou redescobrindo

Novas sensações.

De olhos vendados,

Fico receptiva

Ao aflorar

De outros sentidos.

Que agora

Se intensificam,

Se harmonizam,

E falam

Uma nova linguagem!.

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Aqui acontece um grupo de encontro onde o facilitador propõe que todos fiquem com os olhos vendados, e envolvam os braços em volta uns dos outros pedindo que vivam essa experiência naturalmente, para que depois possam relatar o que estão sentindo.

O grupo não é homogêneo, já caminham juntos há algum tempo e o facilitador tenta deixar as pessoas bem à vontade respeitando o tempo e o ritmo de cada um dos seus membros.

A princípio percebemos uma certa resistência para aceitarem a dinâmica proposta, porém aos poucos o grupo vai se organizando e espontaneamente fecham os olhos e procuram se aproximar entre eles.

Interessante perceber como é difícil de nomear todas as maneiras como expressamos os nossos sentimentos , através do toque, do tato , dos movimentos, pois cada participante possui as suas vivências e suas experiências em relação as suas trocas e ao afeto.

Sentimos que havia no grupo muita proximidade, alguns além de se apoiarem também estavam se abraçando entre eles; percebemos gestos muito espontâneos, mas alguns também apresentavam um certo incômodo, uma certa evitação; às vezes os movimentos eram bruscos como estivessem resistindo ou fossem obrigados àqueles contatos.

Em um determinado momento o facilitador pede para que o grupo faça uma condução livre. Notamos que alguns continuaram abraçados, alguns se soltaram e fizeram movimentos mais descontraídos, pularam, dançaram e foi muito prazeroso observar como tudo fluía da forma que vinha e acontecia; mas alguns definitivamente se isolaram dos demais.

Ane relata que para ela foi muito difícil esse contato inicial, pois na sua família nunca houve muito toque, carinho, o afeto nunca fora demonstrada dessa forma; conta que ela sempre teve tudo que queria, seus pais lhe presenteavam sempre, dizendo que se sentia amada por eles dessa maneira. Ela se emociona e o grupo respeita esse momento.

John, um jovem adolescente relata que se sente sempre muito tenso e inibido, prefere ficar longe dos abraços e dos sentimentos de proximidade, principalmente quando se sente irritado e com seus desejos sexuais aflorados achando que pode vir a ficar totalmente descontrolado.

Nesse momento, o facilitador se aproxima e em uma atitude de aceitação e empatia ajuda-o a compreender que o contato físico com as meninas não significa necessariamente ter envolvimento sexual. Com isso, o assunto foi discutido no grupo mostrando a ele também o quanto desta tensão acabava por distanciar as pessoas em volta dele.

Mário, um executivo, outro membro do grupo, a princípio irritava a todos por nunca se aproximar totalmente deles, ficava "na dele", às vezes com um certo ar de distanciamento e de superioridade. Conta que a experiência lhe proporcionou perceber a sua fragilidade e a sua dependência dos colegas e o quanto ele fica sem chão, sem apoio com os olhos vendados.

Relata que viveu uma experiência maravilhosa ao sentir como fora importante esse contato físico e o acolhimento de todos do grupo.

Stela, dona de casa, relata que sempre foi muito insegura, e que sempre conviveu com muitos medos ao longo da sua vida. Conta que seus pais eram super protetores e ela nunca conseguia avançar com seus próprios passos e decidir nada sozinha.

Emocionada, conta que ao vendar seus olhos ela pode sentir e explorar outras formas de sentir e perceber que é possível caminhar mesmo na total escuridão; então agora embuída de mais coragem e determinação se sente mais confiante para enfrentar a vida, explorar novas possibilidades e decidir por si própria...

E Susy, cuidadora de idosos, negra, relata que sempre se sentia muito discriminada e sofria muito preconceito por conta da cor da sua pele; até encontrar o grupo onde fora acolhida por todos.

Acredita que o "fechar dos olhos" possa intensificar e trazer a reflexão de que a alma não têm cor e que devemos olhar para além das aparências, com os olhos puros de uma criança...

O grupo se sensibiliza e o tema preconceito foi retomado naquele momento.

E o Senhor Dorival, aposentado, sempre muito recatado pede para falar, e já não contendo suas emoções as lágrimas caem no seu rosto...

Vivendo o luto da sua esposa conta que guarda a sua última recordação vivida entre eles , o momento onde ela já se despedindo dele consegue ainda apertar a sua mão.

Mesmo em meio às lagrimas consegue falar desse momento tão difícil, contando que ela foi tranquila, com sua missão cumprida e que juntos foram muito felizes.

Nesse momento, o facilitador se apoia nele e chora no seu ombro e todos do grupo em prantos também o abraça e lhe consola...

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Queridos amigos, tentei trazer aqui um exemplo de uma dinâmica de grupo com uma vivência de consciência sensorial, embasada nos conceitos cientificos do Psicólogo Carl Rogers, onde através do toque, do estímulo do facilitador experimentados pelos participantes, acaba sendo muito terapêutico.

Cada pessoa acaba reagindo diferente a esses estímulos, assim também o grupo e o facilitador. Cada pessoa está em um estágio de vida diferente do outro, as demandas são diferentes, bem como carregam as suas vivências próprias e muitos estímulos trazem memórias e lembranças que para elas foram e continuam sendo muito significativas.

Percebemos que o facilitador evita fazer as suas próprias interpretações que pode constranger as pessoas, e ao deixar o grupo bem à vontade, mas atento as regras da sua condução consegue se aproximar genuinamente de todos.

O facilitador também se permite participar emocionalmente e externar os seus sentimentos, como por exemplo ao chorar com o Sr. Dorival; assim ele mostra ao grupo a importância de não negar os sentimentos espontâneos e fornece um modelo ao grupo_ de uma pessoa empática e partícipe também do processo. Todos ganham com isso e também acabam se sentindo confortados.

Com isso a ausência de defesas e a espontaneidade, não a indiferença é o que se realmente espera nos grupos de encontro.

Parece também que dinâmicas de consciência sensorial em muitos momentos trazem mais resultados que a própria verbalização. Frente a novos estímulos redescobre-se a importância do toque, do cheiro, da presença, do estar consciente e inteiro no aqui agora com o outro.

E como diz Carl Rogers, em Grupos de Encontro:

" Não há nada tão maravilhoso e tão maravilhosamente humano como ser apoiado, envolvido, amado. Sentir o calor e a sinceridade de outra pessoa. Dar, por sua vez, conforto, força. As palavras podem enganar, por vezes; mas um abraço_a verdade é transmitida por algo mais do que o som...".

Do livro: Textos de Psicologia.

GRUPOS DE ENCONTRO.

Autor: CARL R. ROGERS.

Lélia Angélica
Enviado por Lélia Angélica em 06/10/2024
Reeditado em 07/10/2024
Código do texto: T8167359
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