OS 7 ELEMENTOS DA TEXTUALIDADE

 

Às vezes, ao caminhar pelas ruas, sou tomado por um pensamento quase obsessivo: tudo ao meu redor é texto. A placa da farmácia que se destaca no meio do quarteirão, o jornal amassado no banco da praça, as conversas que capturo no ar. Cada elemento, cada palavra, parece compor um mosaico de sentidos que se entrelaçam, formando a grande narrativa do cotidiano. E eu, como professor de português, não consigo evitar de me perguntar: o que faz com que todas essas informações se transformem em texto?

 

Para início de conversa, um texto não é apenas um amontoado de palavras. É uma unidade de sentido. Ao escrever ou falar, não jogamos palavras ao vento, mas as organizamos de maneira intencional, com o objetivo de comunicar algo. Essa organização consciente, esse processo de dar forma ao que pensamos e sentimos, chamamos de textualização. O ato de textualizar é, portanto, moldar o pensamento em linguagem, escolhendo os elementos certos para expressar o que queremos, de forma que o outro possa compreender.

 

Dentro desse processo, existem sete elementos essenciais que garantem que o texto funcione. O primeiro deles é a coesão, que se refere às ligações gramaticais entre as palavras, as frases e os parágrafos. É ela que dá fluidez ao texto, criando pontes que unem as ideias, como uma cola que mantém tudo no lugar. Sem coesão, o texto se fragmenta, perdendo seu ritmo e sua unidade.

 

Já a coerência vai além da forma, concentrando-se no sentido. Um texto coerente é aquele cujas ideias se inter-relacionam de maneira lógica e fazem sentido dentro de um contexto específico. A coerência é o que nos permite seguir o raciocínio de um autor ou de um interlocutor, garantindo que as partes do texto formem um todo significativo.

 

Intencionalidade é outro elemento chave. Todo texto carrega uma intenção, explícita ou implícita. Ao escrever ou falar, buscamos alcançar um objetivo, seja ele informar, convencer, entreter ou emocionar. A intencionalidade orienta nossas escolhas linguísticas, determinando o tom e a estrutura do texto.

 

A aceitabilidade, por sua vez, está relacionada à expectativa do leitor ou ouvinte. Um texto só é bem-sucedido quando atende às normas e convenções sociais, sendo aceito como válido dentro de um determinado contexto. Se eu escrevesse este texto de maneira caótica, ignorando regras gramaticais e de lógica, certamente ele não seria bem aceito por você, leitor.

 

Outro ponto crucial é a situacionalidade, ou seja, a relevância do texto para o contexto em que ele é produzido e recebido. Um bilhete deixado na geladeira, por exemplo, faz sentido naquele contexto doméstico, mas seria irrelevante se colocado em um outdoor na cidade. O significado de um texto está, portanto, intimamente ligado ao seu contexto situacional.

 

Além disso, temos a informatividade, que diz respeito à novidade ou à quantidade de informações que o texto oferece. Um texto precisa ser capaz de transmitir algo novo, ou pelo menos apresentar uma informação de maneira interessante e instigante. Se eu repetisse o óbvio ou o já conhecido, provavelmente perderia sua atenção.

 

Por fim, há a intertextualidade, que é o diálogo entre textos. Nenhum texto existe de forma isolada; ele sempre se relaciona com outros textos que vieram antes ou que serão escritos depois. Quando escrevo sobre textualidade, não estou apenas compartilhando minhas ideias, mas dialogando com uma tradição de estudos e reflexões que já existe. Cada palavra carrega em si ecos de outros discursos.

 

Enquanto termino minha caminhada pelas ruas, percebo que todas essas placas, conversas e fragmentos ao meu redor não são apenas informações dispersas. Elas são textos em potencial, esperando para serem lidos e interpretados. E eu, com meu olhar de professor, não consigo evitar de ver, em cada esquina, os elementos da textualidade se desenhando como peças de um quebra-cabeça, formando a narrativa incessante do mundo.

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 16/08/2024
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